"Apetite pelo dinheiro"

Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella é preso a 9 dias do fim do mandato

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22 de dezembro de 2020, 9h08

A nove dias para terminar o mandato, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira (22/12). A ordem foi expedida pela desembargadora do Tribunal de Justiça fluminense Rosa Helena Penna Macedo Guita, com base em investigações da Polícia Civil e do Ministério Público estadual sobre um esquema conhecido como "QG da propina", com corrupção dentro da prefeitura. 

Tomaz Silva/Agência Brasil
Investigação aponta que Crivella sabia do esquema de corrupção na Prefeitura
Tomaz Silva/Agência Brasil

A magistrada considerou que, embora o mandato de Crivella esteja no fim, os contratos firmados com fraude em licitações continuam em vigor. Isso, segundo ela, cria expectativa nos integrantes da organização criminosa de continuar recebendo os percentuais da propina "perdurando, assim, o proveito do ilícito cometido. E, logicamente, perdurará a lavagem de capitais, largamente demonstrada nos presentes autos". A decisão é desta segunda-feira (21/12).

Em declarações à imprensa antes de entrar na delegacia fazendária, o prefeito se disse vítima de perseguição política e afirmou que, em seu governo, combateu a corrupção. O presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felippe (DEM), vai assumir interinamente a Prefeitura. A sucessão natural seria com o vice-prefeito, Mac Dowell, também eleito em 2016. Ele morreu dois anos depois, em maio de 2018. 

Na decisão, a desembargadora diz haver um "voraz apetite pelo dinheiro público" que não se limitou à atual gestão de Crivella como prefeito. Recuperando a declaração de um delator, que afirmou ter pago propina a ele nos anos de 2010 e 2012, a julgadora conclui que "há muito o atual Prefeito recebe propinas". "É possível afirmar, portanto, diante do seu propósito de permanecer na vida pública, que tal prática perdurará", diz.

A magistrada determina que logo após o recesso forense, no próximo dia 7 de janeiro, o processo seja redistribuído à 1ª Vara Criminal Especializada de Combate ao Crime Organizado, em declínio de competência.

Também foram presos na mesma operação o empresário Rafael Alves; o ex-tesoureiro da primeira campanha de Crivella, Mauro Macedo; os empresários Christiano Campos e Adenor Gonçalves, e o delegado aposentado Fernando Moraes. O ex-senador Eduardo Lopes não foi encontrado no endereço no Rio de Janeiro. 

Histórico da operação
O inquérito que levou à operação foi aberto em 2019 pelo MP após o doleiro Sérgio Mizrahy firmar acordo de colaboração premiada. Ele afirmou que há um “QG da propina” na Prefeitura do Rio, embora tenha dito não saber se Crivella integrava o suposto grupo.

De acordo com o delator, empresas que tinham interesse em celebrar contratos com o poder público entregavam cheques a Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, então presidente da Riotur — ele foi exonerado do cargo em 25 de março. Como contrapartida, ele intermediava os acordos e pagamentos.

Com base na delação de Mizrahy, o Ministério Público e a Polícia Civil cumpriram, em setembro, mandados de busca e apreensão na Prefeitura do Rio de Janeiro, na casa do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e no Palácio da Cidade, onde ele trabalha. Na operação, agentes apreenderam um telefone celular do prefeito. Com informações da Agência Brasil.

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Processo: 0089804-76.2020.8.19.0000

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