Efeitos do coronavírus

Dicas para usar bem a câmera no surto de videoconferências

Autor

5 de abril de 2020, 8h16

Um dia, se espera, a pandemia de coronavírus vai passar. Mas alguns de seus efeitos vão permanecer. Um deles é a comunicação por vídeo – ou videoconferência – que provavelmente irá passar de meio de comunicação opcional para meio de comunicação preferencial.

Divulgação/TJ-SC
Sustentação oral por videoconferência no TJ-SC
Divulgação/TJ-SC

Os operadores do Direito provavelmente irão se acostumar — e gostar da nova moda. Entre outras coisas, o sistema economiza muito tempo e dinheiro. Poderá poupar o deslocamento por ruas congestionadas da cidade ou longas viagens aéreas, despesas de hotéis, etc.

Algumas comunicações, como com clientes, outros advogados, promotores e autoridades policiais não irão exigir muita técnica. Mas, a defesa de clientes, perante juízes, desembargadores e ministros, pode se beneficiar de alguma técnica — ou estratégia. Para isso, é bom se familiarizar com algumas técnicas e estratégias simples de filmagem.

Por exemplo, em comunicações cotidianas pelo Skype (ou qualquer outro meio de comunicação por vídeo), as pessoas acham que mostrar o rosto já é o suficiente. Mas isso deve ser repensado.

Na interação com as cortes, os advogados e promotores querem fazer uma apresentação mais profissional. Querem ser mais convincentes e causar melhor impressão — e maior impacto. Isso pode exigir, por exemplo, a ajuda de expressão corporal — o que ocorreria mais facilmente em uma apresentação pessoal.

Nesse caso, o profissional tem de entender um pouco de planos — ou enquadramentos — em filmagem. Os cineastas usam tipos diferentes de enquadramento por várias razões. Mas a principal delas é a de produzir um determinado efeito. Para saber o suficiente, basta procurar no YouTube vídeos sobre planos ou enquadramentos em filmagem.

Para apresentações que se beneficiam da ajuda de alguma expressão corporal e facilitam a eloquência, o plano mais indicado é, provavelmente, o “plano médio”. Nesse tipo de plano, o topo da cabeça do “ator” está próximo do topo do enquadramento e os braços e mãos do “ator” aparecem logo acima da linha inferior do enquadramento. Assim, os gestos passam a ser uma maneira eficaz de expressão.

O site The American Lawyer diz que 93% de todas as comunicações são não verbais. Vale o silêncio, as expressões corporais, os gestos e as expressões faciais. Tudo isso tem um significado e expressa intensões, o que é mais difícil transmitir quando a pessoa está sozinha em uma sala, de frente para uma câmera.

O site tem algumas recomendações que podem ajudar os profissionais de Direito a fazer uma boa impressão:

Olhar para a câmera

  • Ao falar, olhe para a câmera, não para a tela do computador. Só assim, você incorpora a ideia de olhar nos olhos de seu interlocutor.
  • Fale para a câmera, como falaria com alguém sentado à frente de sua mesa.
  • Pode-se usar a câmera do computador, uma webcam presa no topo do computador ou uma câmera de vídeo montada em um tripé, com a lente na altura dos olhos. A câmera do computador nem sempre é bem visível, especialmente porque a iluminação bate em seus olhos. Nesse caso, pode-se colocar um pequeno adesivo (ou uma marca qualquer), para localizá-la com facilidade durante uma sustentação oral, por exemplo.
  • Tente não fechar os olhos e não coloque a mão ou papel em frente de seu rosto.
  • Ao ouvir, intercale entre olhar para a câmera e para a tela, para captar as informações verbais e não verbais que o interlocutor está comunicando. Olhar para baixo ou para os lados, checar e-mails ou navegar na Internet em meio à comunicação denota falta de atenção, de interesse ou de respeito, o que pode ser visto como um insulto.
  • Lembre-se de que, durante a comunicação, seu interlocutor também pode estar observando suas expressões faciais e corporais. Ao reagir ao que ouve, faça-o de forma pensada, para mostrar que está em controle da situação e que está confiante. Saiba que suas expressões são amplificadas na tela.

Bônus especial
A essas sugestões, pode-se acrescentar um bônus especial que a videoconferência oferece: o uso de teleprompter. Ao fazer uma sustentação oral, por exemplo, você pode se beneficiar do uso de um teleprompter (comprado ou improvisado), para fazer a apresentação perfeita. O texto na tela do computador é uma alternativa, mas vai desviar os olhos da câmera.

Outra opção é ter no teleprompter ou mesmo na tela do computador apenas a lista dos tópicos principais de sua fala, como em uma apresentação com slides. Dessa forma, conseguirá manter a sequência planejada da sustentação oral. E não vai se esquecer de nada importante.

Observação importante: não se esqueça de configurar o computador para não “dormir”. Alternativamente, clique de quando em quando na tela, para manter o computador “acordado”. Há computadores que demoram para “acordar”.

Controle o ambiente
Luzes muito fortes, ruídos ao fundo, podem fazer parte do ambiente e as pessoas podem dar um desconto. Mas, em algumas situações, como a de se comunicar com as autoridades judiciais, é importante criar um ambiente profissional.

  • Antes da videoconferência, confira as condições de som e de iluminação do espaço em que vai trabalhar. Certifique-se de que a iluminação esteja de frente para você e não para a câmera. Qualquer reflexo de luz na lente pode prejudicar a imagem.
  • Em vez de luzes fortes, dê preferência a luzes suaves e indiretas. Ou luz natural. Em algum momento, você pode investir em uma iluminação portátil, que pode ser bem simples, mas preferivelmente sobre tripés.
  • Luz vindo da janela atrás de você pode ser desastrosa: a câmera pode ajustar a iluminação para a luz exterior e escurecer sua imagem. Aliás, é preciso ter cuidado com o que aparece por trás de você. Uma planta mal colocada pode parecer uma extensão de seu cabelo. Alguns tipos de quadros podem desviar a atenção de você.
  • Silêncio é ouro. Desligue tudo o que faz barulho: música, televisão (na sala ao lado), ventilador ou qualquer aparelho ruidoso, telefone da casa e seu celular. Às vezes, é necessário desligar até mesmo a campainha da porta.
  • Crianças gritando ou chorando, cachorros latindo, gente falando alto em outros cômodos não combinam com o aspecto profissional de uma videoconferência. Quando começar a gravar em casa, negocie a colaboração da família. Pode ser que as crianças e os cachorros tenham de ficar em um quarto mais afastado, por alguns minutos. Você pode colocar da porta um pequeno cartaz que diz “gravando” como nos estúdios. Ou um “não perturbe”.
  • O uso de um fone de ouvido com microfone (como o das telefonistas) pode ser muito útil para assegurar qualidade de som e deixar suas mãos livres. Antes de começar uma videoconferência, os participantes devem checar se estão ouvindo bem.
  • Use roupas de cores sólidas em comunicações por vídeo. Roupa xadrez, listada, estampada ou enfeitada não é a melhor opção.

Há quem prefira fazer uma sustentação oral em pé. Argumenta-se que, em apresentações em pé, a voz (e a fala em geral) até melhora, porque melhora a respiração. Por videoconferência, isso exigirá o uso de um microfone de lapela — de preferência um profissional, porque sua “audiência” tem de ouvi-lo bem. Se você optar por se colocar atrás de um pódio, um microfone normal, ligado à câmera, resolve a questão.

Prepare o computador
Em princípio, todos os aplicativos, que não o da videoconferência, devem estar fechados. Se tiver de compartilhar documentos durante a comunicação, os interlocutores não precisam ver o que está aberto em seu desktop.

Silencie ou desabilite todas os alertas ou notificações do computador e do celular. Algumas pessoas têm alertas de e-mail, que pode ser até o relincho de cavalo, e recebem notificações de mensagens ou do WhatsApp.

Reaprenda a usar sua voz
A comunicação verbal de fatos e de emoções, sem os elementos visuais do contato pessoal, oferece menos informações ao cérebro do interlocutor do que o de costume. Por isso, a comunicação por vídeo pode exigir uma dose maior de energia e de entusiasmo na voz, ao comunicar mensagens essenciais.

Assim, em vez de simplesmente falar, enuncie claramente seus argumentos e, ao fazê-lo, module a intensidade de sua voz conforme necessário. Varie a altura e tom de sua voz, bem como a velocidade de seus enunciados, para engajar seus ouvintes (e fazê-los acordar!).

Exercícios de fonoaudiologia podem ajudar, especialmente para melhorar a dicção. E, antes de qualquer videoconferência, é preciso fazer exercícios de aquecimento de voz, como todos os atores de teatro fazem antes de começar o espetáculo. É uma maneira de adicionar uma pitada de diversão a seu trabalho.

Durante a comunicação, fique alerta para sinais de que seus interlocutores estão começando a se distrair, deixando de prestar atenção ou se desligando. Às vezes, o ambiente em que seu interlocutor opera não o está ajudando. Procure dar intensidade à comunicação e, tanto quanto possível, torná-la mais envolvente.

Daqui para o futuro
Muita gente pode estar perguntando: “Por que tudo isso, se eu já me comunico por vídeo há tempos?”. Isso é o presente, que está passando para dar lugar a procedimentos mais profissionais e modernos, o que pode ser acelerado pela pandemia de coronavírus.

É possível, que no futuro, o sistema de comunicação entre os operadores do Direito terá uma rede dedicada, com uma tecnologia mais avançada. É possível que, no futuro, muitos escritórios de advocacia terão um pequeno “estúdio” de gravação. É possível que cursos de fonoaudiologia e de teatro farão parte da formação dos profissionais de Direito.

Assim, a operação da justiça por videoconferência, em vez de uma opção alternativa, será o novo normal.

Autores

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!