Frente democrática

Coalizão de 62 bancas vai lutar contra restrições ao voto nos EUA

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15 de abril de 2021, 10h48

Líderes de 62 das 100 maiores bancas dos EUA e 19 diretores jurídicos de grandes empresas formaram uma coalizão para denunciar — e confrontar na Justiça — leis estaduais que impõem restrições ao voto. Uma lei desse tipo já foi aprovada no estado da Geórgia. E projetos de leis semelhantes já estão sendo propostos em estados onde o Partido Republicano tem maioria nas Assembleias Legislativas e o governador.

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Essas leis visam ajudar o Partido Republicano a vencer futuras eleições. Elas buscam suprimir os votos de eleitores com poucos recursos e, principalmente, de eleitores negros. Foram esses eleitores que ajudaram o presidente Joe Biden a ganhar a eleição presidencial de 2020 e o Partido Democrata a conquistar maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, por pequenas margens em alguns estados.

Por segregar as pessoas negras, essas leis são consideradas uma reedição das "leis de Jim Crow". Tais leis foram promulgadas em estados sulistas no final do século XIX e começo do século XX, para criar a segregação racial em escolas públicas, transporte público e locais públicos, bem como em banheiros, restaurantes e bebedouros. “Jim Crow” era um nome que visava ridicularizar pessoas negras.

"Acesso igual ao voto é um direito fundamental nos Estados Unidos. Tornar o voto mais fácil, não mais difícil, a todos os eleitores registrados deve ser o objetivo de todas as autoridades eleitas. Leis eleitorais que impõem barreiras e obstáculos desnecessários ao direito de votar ou privam minorias do direito ao voto representam um retrocesso para todos os americanos", diz uma declaração dos signatários da coalizão.

De uma maneira geral, a lei da Geórgia e os demais projetos de lei incluem medidas como: exigência mais rígida de identificação ao votar pelo correio; redução do período para requerer a cédula de votação para votar pelo correio; extinção do voto pelo correio sem justificativa; limitação do número de caixas de correio dedicadas ao voto; redução do período de votação antecipada, proibição de votação no domingo (quando os negros saem da igreja e, estimulados pelos pastores, e vão às urnas na votação antecipada); e até mesmo criminalização da distribuição de alimentos e água nas filas de votação.

Além disso, elas mudam a composição do Conselho Eleitoral do Estado e expandem o poder das Assembleias Legislativas sobre as eleições. Nas eleições de 2020, algumas Assembleias Legislativas, em alguns estados em que houve disputa dos resultados, pretenderam substituir o resultado das urnas, que definiria a escolha dos delegados do Colégio Eleitoral, por uma escolha dos delegados pela própria Assembleia Legislativa.

Protestos e retaliação de grandes corporações
Na Geórgia, várias empresas de grande porte protestaram contra a aprovação da lei de supressão de votos, lideradas pela Coca-Cola e pela Delta Airlines, que têm sede no estado. Em todo o país, mais de 100 grandes empresas protestaram, com algumas ameaçando mudar sua sede para outros estados.

Além de Coca-Cola e Delta Airlines, formaram uma ação de protesto organizado: Apple, Microsoft, Cisco, Google, Facebook, Twitter, Bank of America, JPMorgan Chase, Citigroup, American Express, Merck,  Zillow, Uber, Lyft, Abercrombie & Fitch Co., Etsy, Reddit, Snap Inc., Salesforce, ViacomCBS, Patagonia, Mailchimp, Home Depot, AFLAC, BlackRock, Cardinal Health, bem como a Business Roundtable (associação que reúne CEOs) e a Civic Alliance (coalizão empresarial para fortalecimento da democracia).

Em retaliação, a Major League Baseball transferiu de Atlanta (Geórgia) para Denver (Colorado) a edição de 2021 do All-Star Game — um prejuízo de mais de US$ 100 milhões para o estado.

O ator Will Smith e o diretor Antoine Fuqua retiraram da Geórgia a produção do filme "Emancipation". Will Smith irá representar um escravo, que conseguiu se emancipar de uma plantação no Sul e ingressou no exército da União (que combateu os confederados sulistas, que defendiam a escravidão).

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