Efeitos do coronavírus

Covid-19 agrava a saúde mental dos advogados nos EUA

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14 de junho de 2020, 13h46

Advogados dos Estados Unidos não precisam do coronavírus para ter de lidar com problemas de saúde mental. Estudos recentes têm demonstrado que problemas de depressão, ansiedade, alcoolismo e pensamentos suicidas são prevalentes na profissão. Mas o isolamento social (ou a quarentena) vem agravando esses problemas, segundo o advogado e consultor James Robinson.

Sergio Monti
Sergio Monti

Em uma pesquisa com 15 mil advogados, feita por uma comissão da American Bar Association (ABA) e pela Fundação Hazelden Betty Ford, 21% dos advogados admitiram que sofrem depressão — 45%, que já sofreram depressão em algum ponto de suas carreiras. Quase sempre nos primeiros 10, 15 anos de prática.

Problemas de ansiedade afetam 19% dos advogados. E 21% lidam com alcoolismo e se consideram alcoólatras problemáticos. No geral, 36% lidam têm problemas de "abuso de bebidas alcoólicas". E 12% relataram ter pensamentos suicidas por pelo menos uma vez, no exercício da profissão.

Muitos advogados também usam entorpecentes ou medicamentos controlados. Isso é o que se diz, mas não foi confirmado pela pesquisa, porque os advogados preferiram, de uma maneira geral, não responder perguntas sobre essa questão.

Os problemas de depressão, ansiedade e alcoolismo já são suficientemente preocupantes. No ano passado, o Tribunal Superior de Oregon emitiu uma ordem, sem precedentes, segundo o Jornal da ABA: todos os advogados do estado são obrigados a fazer um curso de saúde mental, de pelo menos uma hora, como parte do programa de educação continuada regulamentar.

Covid-19
Trabalhar de casa, por causa do coronavírus, não melhorou a situação. Ao contrário, piorou. Os advogados continuam trabalhando sob extrema pressão, sofrendo os estresses naturais da profissão, mas sem o apoio do convívio social com os colegas, sem interações pessoais com todos que compartilham seus cotidianos.

Despidos de sua túnica de sobriedade na profissão, os advogados também são sentimentalistas, diz o advogado James Robinson. Gostam de apertar mãos, de se abraçar ou de se tocar, como todo mundo. Afinal, são "animais sociais", como todos os humanos.

Com o coronavírus rondando suas portas, os advogados são obrigados a ter como companhia seus computadores — e viver uma vida virtual. Isso vale para todo mundo. Mas os advogados (e em certa proporção os juízes e promotores) constituem uma classe de profissionais mais afetada pela vida sob pressão incessante, sob estresse, e têm de conviver com depressão, ansiedade e alcoolismo, mais do que outros profissionais.

A notícia que se tem é de que trabalhar de casa, por mais que isso pareça um sonho para muitos trabalhadores, agrava o problema de advogados que lutam contra o alcoolismo ou contra o uso de substâncias proibidas ou controladas. Fica mais fácil abusar.

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