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Medidas de Trump sabotam eleição por correio e tendem a favorecer republicanos

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16 de agosto de 2020, 11h51

Avi Ohayon/GPO
Trump admitiu que eleições por correio favorecem democratas
Avi Ohayon/GPO

A Suprema Corte dos EUA tomou, recentemente, uma decisão que deveria facilitar a votação por correio em tempos de coronavírus, contrariando a posição do presidente Donald Trump que, há meses, vem se opondo a esse sistema, que ele considera prejudicial a sua reeleição e a candidatos republicanos em geral. Mesmo assim, Trump encontrou maneiras de sabotar as eleições por correio.

Uma das maneiras encontradas pelo presidente foi negar, com apoio de congressistas republicanos, um resgate financeiro de US$ 25 bilhões a empresa de correios dos EUA (USPS US Postal Office), que estava em vias de aprovação no Congresso. O governo e parte dos republicanos também negaram um apoio financeiro de US$ 3,6 bilhões para ajudar a financiar as eleições nos estados.

Trump não escondeu de ninguém suas intenções. Em entrevista à Fox News, ele declarou: "Eles [os democratas] precisam desse dinheiro para fazer o USPS funcionar bem, de forma que possam obter mais milhões e milhões de votos por correio". Até agora, Trump já fez mais de 80 ataques verbais às eleições por correio, alegando, sem apresentar justificativas, que o sistema abre oportunidades para fraudes, segundo o Washington Post.

Manobras internas
Em maio, quando a campanha de Trump contra eleições por correio já estava em andamento, quem assumiu a direção do USPS foi Louis DeJoy, amigo do presidente e grande doador para sua campanha eleitoral. Desde então, as coisas se complicaram ainda mais com as medidas que ele tomou.

Entre outras medidas, ele ordenou a remoção de máquinas de distribuição de correspondências das agências do correio, sem uma justificativa plausível e o trabalho voltou a ser feito manualmente. Outra medida foi cortar as horas extras dos funcionários, segundo o Daily News e o site Salon.

Com essas e outras medidas, as correspondências e as encomendas se acumularam nas agências do correio, desestruturando toda a organização e o serviço de entrega. DeJoy tentou justificar as medidas, dizendo que tinham o objetivo de cortar custos e faziam parte de um plano de reestruturação do USPS.

Os planos de Trump de sabotar a eleição por correio funcionaram. Nesta semana, o USPS notificou 46 dos 50 estados dos EUA e o distrito de Colúmbia que a organização não terá condições de distribuir aos eleitores todas as cédulas de votação e devolvê-las no prazo estabelecido às mesas eleitorais.

Assim, os eleitores terão de escolher entre o risco de não ter seus votos por correio contados e o de contrair coronavírus.

Ironicamente, o presidente Trump e a primeira dama Melania Trump requisitam cédulas eleitorais para votar pelo correio nas eleições primárias do Partido Republicano na Flórida. Os votos para escolha de candidatos do partido ao Congresso do estado, através de eleições primárias, serão contados em 18 de agosto.

Não há dúvidas sobre os pedidos de Trump e da primeira dama, porque eles foram publicados online por autoridades eleitorais do Condado de Palm Beach, onde fica a residência de Mar-a-Lago do casal, informou o The Hill.

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