Mas nem todos terão condições financeiras para preparar uma boa ceia de natal! Nem todos, mesmo tendo dinheiro, terão condições psicológicas para fazer comemorações. Em vez disso, chorarão seus familiares e amigos mortos num ano em que o Brasil já perdeu muitas vidas para a Covid-19, devendo fechar o ano de 2020 próximo dos duzentos mil mortos. Para muitas famílias, o Natal, no lugar de ser um momento de felicidade e celebração, será uma noite de lembranças e saudades dos que já não estão mais presentes.
Certamente o mundo do trabalho foi um dos mais afetados e ainda o será, por conta dessa crise do novo coronavírus, cujas consequências para os trabalhadores, entre outras, podem ser registradas como perda de emprego e renda, redução de salários, trabalho isolado em casa, informalidade, contaminação pelo novo vírus e mortes pela Covid-19.
Aqui cabe lembrar, homenagear e agradecer aos muitos trabalhadores que não pararam um dia sequer de trabalhar, mas, ao contrário, passaram a trabalhar mais ainda para dar suporte e proteger as vidas das demais pessoas, como os trabalhadores da saúde e de tantas outras atividades essenciais, os trabalhadores do agronegócio, que em razão das características de suas atividades praticamente não pararam e continuaram abastecendo os alimentos necessários à sobrevivência do provo.
Para o setor empresarial também não foi e não será fácil o desenrolar da crise dessa pandemia. Muitas das micros, pequenas e médias empresas quebraram, outras resistiram e continuam na luta, sendo que algumas, é verdade, cresceram e passaram até a ganhar mais dinheiro na crise.
Mas o que esperar para 2021 no mundo do trabalho, considerando que a Covid-19 deixará em 2020 um rastro de alto desemprego, inatividade, empregos precários e muita informalidade?
No Brasil e no mundo, muitos milhões de pessoas estão desocupadas. Em 2021, como destaca o relatório anual Panorama Laboral 2020 da América Latina e do Caribe da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o emprego estará na terapia intensiva e, o que é pior, os indicadores podem piorar. Sim, o panorama pode piorar se não vierem logo vacinas para estancar a contaminação e os governos não adotarem mais providências para socorrer setores mais afetados da economia e a população mais vulnerável.
A nova edição do relatório Panorama Laboral, que desta vez retrata os impactos sem precedentes da crise da Covid-19, afirma que esta é a maior crise que o relatório já registrou em toda a sua existência, cabendo a esses países da região enfrentar o desafio de “lançar as bases para um novo e melhor normal”, o que implicará na adoção de estratégias para gerar mais e melhores empregos à medida que a produção for reativada e a emergência sanitária diminuir.
Agora é fundamental buscar e alcançar crescimento econômico com emprego, que é crucial para reduzir a pobreza e enfrentar a ampliação das desigualdades sociais que esta pandemia está deixando como consequência. À medida que as economias se recuperarem, seu retorno aos mercados de trabalho criará uma pressão adicional sobre os indicadores de desocupação para o próximo ano.
O relatório acrescenta que antes da crise da saúde, o que sustentava a participação e a ocupação regional era a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho e que devido à pandemia esse processo está claramente enfrentando um retrocesso, uma vez que a taxa de participação na desaceleração dos empregos foi proporcionalmente mais acentuada entre as mulheres, atingindo mais os empregos femininos (-19,4% só no setor doméstico). Alerta o relatório da OIT que, para o futuro, será importante considerar as lições aprendidas com essa pandemia. Em primeiro lugar, não há dilema entre preservar a saúde e a atividade econômica, porque sem saúde não há produção nem consumo. A segurança e a saúde no trabalho são agora uma questão chave para a retomada da economia. Em segundo lugar, o diálogo social é mais relevante do que nunca, porque permite reunir estratégias acordadas por governos, empregadores e trabalhadores para enfrentar a crise, sendo de grande relevância a atuação e participação dos sindicatos.
O relatório termina com uma reflexão sobre as políticas que podem contribuir para a recuperação do emprego após a crise, incluindo a necessidade de repensar o modelo de inserção econômica internacional, do desenvolvimento tecnológico com sustentabilidade ambiental, da promoção do empreendedorismo e da formalização, e de contar com políticas de emprego que respondam às novas realidades.
A crise da pandemia do novo coronavírus deixará lições para todos os seres humanos que habitam o planeta terra, porque depois dela o mundo não será mais o mesmo, inclusive o mundo do trabalho. Essa grave crise deixará muitas mortes, aumento do desemprego, da pobreza e de exclusões sociais, esperando-se que o mundo volte suas políticas mais para o ser humano. Como já estão dizendo líderes globais, o mundo deverá colocar no centro das atenções o "arrependimento" pelos desacertos sociais ao longo dos anos, uma vez que, se não tivessem demasiadamente desprezado as questões sociais, as consequências dessa crise seriam menores. Será necessário adequar e atualizar as Políticas Nacionais de Emprego nos Países que já as possuem e/ou formular essas Políticas nos Países que ainda não as tem, para enfrentar a crise e seus rescaldos e visualizar um novo caminho para se continuar convivendo com suas consequências, o que não será fácil, nem em curto tempo.
Assim, neste Natal de 2020 se faz oportuno e necessário refletir sobre o trabalho e o seu valor social, como também a respeito da importância vida humana.
Que neste Natal lembremos e homenageemos os muitos trabalhadores que se contaminaram pelo novo coronavírus nas frentes de trabalho para salvarem as vidas dos outros e perderam as suas; que neste Natal façamos preces pelos trabalhadores que continuam arriscando suas vidas para salvar as vidas dos outros; que neste Natal façamos preces pelos trabalhadores que perderam seus empregos, para que consigam arrumar novas colocações de trabalho e auferir rendas para alimentarem suas famílias; que neste Natal façamos preces pelos que odeiam e disseminam o ódio entre as pessoas; que neste Natal perdoemos os que nos magoaram e por eles façamos preces pelo perdão; que neste Natal façamos preces pelos desesperados, augurando esperança para um novo ano melhor, com menos tristeza e mais alegria; que neste Natal possamos agradecer por ter saúde, quando tantas pessoas sofrem neste momento nos seus lares, nas camas de hospitais e outras à espera de uma dessas camas!