Opinião

Antonio Carlos da Gama Barandier: arquiteto, jornalista, Cacá, Baranda, amigo...

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30 de agosto de 2020, 11h09

Em 29 de agosto de 2020, a comunidade jurídica perdeu uma de suas maiores referências: o advogado — acima de tudo, advogado Antonio Carlos da Gama Barandier.

Na oportunidade, escrevi, em nome da família Evaristo de Moraes, linhas de gratidão:

"Hoje, virou passarinho e voou Antonio Carlos Barandier.
Advogado que fez do seu ofício uma arte.
Nós, da família Evaristo de Moraes, sentimos a dor da perda e, ao mesmo tempo, exaltamos o homem Baranda, craque de bola e da amizade.
Muito obrigado, Cacá, pelos muitos gols de excelência e pelos ensinamentos que nos deixou."

Não posso falar com profundidade do professor Barandier, pois não tive a graça de ser seu discente; fui de outro Antonio, na Uerj, em sua última turma de Direito Penal, o Evaristo de Moraes Filho.

Mas me sinto com autoridade de bradar sobre o "meu" lateral esquerdo nas tardes de sábado no Clube dos 30×30.

Levado pelo papai ao Clube, desde o primeiro dia, foi adotado pelos amigos de São Conrado e os adotou.

Arquivo Pessoal (Renato de Moraes)
Antonio Carlos Barandier (no alto, à esquerda); Renato de Moraes (goleiro)
Arquivo Pessoal (Renato de Moraes)

O craque do “Lá vai bola” (Cacá) passou a sustentar no Júri das quatro linhas para mim, meus irmãos, Evaristo e Eduardo, e seus filhos, Marcio e Henrique, com a elegância que o distinguiu em toda sua trajetória retilínea.

Imberbe, tratava-o como Baranda, usurpador da intimidade que papai tinha com ele.

Por quantas pelejas nós passamos, Baranda?

Por quantas prosas?

Por quantos sorrisos?

Por quantos brindes?

Por quantos?

Quanta saudade, “meu” lateral esquerdo, substituindo no campo outro adorado lateral bem à esquerda, do jeito que gosto, meu Barretão, vívido e lépido entre nós.

Saudade de um tempo que, realmente, nunca vai voltar, porém, tê-lo vivido com você, ladeado por meu pai, meus irmãos e seus filhos, entre outros ícones da amizade, representa, para mim, aprendizado que não tenho como mensurar.

Barandier, em certo prefácio, meu pai resgatou, e você também no livro “Antonio Evaristo de Moraes Filho, por seus amigos”:

"Depois de um dos julgamentos no qual atuamos em dupla, fiz algumas considerações e ouvi o amigo atento. Trinta anos depois, lembraria ele o episódio em generoso prefácio de livro que ousei publicar, provocando-me a mais palpitante emoção:

'Por fim, não poderia deixar sem registro uma velha conversa, após exaustivo julgamento na Justiça Militar, do qual saímos com alma em festa, por havermos obtido absolvição de um grupo de jovens, acusados de inimigos da pátria, apenas por pensarem em alcançar, através da luta armada, a restauração da democracia em nosso país.'

Confidenciou-me, então, Barandier, que jamais gozaria aqueles momentos de emoção intensa, caso se houvesse deixado levar, quando estudante, pelas vocações que o empolgaram na adolescência: a arquitetura e o jornalismo. Fiz-lhe ver que vinha realizando, de alguma forma, seus sonhos. Com criatividade e beleza, projetava e executava as defesas, que traziam para os clientes o desfrute deste bem maior que é a liberdade. E, paralelamente, na busca da verdade dos fatos e na transmissão do produto de seu esforço aos tribunais, desenvolvia as principais tarefas dos homens de imprensa honrados (As garantias fundamentais e a prova, p. XII, 1997, Lumen Juris, RJ).'"

Fosse qual fosse a carreira escolhida (arquiteto, jornalista, advogado ou jogador de futebol), o posto de “meu” lateral esquerdo é “meu”, e de mais ninguém.

Evaristinho, goleiro; Armando Nogueira e Paulo Renha como zagueiros; Mieli fazendo graça pela direita e Baranda já escalado pela esquerda vão jorrar e jogar alegria nos gramados da fraternidade do Clube dos 30×30.

Segue o jogo…

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