Opinião

Uma homenagem ao jurista Paulo Bonavides

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30 de outubro de 2020, 17h09

Paulo Bonavides, em suas andanças pelo Brasil, levando sua firme mensagem de constitucionalista, passou por Alagoas. Ocupando então a presidência daquela seccional da OAB, convidei e recebi aquele excelso professor. Sua palestra na sede da OAB era, em suas candentes palavras, em seus gestos, em seu tom de voz, antes de tudo, uma palestra sobre a fé. A fé na Constituição, a fé no Direito como instrumento civilizatório de convivência, a fé na vida. Sua vida é esse testemunho de fé: jovem nordestino, saiu de sua Paraíba, de sua cidade natal, Patos, à busca de conhecimentos: migrou a Fortaleza, onde começou seus estudos jurídicos; depois em Harvard; no Rio, na antiga Faculdade Nacional; na Alemanha, onde encontrou o nascimento de um Direito Constitucional novo por inteiro, o constitucionalismo do pós-guerra. 

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Mais uma vez, ocupando então o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça, recebi, para meu gáudio e proveito, aquele Cavaleiro do Constitucionalismo. Sua palestra conservava a mesma vitalidade, o mesmo entusiasmo; no conteúdo, a erudição e o futuro configuravam partes comunicantes da realidade. 

Professor Paulo Bonavides foi contemplado com vida longeva. Parte nesta sexta-feira (30/10) para a Casa do Pai, aos 95 anos de sua vida. Deixa um legado de quem combateu o bom combate, de quem deixou obras, de sua voz nas aulas da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, nas aulas de professor convidado em universidades alemãs, em inúmeras palestras em inúmeros locais, em seguidos livros, alguns deles adotados, por décadas, em todos os cursos jurídicos brasileiros, e, sobretudo, no exemplo de pessoa que vive plenamente a vida. 

Escolheu Yeda, que sempre o acompanhava, para ser sua mulher, em vidas que andam juntas, união que se desdobrou em sete filhos, netos e bisnetos. Relembrando aquela noite, relembrando aquele casal, que já viviam então o terno crepúsculo da vida, vem-me a imagem da atenção recíproca quando cuidavam de, no jantar, um colocar vinho na taça do outro. 

Professor Paulo Bonavides junta-se hoje ao Panteão dos Juristas Nordestinos: Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Pontes de Miranda. 

Assim, na condição de presidente do Superior Tribunal de Justiça, expresso as homenagens a quem, com sua cultura participativa, atuou em um momento histórico do Brasil em que nossas instituições eram delineadas, e colaborou na parte melhor dessa arquitetura institucional, premissa ao nosso desenvolvimento.

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