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A democratização do acesso à Faculdade de Direito da USP

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  • IREE

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21 de fevereiro de 2020, 12h36

IREE
A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo passa por um processo recente de democratização do acesso, com apoio à entrada e à permanência de alunos negros e de baixa renda. A conscientização sobre a necessidade dessa abertura tardou a vir, mas já é possível ver alguns resultado.

A USP foi a última universidade paulista a aderir ao sistema de cotas raciais no vestibular, adotado apenas a partir de 2018. A Faculdade de Direito da USP aprovou que 30% das 460 vagas oferecidas ao ano devem ser preenchidas por cotistas aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), dos quais 10% a alunos vindos da rede pública de educação e outros 20% para autodeclarados preto, pardo ou indígena.

Em 2019, já era possível ver o aumento da diversidade dos alunos na Faculdade do Largo São Francisco, ano em que pela primeira vez uma estudante mulher e negra, Letícia Chagas, foi eleita presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto.

Filha de mãe trabalhadora doméstica e pai caminhoneiro, Letícia é de Campinas, interior de São Paulo, e sempre estudou em escola pública. Para conseguir fazer o curso, Letícia buscou vaga na Casa do Estudante, oferecida pela Faculdade de Direito.

Em entrevista ao presidente do IREE, Walfrido Warde, Letícia falou sobre o significado de sua liderança e sobre o que pensa para o futuro da educação. “Quero que as pessoas sintam que a universidade pública é delas. Afinal, por que a universidade pública existe? Para nós. Não estudo a vida inteira em escola pública para chegar na universidade e ter que fazer particular.”

A estudante de Direito é a favor da expansão da política de cotas raciais nas universidades públicas e defendeu programas como moradias universitárias e bolsas para que alunos pobres possam permanecer nos cursos.

“Tem muito o que se fazer ainda, a faculdade é um dos lugares mais elitistas em que eu já estive. Para que eu pudesse estar lá e para que a minha eleição pudesse ocorrer, foi central a política de cotas raciais. Eu moro hoje na casa do estudante, que tem um papel muito importante de permitir que as pessoas negras se mantenham na universidade. A faculdade também tem políticas de bolsa, o que é um privilégio porque outras faculdades dentro da USP não têm. Esses benefícios deveriam ser institucionalizados”, diz Letícia.

A entrevista completa com a estudante pode ser vista aqui.

Em entrevista ao IREE, o presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito (Arcadas), José Carlos Madia de Souza, falou, sobre a determinação da entidade em colaborar para tornar a faculdade mais inclusiva e diversa.

Madia também defende a política de cotas e reforça a necessidade de dar apoio para que os alunos cotistas permaneçam na faculdade. “A política de cotas é muito acertada, mas não basta abrir uma vaga, você tem que dar subsídios.”

Um dos principais projetos da Arcada para ajudar na permanência de estudantes de baixa renda na faculdade é o “Adote um aluno”, um programa em que ex-alunos do Largo São Francisco concedem bolsas de estudo para estudantes de baixa renda. Hoje a associação concede 15 bolsas no valor de 600 reais cada uma, e a meta é chegar a 25 bolsas em 2020.

“Sabemos que ainda é insuficiente, mas é uma coisa que veio para ficar e vai crescer. Vamos fazer uma grande campanha de divulgação em 2020, pois muitos colegas estão propensos a ajudar, mas ainda não sabem como”, diz Madia de Souza.

Conheça mais sobre o programa Adote um aluno e veja como ajudar aqui. O vídeo com a entrevista completa de Madia de Souza pode ser vista aqui.

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