Opinião

E agora, o que muda na gestão legal?

Autor

  • Silvio Barreto

    é consultor em gestão professor na ESA-OAB/DF administrador de empresas na UnB especialista em consultoria na FIA Business School em Sistemas de Gestão da Qualidade na UnB em Gestão de Projetos na Universidade da Califórnia (Irvine) e em Monitoramento de Desempenho Empresarial no IBGC.

23 de maio de 2020, 15h05

Já temos um certo consenso de que a pandemia da Covid-19 trará um "novo normal". A questão é como cada segmento se posicionará em relação a isso para sobreviver e se desenvolver.

A revisão dos modelos de negócios dos escritórios de advocacia, assim como dos demais setores, tem o desafio de conseguir fazer uma leitura inteligente — e rápida — para incorporar com eficácia os elementos trazidos por esse momento.

Esqueça a pandemia e o vírus em si. O importante é conseguir enxergar as repercussões que este momento causou em seu segmento e para seus clientes.

Esse será um processo único, transversal e multidisciplinar. Se bem feito, será capaz de adaptar o escritório à nova normalidade.

Não se trata, portanto, de esperar as coisas voltarem ao "velho normal". Estes últimos 60 dias geraram rupturas que não voltarão ao tamanho e ao formato anterior.

Será preciso reconfigurar diversos aspectos da gestão legal.

A começar pelas finanças, que devem assumir um protagonismo objetivo. É momento de decisões difíceis baseadas no fluxo de caixa. O futuro, em especial o que já está determinado, deve ser medido conforme a régua fria dos números.

Os projetos de expansão estabelecidos nos planejamentos estratégicos de 2019 precisam ser revistos. O mercado da advocacia está com oportunidades de momento, como a concentração de foco em segmentos como Trabalhista, Tributário consultivo, Contratos, Administrativo, Digital e Consumidor. Mas essa é a primeira onda.

A estratégia dada pelo novo modelo de negócio conduzirá à definição de sua estrutura. Devemos mirar em estruturas autossustentáveis.

Arrisco dizer que a maioria dos escritórios possui excedente de estrutura. Isso inclui sócios, advogados, estagiários, equipe administrativa, salas, fornecedores. É claro que, após um período de trabalho remoto, tudo parece exagerado.

Mas o que essa experiência recente nos mostrou? Não sei você, mas alguns concorrentes e clientes já fazem releituras de revisão de custos, de preços e de produtividade.

Para definir o tamanho ideal, os escritórios vão implantar novas métricas de produção, controle, avaliação e remuneração.

Não significa necessariamente novos sistemas eletrônicos — até porque alguns se mostraram abaixo da crítica nessa época de acesso à distância. Mas essa é outra questão!

Eu me refiro, inclusive, a uma reinvenção do trabalho — sem mais a circulação alegórica que simulava intensa ocupação. Isso tem um custo e foi exposto involuntariamente pela Covid-19.

O ciclo de contratações de equipe será antecedido por cronoanálise do trabalho e pelo dimensionamento de pessoas e atividades, com métodos ágeis de produção como o Scrum e o Kanban. Equipe jurídica é, disparado, o maior custo dos escritórios.

Quanto à carreira e à remuneração, mais ainda precisaremos ter avaliações objetivas, maduras e vinculadas aos resultados que o profissional efetivamente traz e ao segmento de clientes em que atua. É um ambiente de maior proximidade entre as realidades do cliente e do profissional. Não há mais espaço para gorduras.

No relacionamento com o mercado, conseguir manter clientes e faturamento será motivo de brinde. A relargada requererá posicionamento estratégico de defesa de território. Para isso, a lucratividade pode cair, seja por aumento de escopo com manutenção de valor, seja com manutenção de escopo com redução de valor.

Os esforços na busca de novos clientes e mercados farão com que sócios e associados assumam perfil mais arrojado e prospector, sem perda do profissionalismo e elegância que a atividade requer.

O posicionamento do escritório deve estar fundamentado no concreto, e não nos desejos dos sócios.

O planejamento estratégico servirá não mais como ferramenta burocrática anual para autoengano dos sócios. Deverá estar adequado à volatilidade, à incerteza, à complexidade e à ambiguidade desse "novo normal" e deve se estender à gestão e ao controle das ações. Senão, melhor não fazer para não atrapalhar as iniciativas individuais dos bons prospectores. E torcer para que eles sustentem a estrutura sem perceber que não precisariam dela.

Vale o alerta: o vírus ataca mais os escritórios com doenças preexistentes.

Autores

  • é consultor em gestão, professor na ESA-OAB/DF, administrador de empresas na UnB, especialista em consultoria na FIA Business School, em Sistemas de Gestão da Qualidade na UnB, em Gestão de Projetos na Universidade da Califórnia (Irvine) e em Monitoramento de Desempenho Empresarial no IBGC.

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