31 anos de história

Biblioteca de Celso de Mello é transferida do STF para Tatuí (SP)

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20 de dezembro de 2020, 15h32

A biblioteca do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Ceslo de Mello deixou as dependências do prédio e foi transferida para o escritório de dois amigos do decano: José Rubens do Amaral Lincoln e seu filho, Cícero do Amaral Lincoln. O escritório fica em Tatuí, no interior de São Paulo.

Foram transferidos cerca de 12 mil livros, que ocupavam as paredes de seu gabinete na cobertura de um edefício anexo à sede do Supremo. Na biblioteca há revistas, livros jurídicos e registros dos 31 anos de atuação de Celso no tribunal.

Segundo o Estadão, 164 caixas foram transportadas de Brasília para a cidade natal do ministro. O jornal afirma que o decano guardou consigo apenas poucos livros, de alguns de seus autores preferidos: Machado de Assis, T.S. Eliot, Ezra Pound, Eça de Queiroz, Samuel Johnson, Mário de Andrade e José Lins do Rêgo.

Cícero Lincoln, o novo dono da biblioteca, disse ao jornal que a doação foi promessa de alguns anos atrás. "O conteúdo jurídico das obras mostra como se manter a democracia do País, nos orienta contra o autoritarismo e nos dá consciência de nos mantermos firmes", afirmou o criminalista. 

O pai, por sua vez, disse considerar a biblioteca "um patrimônio de Tatuí". O Estadão diz ainda que ele já manifestou o desejo de transformar o local em uma espécie de memorial do ministro. "A ideia seria essa biblioteca ser preservada o máximo possível, em respeito a ele", afirmou.

STF

O ministro e os livros
Ao jornal, o ministro lembrou da infância passada entre os livros. "Tive o privilégio de viver em um ambiente doméstico onde se cultuava o amor à leitura, à música e às artes. Os meus pais eram professores….sempre (e historicamente) mal remunerados, o que constitui, até hoje, um desrespeito e perversidade dos governantes contra classe tão nobre quão essencial e indispensável à formação de um povo."

No momento, contou que está lendo Cidade de Deus (a de Santo Agostinho). "É preciso ter fé no fato de que os livros representam um poderoso instrumento de resistência, sempre legítima, contra ensaios autoritários de poder, e de cuja leitura resultará a luz que iluminará os passos de nossa democracia e dissipará as práticas sombrias que buscam destruí-la", afirmou.

"A construção da ordem democrática e a preservação das liberdades fundamentais, que não podem ser destruídas pela ação intolerante dos epígonos do poder e de seus acólitos, têm nos livros um meio essencial a essa defesa e de enriquecimento do espírito. Foi com esse objetivo que doei a um jovem (e promissor) advogado de minha terra quase todo o acervo que reuni ao longo de décadas."

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