Efeitos do coronavírus

Bancas estão contratando especialistas em falência e reestruturação

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11 de agosto de 2020, 8h26

Em meio a uma onda de dispensas por conta da pandemia de coronavírus, maior do que as que foram causadas pela recessão de 2008, as bancas dos EUA estão contratando advogados especializados em falência. Também estão buscando advogados para a área de reestruturação financeira de empresas e de fusão e aquisição.

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Esse é o novo panorama do mercado jurídico nos EUA, que reflete a demanda por serviços jurídicos no país — uma consequência do agravamento da pandemia e da situação insustentável em que muitas empresas se encontram. A missão das bancas, neste momento, é salvar as empresas em dificuldades ou do desastre total.

"Há muitos problemas pela frente. Estamos sentados na praia, esperando por um tsunami. Não sabemos quando ele vai chegar à terra, mas sabemos que vai chegar", disse ao Jornal da ABA (American Bar Association) o advogado John Penn, da banca Perkins Coie, que atua na área de falência há décadas. Para ele, uma onda de falências é inevitável.

As firmas de recrutamento de executivos (headhunters, ou "caçadores de cabeças") estão caçando ativamente advogados especializados em falência e reestruturação de empresas, especialmente para grandes bancas, como a Baker McKenzie. A banca quer  reforçar sua atuação global nessas áreas.

"As firmas de recrutamento estão trabalhando arduamente para nos ajudar", disse ao jornal o diretor da divisão de falência e reestruturação financeira da Polsinelli, Christopher Ward. "Estamos muito ocupados, tentando contratar mais advogados."

Grandes bancas estão aliciando advogados umas das outras. Por exemplo, a Gibson, Dunn & Crutcher já atraiu três advogados da Jones Day — todos especializados em reestruturação. Outras bancas, como a Latham & Watkins, estão expandindo sua atuação global, com a contratação de advogados especializados em falência e reestruturação.

A Perkins Coie nunca desmantelou a equipe que montou durante o período de recessão que começou em 2008. "Entendemos que as crises econômicas vão e voltam. Além disso, sempre há trabalho nas áreas de falência, reestruturação, fusão e aquisição em tempos de normalidade. Essa não é a primeira vez que enfrentamos uma crise. Por isso, estamos bem posicionados para ajudar as empresas a atravessar a tempestade."

Na Stinson, os sócios estão entrevistando advogados para reforçar o time de especialistas nessas áreas, mas também estão treinando advogados da banca, com a mesma finalidade. "Falência é uma área generalista e estamos reforçando a equipe. Precisamos de gente especializada em contencioso, fusão e aquisição corporativa para reestruturação, direito tributário, trabalhista e ambiental", disse o advogado Thomas Salerno ao jornal.

Salerno fez previsões para o American Bankruptcy Institute: "O crédito vai se contrair, prejudicando fabricantes e distribuidoras. Empresas em dificuldades vão alegar que não estão realmente em descumprimento de suas obrigações e vão invocar a cláusula da força maior para se defender de cobranças."

Além disso, afirmou, "as cortes serão mais lenientes com os devedores e farão mais audiências por telefone, o que significa corte de custos para os clientes e, ao mesmo tempo, mais prejuízo para empresas aéreas, hotéis e restaurantes".

"Haverá aquisições oportunistas por investidores em fundos abutres. Restrições ao fluxo de caixa e à liquidez irão impactar a venda de ativos  e comprimir a dinâmica do mercado. O dilúvio ainda não começou, mas já vemos chuvas torrenciais dispersas. Por enquanto estamos em modo de espera, mas a situação vai se complicar em meados de agosto."

A banca Day Pitney cortou a remuneração dos sócios e advogados contratados em 15%, por enquanto, para manter suas finanças sustentáveis. Mas está envolvendo seus advogados especializados nas áreas tributária, empresarial, imobiliária e de energia em um empreendimento multidisciplinar, para tratar problemas de falência e reestruturação, segundo o advogado Joshua Cohen.

Ele espera que a demanda maior virá de empresas no setor de hospitalidade (como hotéis e restaurantes), varejo e do setor de petróleo e gás. Na área imobiliária, haverá problemas quando os locatários não puderem pagar o aluguel. E deverá haver uma onda de pedidos de falências entre as empresas aéreas. Mas isso dependerá, em parte, da ajuda financeira que podem obter do governo.

O advogado Scott Underwood viu na crise a oportunidade para abrir seu próprio escritório de advocacia. Especializado em falência e direitos dos credores, ele deixou a Buchanan Ingersoll & Rooney para fundar seu escritório em Tampa, Flórida.

"Depois de desejar abrir minha própria banca há anos, pensei que era agora ou nunca. Haverá muito mais casos de falência do que em toda a década passada. E as grandes bancas estão lutando para manter suas práticas em outras áreas", ele disse ao jornal.

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