Opinião

Um breve ensaio sobre o sofrimento e a felicidade

Autor

  • Reis Friede

    é desembargador federal presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (biênio 2019-2021) mestre e doutor em Direito e professor adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

13 de abril de 2020, 13h55

Faz parte da epopeia do gênero humano (voluntária ou involuntariamente) experimentar as sensações do medo e do sofrimento (ou seja, o receio do padecimento, da aflição, da angústia, do suplício, etc.), mesmo que (necessariamente) imbuídas de uma (veemente) repulsa, associada ao desejo, simultâneo e contrapositivo, de obtenção (persistente) de um (utópico) estado de paz de espírito, conhecido, coloquialmente, por felicidade. Destarte, não é incomum, cotidianamente, ouvirmos a frase "o importante é ser feliz", dita e repetida como se fosse um dogma irrefutável e, por via de consequência, o objetivo (único e) central da vida humana terrena.

Todavia, a verdade é que — independentemente de nossas exteriorizações volitivas  a felicidade é essencialmente uma condição (e, portanto, um correspondente e sempre presente efeito consequente) de nossas ações, que, por sua vez  em função de (nítidas e específicas) escolhas (associadas ao livre arbítrio) , podem, ao reverso do desejado, conduzir ao sofrimento e à própria infelicidade.

Não por outra razão, a atribuição de uma importância capital relativamente às nossas (permanentes) opções, presumivelmente direcionadas ao pretenso propósito de encontrar (dentre tantas possibilidades) o verdadeiro caminho que possa (de fato) nos conduzir à felicidade e, simultaneamente, nos afastar do sofrimento.

Ainda assim, e não obstante a lógica de todo esse "processo mental", é importante registrar que a felicidade não pode ser alcançada como simples "objetivo", posto que somente a bondade  ou mais precisamente as ações e as intenções nobres é que possui o verdadeiro condão de realizar, através da força do amor que todos trazem em seus corações, um estado de absoluta tranquilidade. Tal fato ocorre porque não é qualquer atitude (ou fato) que nos permite conduzir à felicidade, posto que a mesma (naturalmente) advém do bem e da consequente satisfação que a realização de atos de bondade traz aos nossos corações.

Portanto, felicidade e infelicidade são resultados últimos (ainda que não definitivos e, portanto, sempre passíveis de mutação) de nossas escolhas, assim como, em certa medida, o sofrimento também o é.

Viktor Frankl  criador da logoterapia e uma das mentes mais brilhantes da centúria passada certa feita lecionou, com mérita propriedade, que se a vida tem um propósito, logo o sofrimento igualmente o tem. Fiódor Dostoiévski, grande escritor e filósofo do século XIX (que sofreu imensamente durante sua vida), expressou, nessa toada, que seu único medo era de não ser digno de seu sofrimento, pois, segundo o mesmo, a dor era um importante fator de aprimoramento do espírito do homem.

Não por acaso  e de forma muito diferente do senso comum , o sofrimento atua como um indispensável elemento de "evolução e aprimoramento humano", considerando, por derradeiro, que é através dele (e de sua experiência) que se expõe a beleza, que se alcança o refinamento e se exterioriza a grandeza.

Todas as nobres almas  seja no campo religioso, no filosófico ou no artístico, ou seja, praticamente em qualquer alçada foram consciências que sofreram profundamente. Todavia, foram também, e por efeito consequente, "essências" capazes de realizar a mágica da transformação, permitindo que o sofrimento se convertesse, em última análise, em fonte de grandeza e inspiração, e não de (indesejável) dor, obtendo, por fim  e como natural resultado , o tão almejado estado de felicidade.

Autores

  • Brave

    é desembargador federal, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Mestre e Doutor em Direito e professor adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!