“Na mitologia grega, Europa era filha do rei da Fenícia, Agenor. Ela foi raptada por Zeus, que se disfarçou de touro para que Hera, sua ciumenta esposa, não percebesse o romance entre eles."
Para Maristela Basso, professora de Direito Internacional e Comparada da USP, o projeto de substituição dos estados nacionais europeus por um único estado nação, como aconteceu com os Estados Unidos da América, é muito mais antigo do que a criação das comunidades europeias. "Está no inconveniente e imaginário dos seus povos desde sempre."
"O Brexit está, portanto, na contramão da história e representa a força e poder de poucos sobre a de muitos. Perde o Reino Unido. Perde a Europa. Perde o resto do mundo", complementa a professora.
"À Inglaterra agora cabe a solidão longe de Creta. E neste salto no vazio se ouvem os lamentos de “Europa” e as queixas de Hera.”
Em 23 de junho de 2016, a maioria dos britânicos votou em um plebiscito pela saída do Reino Unido da União Europeia. Após três anos e meio e muitas idas e vindas, o divórcio será finalmente consumado às 23h desta sexta (31/1), 20h no Horário de Brasília.
Para José Nantala Bádue Freire, especialista em Direito Internacional do Peixoto & Cury Advogados, o Brexit virou um grande impasse político para o Reino Unido e, de fato, mesmo com sua concretização, continua a trazer enormes incertezas para o futuro. "Contudo, voltar atrás seria um vexame incontornável, que não teria mais o mesmo moral para figurar como um dos líderes da União Europeia."
"Ao que parece, inclusive pelo que vem sendo debatido entre os analistas, a decisão não teve qualquer fundamento econômico, mas sim, político e social. Optou-se pela desvinculação do Reino Unido das políticas de imigração europeias — em especial a livre-circulação de pessoas —, apesar dos prejuízos econômicos que serão experimentados nos próximos anos.”
Especialista em direito internacional, Marcio Lage, sócio do Mota Kalume Advogados, é mais pragmático e acredita que a saída poderá, a médio e longo prazo, trazer oportunidades comerciais para o Brasil. "Embora esta saída não seja imediata, já que passará por um período do transição até o final de 2020, sendo mantidas as atuais regras de viagens, negócios e relações comerciais, enquanto as partes negociam novos acordos que regerão o seu relacionamento."
"Com o Brexit, o Brasil, que é bastante competitivo na área agrícola, poderá aproveitar esse novo panorama para tentar aumentar suas exportações, caso haja um declínio das importações de alimentos e bebidas importadas da União Europeia."
O Reino Unido importa 50% de tudo que consome em termos de alimentos e bebidas, vindo, atualmente, 60% dessas importações da União Europeia.
"Em princípio, os brasileiros não sofrerão dificuldades ou empecilhos para continuar visitando e morando no Reino Unido, na medida que as regras atuais de imigração deverão ser mantidas, segundo tem sido publicado. Certamente, o governo brasileiro está atento a todos estes desdobramentos,” complementou.