Vigilante da democracia

País deve usufruto das liberdades à atuação de Celso de Mello, diz Fux

Autor

27 de maio de 2020, 15h22

Se hoje o Brasil é um país que garante aos cidadãos usufruir de suas liberdades diversas, isso, sem dúvida nenhuma, se deve aos mais de 30 anos de judicatura do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal. As palavras de homenagem foram proferidas pelo ministro Luiz Fux ao abrir a sessão desta quarta-feira (27/5).

Nelson Jr. / SCO STF
Fux exalta atuação do decano do STF, ministro Celso de Mello
Nelson Jr. / SCO STF

Fux preside a corte nesta semana porque o presidente, ministro Dias Toffoli, está afastado por motivo de saúde. Ele iniciou a sessão com pronunciamento em defesa da democracia e respeito das instituições.

"O império da nossa Constituição, a sustentabilidade de nossa democracia e a garantia das nossas liberdades não haveria sem um Poder Judiciário que não hesitasse em contrariar maiorias para a promoção de valores republicanos e para o alcance do bem comum", afirmou Fux. 

A fala do ministro acontece após diversos atores políticos atacarem a atuação do STF na última sexta-feira (22). Neste cenário, se sobressaiu o general da reserva Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que fez ameaças após o ministro Celso de Mello encaminhar à Procuradoria-Geral da República pedidos para que o celular de Jair Bolsonaro fosse apreendido e periciado.

Nesta terça, a 2ª Turma do STF também manifestou repúdio a eventuais agressões a juízes e defendeu a independência do Poder Judiciário. 

Leia abaixo o discurso do ministro:

Sessão Plenária de 27 de maio de 2020
Senhoras Ministras e Senhores Ministros,
Senhoras e Senhores,

É voz corrente que um dos principais pilares das democracias contemporâneas repousa na atuação de juízes independentes, que não se eximem de aplicar a Constituição e as leis a quem quer seja, visando à justiça como missão guiada pela imparcialidade e pela prudência. 

Não há democracia sem respeito às instituições. O império da nossa Constituição, a sustentabilidade de nossa democracia e a garantia das nossas liberdades não haveria sem um Poder Judiciário que não hesitasse em contrariar maiorias para a promoção de valores republicanos e para o alcance do bem comum. 

O Brasil é testemunha de que o Supremo Tribunal Federal de ontem e de hoje atua não apenas pela independência de seus juízes, mas também pela prudência de suas decisões, pela construção de uma visão republicana de país e pela busca incansável da harmonia entre os Poderes. 

Seja na prosperidade, seja na crise que ora vivenciamos, este Tribunal mantém-se vigilante em prol da higidez da Constituição e da estabilidade institucional do Brasil. 

Não à toa, o Supremo Tribunal Federal – instituição centenária – revelou-se essencial ao regular funcionamento do Estado Democrático de Direito, porquanto guardião máximo da Constituição e da segurança jurídica.

Nesse ponto, faço especial menção ao nosso Decano, Ministro Celso de Mello, líder incansável desta Corte na concretização de tantos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. 

Se hoje podemos usufruir liberdades e igualdades dos mais diversos tipos, sem nenhuma dúvida isso se deve, em grande medida, aos mais de 30 anos de judicatura do Ministro Celso de Mello neste Tribunal. 

Sua Excelência, aguerrido defensor dos valores éticos, morais, republicanos e democráticos, é, a um só tempo, espectador e artífice da nova democracia erguida em 1988, cuja solidez é o maior legado das presentes e das futuras gerações.

Por todos esses motivos, esta Corte mantém-se vigilante contra qualquer forma de agressão à instituição, na medida em que ofendê-la representa notório desprezo pela democracia.

Certamente, o espírito democrático requer diálogos entre os diferentes, para que todos possamos conviver como iguais em nossa diversidade de valores, sempre sob tolerância recíproca. 

Imbuído dessa ponderação, este Supremo Tribunal Federal, no exercício de seu nobre mister constitucional, trabalha para que, onde houver hostilidade, construa-se respeito; onde houver fragmentação, estabeleça-se diálogo; e onde houver antagonismo, estimulem-se cooperação e harmonia. 

Trabalhamos e existimos pelo povo brasileiro."

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!