Segunda leitura

Dez mandamentos para uma boa apresentação online

Autores

  • Vladimir Passos de Freitas

    é professor de Direito no PPGD (mestrado/doutorado) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná pós-doutor pela FSP/USP mestre e doutor em Direito pela UFPR desembargador federal aposentado ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Foi secretário Nacional de Justiça promotor de Justiça em SP e PR e presidente da International Association for Courts Administration (Iaca) da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e do Instituto Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário (Ibrajus).

  • Charles Giacomini

    é juiz federal em Itajaí (SC) mestre em Ciência Jurídica (Univali) especialista em Direito Público professor de Direito Econômico Direito Internacional e formação humanística na Escola da Magistratura Federal de Santa Catarina (Esmafesc) — onde também é membro do Conselho de Ensino — e professor de Direito Tributário em cursos preparatórios e pós-graduações.

18 de abril de 2021, 8h01

A tendência que se anunciava nos últimos anos foi confirmada: as exposições online vieram para ficar. Na verdade, é estranho pensar que poucos anos atrás havia grande resistência à realização de atos por meio virtual. Discutia-se, por exemplo, a adequação ao ambiente acadêmico ou a validade no ambiente judicial.

Spacca
Na Academia, bancas de mestrado obrigavam o professor a deslocar-se a cidades distantes, com grandes despesas para a universidade que convidava e, por três dias, o professor passava em viagens aéreas e tempo no hotel, sobrando um período para a banca. Timidamente, alguns passos foram dados em todo Brasil. Como exemplos, em 2017, o professor Ivan Lira de Carvalho, da UFRN, participou de banca na PUC-PR, a convite do professor Vladimir Passos de Freitas. E em 2018, o mesmo professor participou de banca na UFPB, a convite do professor Talden Farias. Apesar de muito recentes, estas experiências foram pioneiras.

No Poder Judiciário, a resistência sempre foi grande. Audiências com réus presos exigiam a presença física diante do juiz e o deslocamento com escolta policial. A depender do grau de prestígio do transportado na sua organização criminosa, um dispendioso esquema de segurança precisava ser montado, muitas vezes atravessando perigosas distâncias. Os prédios do Poder Judiciário reclamavam adaptações na sua arquitetura para o acesso de viaturas especiais diretamente às salas de réu preso, sempre sob o risco de um resgate cinematográfico pelos comparsas do crime.

A pandemia fez ruir a maioria das discussões teóricas. Provou-se que o rigor acadêmico não se perdeu e que a ampla defesa segue preservada. Mesmo a advocacia, que tanto precisa do fórum para exercer o seu papel constitucional, sinaliza que, em muitos casos, o acesso aos magistrados foi ampliado pela facilidade do meio. Em resumo, está claro que diversos atos são mais eficientes, seguros e econômicos sob a forma virtual e hoje ninguém mais cogita da possibilidade de um retorno completo aos moldes anteriores.

Isto significa dizer que novas competências precisam ser desenvolvidas. Já não é mais aceitável o comportamento de negação frente aos recursos tecnológicos. Quem não souber transitar com um mínimo de aptidão pelos espaços digitais ficará excluído naturalmente nas atividades do poder público ou do mercado. Além disto, enfrentará os constrangimentos típicos de uma apresentação pouco virtuosa.

E quais são essas competências que precisam ser aprimoradas?

Principalmente, é preciso aguçar os sentidos da visão e da audição, pois a comunicação digital é essencialmente audiovisual. Esta tarefa consiste, basicamente, em colocar-se no lugar do interlocutor, adotando as providências que estiverem ao seu alcance para melhorar a “experiência do usuário”.

Tudo isso será superado quando os hologramas tridimensionais forem popularizados, devolvendo em parte a sensação do encontro presencial, o que não deve tardar a acontecer. Até lá, algumas regras básicas podem valorizar muito a uma exposição, seja qual for a espécie de atividade. Vejamos:

1) Prepare-se para a apresentação. Faça contato prévio com a organização, tire eventuais dúvidas e, se necessário, realize testes. As dificuldades de última hora consomem o tempo alheio e sugerem insegurança ou desorganização;

2) Vá direto ao assunto. Evite saudações prolongadas, que estão em desuso. Dispense também explicações ou desculpas sobre detalhes irrelevantes, por exemplo, o barulho dos latidos do cachorro do vizinho;

3) Se for presidir os trabalhos, deixe abertos os arquivos que for compartilhar, a fim de não ficar procurando na hora; se houver outros expositores, habilite-os desde logo como co-host;

4) Posicione a sua câmera adequadamente. Evite deixar muito espaço acima da cabeça, pois isso cria uma sensação de achatamento. Mostrar um pouco do tórax valoriza a imagem e ajuda na linguagem corporal. Uma boa referência para o centro da tela fica entre o queixo e o nó da gravata;

5) Controle a iluminação. O vídeo segue o mesmo princípio da fotografia: é o resultado da luz existente. O seu rosto precisa estar claro e uma luminária com tripé pode ser de grande ajuda. Prefira lâmpadas de tonalidade fria, mais brancas, do que as de tonalidades quentes, mais amarelas;

6) Quando for possível, evite usar óculos. As lentes constituem mais uma barreira entre quem fala e quem escuta. Além disso, em razão da iluminação frontal do monitor ou de luminárias, podem causar reflexo indesejável;

7) Considere utilizar um microfone externo. Os modelos de lapela são de fácil instalação e manuseio. Caso não seja possível, descubra o local de captação do seu computador, certifique-se de que ele não esteja obstruído com papeis ou objetos e aproxime-se um pouco mais do equipamento. A distância pode gerar microfonia ou deixar a sua voz inaudível;

8) Mantenha o cenário limpo. O excesso de objetos ao fundo normalmente distrai a audiência. Caso esteja em uma situação improvisada, considere a aplicação digital de um fundo neutro. O programa Zoom possui configurações de vídeo com algumas opções, entre elas a habilitação do modo HD na sua câmera, originalmente desativado;

9) Utilize roupas adequadas. Evite o excesso de informalidade e estampas com motivos extravagantes, pois causam distração. Em especial, evite o uso de camisa ou blusa xadrez, que produzem efeito holográfico ao menor movimento. Peças listradas podem gerar semelhante problema;

10) Desative os sons paralelos. Se passar um carro barulhento, tudo bem. Mas a notificação constante de mensagens do WhatsApp durante a exposição é uma descortesia. Lembre que a versão Web deste aplicativo possui configurações para desativar sons. Se for uma ocasião mais importante, vale até pedir a compreensão dos familiares para que evitem a aproximação ou o uso de aparelhos domésticos, garantindo assim o profissionalismo do ato.

Estas são as nossas recomendações aos estudantes de Direito nas suas apresentações em aula, defesa de TCC, seminários, monografias, bancas de mestrado e doutorado. Aos advogados em suas reuniões, atuações em processos administrativos e judiciais, sustentações orais. Aos advogados públicos, defensores públicos e agentes do Ministério Público, em situações similares, especialmente em casos de composição amigável. Aos juízes, mais do que tudo, nas audiências ou sessões.

Os dez mandamentos não são imutáveis. Pelo contrário, acham-se em permanente construção, seja por conta da evolução da tecnologia ou em razão das mudanças das necessidades. Compartilhando-os com os estudantes e profissionais da área jurídica, estamos a praticar a solidariedade recomendada no artigo 3º da Constituição, saindo do discurso para a realidade. Boa sorte aos partícipes do "novo normal".

Autores

  • Brave

    é ex-secretário Nacional de Justiça no Ministério da Justiça e Segurança Pública, professor de Direito Ambiental e de Políticas Públicas e Direito Constitucional à Segurança Pública na PUCPR e desembargador federal aposentado do TRF-4, onde foi corregedor e presidente. Pós-doutor pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e mestre e doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi presidente da International Association for Courts Administration (Iaca), da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e do Instituto Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário (Ibraju).

  • Brave

    é juiz federal substituto na 3º Vara Federal de Itajaí (SC), professor da Escola da Magistratura Federal de Santa Catarina (Esmafesc), mestrando em Ciência Jurídica e coordenador do Centro de Solução de Conflitos (Cejuscon) na Justiça Federal de Itajaí. Foi Defensor Público do Estado de SC.

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