"Troféu de Caça"

Bélgica determina que dente de líder congolês morto seja devolvido à família

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12 de setembro de 2020, 8h41

Herbert Behrens/Anefo/WikimediaCommons
Patrice Lumumba, líder da independência da República Democrática do Congo

A Justiça belga respondeu favoravelmente a um pedido da família de Patrice Lumumba — ícone da independência do então Congo belga e assassinado em 1961 — para que a ela fosse restituído um dente do líder africano. Lumumba foi eleito primeiro ministro do novo país em junho de 1960, cargo que ocupou por menos de três meses — um golpe de estado apoiado pela Bélgica, França e Estados Unidos o destituiu do cargo. Em janeiro do ano seguinte, o líder da independência foi sequestrado e morto, novamente com participação das potências estrangeiras.

O anúncio da decisão foi feito nesta quinta-feira (10/9) pelo porta-voz do Parquet fédéral belga. Ele disse que a restituição é simbólica, pois não há certeza absoluta de que o dente de fato era de Lumumba. Segundo ele, uma análise do material genético do dente poderia destruir o resto mortal. As informações são do jornal Le Parisien.

O dente foi apreendido da família de um policial belga que contribuiu com o sumiço do corpo de Lumumba — que jamais foi encontrado. O resto mortal passou a ser objeto de uma investigação aberta após queixa dos filhos de Lumumba — feita em 2011, em Bruxelas — para que as circunstâncias da morte fossem esclarecidas. 

Em 2000, o policial belga Gérard Soete, então octogenário e hoje já falecido, testemunhou sua participação na eliminação dos cadáveres — outras duas pessoas foram assassinadas. Os crimes ocorreram perto de Lumumbashi, capital da província de Katanga.

"Em plena noite africana, nós começamos por nos saudar por ter coragem. Nós esquartejamos os corpos", afirmou à época. Soete esclareceu que os corpos foram dissolvidos em ácido e que, por isso, praticamente não restaram restos mortais, além de alguns dentes.

Segundo o sociólogo belga Ludo de Witte, autor de um livro sobre o crime, Soete decidiu levar consigo à Belgica algumas relíquias do ocorrido como "troféus de caça".

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