Direito em quarentena

Grandes bancas de advocacia do país não terão escritórios cheios tão cedo

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25 de julho de 2020, 9h28

As mesas de trabalho dos grandes escritórios de advocacia do Brasil estão vazias desde março, quando teve início a quarentena causada pela Covid-19, e tão cedo não voltarão a ficar completamente ocupadas. Com os números de contaminações e mortes ainda elevadíssimos no país, o receio continua grande entre os profissionais do Direito e a "volta ao normal" ocorrerá de maneira muito lenta.

Marcelo Camargo/Agência Brasil
O sistema de home office ainda será mantido pelas bancas de advocacia por muito tempo
Marcelo Camargo/Agência Brasil

A ConJur ouviu oito dos maiores e mais prestigiados escritórios do país sobre os planos para o retorno ao trabalho presencial e constatou que nenhum deles tem pressa para ficar repleto novamente. Os motivos para isso são dois: o primeiro, obviamente, é o medo de expor advogados e demais funcionários ao risco de contaminação pelo novo coronavírus, sempre grande em ambientes fechados; o segundo é o bom funcionamento do sistema de home office, a grande surpresa desta quarentena.

Com isso em mente, o Demarest tomou a decisão mais ousada entre as grandes bancas do país: anunciou que as atividades nos seus escritórios só serão retomadas em 2021. Até lá, estarão todos trabalhando em casa, uma vez que a empresa constatou por meio de uma pesquisa interna que os funcionários ainda não se sentem seguros para voltar às atividades presenciais. Além disso, a produtividade não foi prejudicada pela mudança de esquema de trabalho.

"Um retorno agora significaria aderir a protocolos duríssimos de segurança sanitária, a ponto de tornar a dinâmica de trabalho desconfortável. Fizemos uma pesquisa com nossos profissionais e a grande maioria mostrou-se contrária a uma volta agora. Considerando que nossa capacidade de prestar serviços de excelência a nossos clientes permaneceu inalterada, permanecer em home office até 2021 foi uma conclusão lógica", afirmou Paulo Coelho da Rocha, sócio-diretor do escritório.

Assim como as do Demarest, as mesas e cadeiras das bancas Nelson Willians e Mattos Filho também ficarão vazias por muito tempo. Esses escritórios não estabeleceram data para a volta ao trabalho presencial, mas é certo que isso não vai ocorrer em curto prazo. E talvez nem em médio.

A volta das grandes bancas ao trabalho presencial
Banca Previsão de retorno
Demarest janeiro de 2021
Pinheiro Neto setembro
TozziniFreire setembro (com revezamento de equipes)
Machado Meyer agosto (com revezamento de equipes)
Trench Rossi Watanabe agosto (com revezamento de equipes)
Nelson Willians sem data definida
Mattos Filho sem data definida
Bichara sem data definida

"As nossas operações continuam funcionado a todo vapor em home office. Essa é uma decisão baseada no fato de que os números (da Covid-19 no Brasil) ainda são relevantes e parte da operação do escritório se locomove de transporte público e seria exposta a um risco muito intenso. Por isso a gente não tem nenhuma diretriz de data de retorno", contou Ariane Rodrigues Vanço, sócia do Nelson Willians.

"Por ora, o Mattos Filho seguirá com suas atividades em home office. No entanto, já existe um plano gradual de retorno das atividades presenciais, que está sendo desenvolvido com apoio de médicos infectologistas e será posto em prática quando o cenário for considerado viável e com risco mínimo à saúde, ao bem-estar e à segurança de todos", disse Roberto Quiroga, sócio-diretor do Mattos Filho.

Revezamento
Algumas das maiores bancas do Brasil já marcaram o retorno ao "normal". E, nesse caso, as aspas se justificam plenamente, uma vez que será promovida uma volta muito cuidadosa, com a divisão da equipe de trabalho em pequenos grupos, que vão se revezar na ida ao escritório. Esse esquema "híbrido" entre presencial e home office já está sendo praticado pelo Pinheiro Neto e será adotado também por Trench Rossi Watanabe (retorno marcado para agosto), Machado Meyer (agosto) e TozziniFreire (setembro).

"Estamos planejando nossa retomada com a adoção de todas as medidas necessárias para garantir o retorno seguro dos nossos colaboradores. Contudo, é essencial destacar que ficamos positivamente surpreendidos com os resultados do trabalho remoto", comentou Fernando Serec, CEO do TozziniFreire. "Realizaremos essa abertura seguindo todas as normas regulatórias para fornecer aos colaboradores de Trench Rossi Watanabe autonomia e segurança no ambiente de trabalho. Continuaremos dando suporte a todos, independentemente do local de atuação", afirmou José Roberto Martins, sócio e membro do comitê administrativo do Trench Rossi Watanabe.

Das grandes bancas de advocacia ouvidas pela ConJur, apenas uma já marcou a data para o retorno de toda a equipe ao trabalho presencial: Pinheiro Neto, que espera voltar a encher seus escritórios em setembro. No entanto, esse retorno pode ser adiado se a situação da Covid-19 no Brasil continuar crítica.

"Temos um protocolo mais rigoroso e completo de reabertura do que o exigido, que foi elaborado de acordo com as normas locais, do Ministério da Saúde e da Anvisa, além das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de pareceres de profissionais da saúde", relatou Alexandre Bertoldi, sócio-gestor da banca. "Estamos planejando a volta efetiva de todos os integrantes para 1º de setembro, desde que a situação continue evoluindo favoravelmente".

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