Vícios processuais

Em carta ao STF, juízes europeus acusam Moro de parcialidade

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22 de outubro de 2019, 18h31

Ricardo Stuckert
Ex-presidentes de cortes superiores europeias pedem que seus colegas brasileiros reflitam sobre 'vícios' dos processos abertos contra Lula
Ricardo Stuckert

Três ex-presidentes de cortes superiores de Justiça na Europa enviaram uma carta aberta aos magistrados brasileiros do Supremo Tribunal Federal.

No texto, o ex-presidente do Conselho de Estado da Espanha de 1985 a 1991, Tomás Quadra-Salcedo, e dois ex-presidentes da Corte Constitucional da Itália Franco Gallo (2013) e Giuseppe Tesauro (2014) pedem que os colegas brasileiros reflitam sobre “os vícios dos processos iniciados contra Lula”.

Eles também citam as revelações do site The Intercept Brasil sobre as relações promíscuas entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa da "lava jato".

Essas revelações confirmaram que a operação "lava jato", sob o pretexto de combater a corrupção, se transformou em um partido político, contribuindo para a destituição de Dilma Rousseff em 2016, bem como para a perseguição política contra ao ex-presidente Lula. Essa perseguição funcionou, pois permitiu a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República”, diz o texto.

Leia a íntegra da carta:

Como ex-presidentes de Cortes Superiores de Justiça, gostaríamos de chamar à reflexão os nossos colegas magistrados do Supremo Tribunal Federal e, mais amplamente, a opinião pública deste país para os vícios dos processos iniciados contra Lula.
Como já foi mencionado por muitos colegas, brasileiros e de outros países do mundo, as revelações do jornalista Glenn Greenwald e sua equipe do site de informações The Intercept, em parceria com os jornais Folha de S. Paulo e El País, a revista Veja e outras mídias, reforçaram a natureza política da acusação contra Lula. Elas também confirmaram aos olhos do mundo, como sempre foi afirmado por Lula e seus advogados, o caráter tendencioso do ex-juiz Moro e do ministério público, e, como resultado, a ausência de um julgamento justo e independente contra o ex-presidente.
Essas revelações confirmaram que a Operação Lava Jato, sob o pretexto de combater a corrupção, se transformou em um partido político, contribuindo para a destituição de Dilma Rousseff em 2016, bem como para a perseguição política contra ao ex-presidente Lula. Essa perseguição funcionou, pois permitiu a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República.
Numa época em que as democracias são postas à prova pela ascensão da extrema direita, e especialmente no Brasil, a justiça deve ser erguida como um baluarte contra o autoritarismo e a arbitrariedade. No entanto, devido aos procedimentos ilegais e imorais adotados contra o ex-presidente Lula, a justiça brasileira hoje está passando por uma verdadeira crise de credibilidade. Portanto, é essencial que os juízes da Suprema Corte exerçam plenamente seu papel de garantidores do respeito à Constituição e ponham fim às injustiças cometidas pelos promotores e pelo ex-juiz Sergio Moro. Enquanto o ex-presidente Lula não tiver sua inocência e sua liberdade plena restabelecida, a justiça brasileira não recuperará credibilidade. A falta de confiança no sistema de justiça brasileiro está corroendo o estado de direito e a democracia, com repercussões para todos os juízes do mundo."

Tomás Quadra-Salcedo
Franco Gallo
Giuseppe Tesauro

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