Parada econômica

Para Ciro, governo e bancos não facilitam na sobrevivência de empresas

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17 de junho de 2020, 17h16

Em entrevista à CNN Brasil nesta terça-feira (16/6), o ex-ministro Ciro Comes disse que o governo do presidente Jair Bolsonaro não tem projeto econômico para o país, e sim uma "sequência de discursos vazios em linha com aquilo que parece ser uma necessidade estratégica antiga do Brasil, que é reformar a estrutura tributária que não serve para nada a não ser para fazer injustiça".

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Ciro Gomes durante entrevista à CNN Brasil
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Ele considerou a agenda do ministro da Economia, Paulo Guedes, como um "manual vencido e mofado" e afirmou que hoje não há um intelectual no mundo que defenda a "baboseira neoliberal rentista" que Guedes defende.

Apesar de a economia brasileira ter sofrido "uma parada cardíaca" por conta da epidemia de Covid-19 desde março e que, segundo o ex-governador do Ceará, deve se arrastar no mínimo até agosto, por conta da desordem no combate à expansão do novo coronavírus, o socorro tem chegado apenas as pessoas físicas, por meio do auxílio emergencial.

"Já o socorro às empresas, principalmente pequenas e médias, não aconteceu até agora. Foram destinados R$ 1 trilhão do caixa do Banco Central aos bancos, sem que houvesse alguma norma regulatória, na crença passiva de que a farta oferta forçaria a queda de juros dos empréstimos. Pelo contrário. Houve um brutal recuo na concessão de crédito e os juros nas instituições subiram em até 70%", disse o candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais.

"Os bancos públicos estão exigindo garantia real e reciprocidade de ficha limpa no sistema de proteção de crédito. Mas alguns setores colapsaram, e o governo também vetou a carência de oito meses no pagamento de empréstimos."

Em maio, o presidente sancionou, com vetos, a Lei 13.999, que cria o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Ao todo, quatro pontos foram vetados pelo governo. Ficou de fora do texto aprovado pelos parlamentares o trecho que dava oito meses de carência aos empreendedores para o início do pagamento dos empréstimos.

Outra preocupação do ex-ministro da Fazenda durante o governo de Itamar Franco, a dívida pública pública brasileira está no caminho de chegar a 100% do PIB (tudo o que o país produz em um ano). "Investimento público é uma das saídas. O desenvolvimento não se faz por acaso ou voluntarismo. É preciso recuperar o consumo das famílias, diminuir a dívida do consumidor e a concentração bancária."

Também, para o ex-ministro da Integração Nacional durante o governo Lula, é preciso que o governo assuma para si, neste momento, um sistema nacional de crédito e renegociação. "O investimento empresarial foi colapsado. Nos Estados Unidos, o Fed (banco central americano) emprestou diretamente, sem intermediação. Aqui, Banco do Brasil e Caixa poderiam também emprestar diretamente. Trocar crédito interno por reservas internacionais, por exemplo."

Crise institucional
Para Ciro, o presidente Bolsonaro introduz "calor" no cenário político brasileiro para criar um efeito de chantagem sobre as instituições da República e, assim, conseguir dissuadi-las de concluir o seu dever. 

Segundo o ex-deputado, Bolsonaro está em "pânico" por conta de informações sobre ele e sua família. Ele citou os inquéritos que estão em curso no Ministério Público do Rio de Janeiro e que, segundo ele, vão mostrar envolvimento do presidente em desvio de dinheiro e com milícias, além da CPI das Fake News e os inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal.

"Nós, que temos formação, sabemos que todas essas inciativas vão alcançar o Bolsonaro através dos seus filhos imediata e instantaneamente", afirmou Ciro, terceiro colocado na eleição presidencial de 2018.

Para o ex-prefeito de Fortaleza, as manifestações pró-governo e contra o Congresso e o STF, como o ataque ao prédio da Corte que aconteceu no último sábado (13/6), são muito mais de "pressão e contra pressão" do que uma ameaça real. 

"Não acho que na cabeça do Bolsonaro esteja longe a ideia de uma tentativa de golpe, porque é clara para mim a intenção dele de organizar uma milícia. Mas ele sabe também, porque tem muita gente do lado dele que compreende com mais complexidade essa tentativa, que não há condição no Brasil", afirmou.

Centrão
Sobre a aproximação do governo federal com os partidos do chamado centrão, Ciro afirmou que negociar no Brasil é uma "necessidade, uma coisa boa" e que Bolsonaro agora está fazendo "certo".

"Bolsonaro fez um estelionato eleitoral quando, não conhecendo o Brasil, desconhece o que tinha obrigação de saber. O Congresso está repartido em 32 partidos. (…) Portanto, negociar nesse país é um imperativo democrático, enquanto a gente não concertar [entrar em acordo sobre] uma democracia de mais participação", disse.

Segundo Ciro, "quem vai para uma eleição mentir como Bolsonaro foi agora vai ter que explicar essa contradição". "Errado foi quando mentiu dizendo que não ia fazer, desqualificando os outros como 'velha política' e ele [como] a 'nova política'. Tudo picaretagem de marketing trazida pelos Estados Unidos e empurrada com grupos de WhatsApp e fake news."

Ciro, porém, questiona o que e os motivos pelos quais o presidente está negociando. "Essas são as duas perguntas que temos que fazer, e aqui começa a tragédia brasileira a se repetir. Ele não está negociando a reforma tributária, a reforma administrativa, ele não está propondo nada. A questão é se proteger e proteger os filhos e amigos. Ele basicamente esta comprando votos", disse.

Oposição
O pedetista tem defendido a construção de uma frente ampla em defesa da democracia e dos direitos democráticos. Questionado se vê a possibilidade de partidos de diferentes campos se unirem, Ciro afirmou que não é preciso uma "carteirinha de fidelidade ideológica" para defender a vida diante de atitudes que considerou anticientíficas, a economia e a democracia. Essas são as três tarefas "urgentes" e que, segundo ele, pedem unidade.

Ciro também citou como tarefas ter "humildade e entendermos o que levou o nosso povo a essa virada tão espetacular, de uma posição progressista para uma posição de sustentar um governo completamente trágico", assim como "o que fazer para colocar no lugar dessa tragédia social, econômica e de saúde pública".

"Essas duas tarefas pedem que a gente aprofunde as diferenças porque, na minha opinião, quem produziu esse desastre no Brasil foi a mistura de crise econômica produzida pelo PT, o estelionato eleitoral produzido pelo PT e a generalizada corrupção que o PT produziu", acrescentou.

Assista abaixo a entrevista:

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