O erro do hacker

Luís Roberto Barroso e Zanin negam que ministro tenha orientado Dallagnol

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16 de fevereiro de 2021, 20h35

O hacker Walter Delgatti Neto, responsável que interceptou trocas de mensagens de autoridades pelo Telegram, afirmou nesta terça-feira (16/2) que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, era próximo do procurador Deltan Dallagnol e chegou a orientar o trabalho do ex-coordenador da "lava jato" em Curitiba. A declaração foi feita durante entrevista concedida ao jornalista Joaquim de Carvalho, do Brasil 247

O ministro, que sequer tem conta no Telegram, rechaçou: "Isso é absolutamente falso", disse à ConJur — "Eu não tenho medo da verdade, quanto mais da mentira". O advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente Lula e recebeu do STF direito de acesso ao material hackeado, confirma: "Do que li até agora, não há diálogo em que o ministro oriente o procurador".

Pelas petições levadas pela defesa de Lula ao STF até agora, Dallagnol, nos chats do Telegram, copiava e colava mensagens de outras origens para informar seus colegas. O ministro teria solicitado ao procurador informações e esclarecimentos para fundamentar seus votos, mas não orientado Deltan.

Reprodução/TV247
Hacker Walter Delgatti disse que Dallagnol e Barroso eram bastante próximos
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Segundo Delgatti, "[Barroso] orientava [Dallagnol], inclusive era como se fosse um conselheiro. Ele [Dallagnol] contava o que estava acontecendo e pedia opiniões. Ele perguntava o que fazer, o que pegar de jurisprudência, como convencer o juiz do Superior Tribunal de Justiça. Inclusive, na época eles [os procuradores] pesquisavam muito a vida do relator dos casos do STJ, o Felix Fischer. Eles faziam uma análise de todas as decisões, do perfil, montavam uma peça encurralando e enviavam para a PGR". 

Ainda segundo Delgatti, Luiza Frischeisen, subprocuradora-Geral da República, contava aos integrantes do MPF no Paraná como estava o andamento dos processos da "lava jato" nas instâncias superiores. Os procuradores de Curitiba não podem atuar no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. 

"Ela conseguia o que estava acontecendo e vazava para eles. Os processos disciplinares [de Dallagnol], ela enviava antes de chegar por meio oficial", contou. Ainda segundo o hacker, a "lava jato" em Curitiba buscava informações sobre magistrados do TRF-4, STJ e STF. O objetivo era acuar juízes, desembargadores e ministros. 

"O TRF-4, eles tinham conquistado já, o difícil estava sendo o STF. O STJ também. O Fachin ajudou bastante. Aquele vazamento do 'aha uhu, o Fachin é nosso'… Eles tinham medo de quem seria o relator [da "lava jato" no Supremo]. Com essa notícia, eles ficaram aliviados, porque sabiam que teriam o controle", disse em referência ao fato de Fachin ter se tornado relator da "lava jato" após a morte do ministro Teori Zavascki. 

CNN
É a segunda vez que Delgatti menciona a proximidade entre Barroso e Dallagnol. Em entrevista concedida à CNN em dezembro de 2020, o hacker também afirmou que o ministro auxiliava o procurador. 

"O Barroso e o Deltan conversavam bastante. Inclusive, o Barroso, em conversas, auxiliava o que colocar na peça, o que falar. Um juiz auxiliando, também, o que deveria fazer o procurador", disse na ocasião. 

Consultado pela reportagem da ConJur, a assessoria do ministro negou as afirmações de Delgatti:

"O ministro Luís Roberto Barroso integra a Primeira Turma, e não a Segunda, que é a competente para julgar os processos da Operação Lava-Jato. Ele jamais orientou qualquer procurador acerca de qualquer processo relacionado à operação. A afirmação é falsa."

Luiza Frischeisen, por sua vez, informou que, no Conselho Superior do MPF, entre 2017/2021, "só houve um processo em face do Deltan", no qual ele foi absolvido e não dizia respeito à "lava jato". "Além do que, em PADs, o investigado tem acesso desde o início na COGEMPF".

"Sobre processos do STJ, são públicos; oficio em matéria criminal junto ao STJ, fui coordenadora de distribuição da PGRSTJ e sou integrante da Nucrim PGRSTJ; faz parte dessas funções promover integração entre instâncias do MPF e também com Ministérios Públicos Estaduais, assim como advogados de escritórios trocam informações entre si sobre processos em que atuam em instâncias diversas", completa.

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