Comparações impróprias

Deputado do PSL acusa diretor de redação da IstoÉ de antissemitismo

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14 de novembro de 2019, 20h02

O deputado estadual de São Paulo Frederico D’Ávila (PSL) pediu nesta quinta-feira (14/11) que o Ministério Público abra inquérito contra o jornalista Germano Oliveira, diretor de redação da revista IstoÉ por antissemitismo. Segundo o deputado, a reportagem em que a revista chama o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wejngarten, de “Goebbels do Planalto”, comete injúria por discriminação racial e religiosa.

Marcelo Camargo/IstoÉ
O chefe da Secom de Bolsonaro, Fábio Wejngarten
Marcelo Camargo/IstoÉ

A reportagem conta como Wejngarten usou da Secom para financiar veículos de comunicação simpáticos ao governo, em detrimento dos que a revista chama de veículos críticos e independentes. O título da reportagem, O Goebbles do Planalto, equipara Wejngarten, judeu, a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista.

O texto afirma que Wejngarten usou de seus contatos na “comunidade judaica” para convencer empresários judeus a apoiar o presidente Jair Bolsonaro. A revista conta ainda que empresas de tecnologia israelenses ajudaram Wejngarten a montar um esquema de software de disparo de mensagens em massa de apoio a Bolsonaro durante a campanha. E conclui: “Os israelitas são conhecidos por atuarem no submundo do setor de segurança e informação”.

A expressão “israelita”, nesse contexto, segundo o deputado Frederico D’Ávila, é antissemita e discriminatória. Israelita não se confunde com israelense, que é quem nasceu em Israel. Israelita é como se definem, no Antigo Testamento, os descendentes de uma das 12 tribos de Judá — em outras palavras, os judeus.

“Houve, indisfarçavelmente, o intento de associar a figura do agente público criticado com o fato de ser ‘judeu’, deixando subentendida gravíssima insinuação de que o verdadeiro alvo da crítica — ou, na hipótese mais benigna, como objetivo colateral dolosamente planejado e praticado – não seria exatamente a conduta ou os atos da pessoa pública, crítica essa eventualmente abrangida pela liberdade de expressão, mas sua ascendência judaica e suas ‘conexões’ com a comunidade judaica, o que, na presente quadra histórica, é inadmissível e injustificável sob qualquer aspecto”, afirma a petição enviada pelo deputado do PSL ao MP-SP. O documento é assinado também pelos advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe Locke Cavalcanti, do Knopfelmacher Advogados.

Pegou mal
D’Ávila não foi o único que viu antissemitismo na reportagem. A Confederação Israelita do Brasil (Confib) enviou carta à IstoÉ para dizer que “protesta veementemente” contra a reportagem. Para a entidade, a revista fez “ataques à comunidade judaica e a Israel e ainda traz comparações lamentáveis e indevidas de membros da comunidade judaica com o nazista Joseph Goebbels”.

O texto da IstoÉ acusa Wejngarten de ter transformado a Secom numa agência de propaganda do governo Bolsonaro. Mas de fato faz várias referências ao fato de o ministro ser judeu e subentende que a comunidade judaica brasileira, especialmente de São Paulo, compartilharia da postura da nova Secom — cuja postura a reportagem, embora fale em “conexão judaica” compara às práticas nazistas de cooptação da imprensa.

Em nota de explicação, a IstoÉ diz que “lamenta profundamente” a interpretação que se deu à reportagem. “A matéria claramente condenou os métodos nazistas de propaganda de Goebbles, tanto é assim que criticou a própria postura discriminatória da Secom”, diz a nota.

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Leia a nota de explicação da IstoÉ:

Explicação de ISTOÉ para a Comunidade Judaica

ISTOÉ lamenta profundamente se, em algum momento, a Comunidade Judaica se sentiu atingida pela reportagem publicada na última edição da revista, de número 2602, que tratou do secretário de Comunicação do Governo Federal, senhor Fábio Wajngarten.

O único objetivo da matéria foi o de mostrar, independentemente da religião do senhor Fábio Wajngarten, que a sua atuação de boicote publicitário no governo não está se dando tão somente em relação à ISTOÉ, mas também em relação a outros órgãos de comunicação, de forma não republicana e contrária às determinações legais da mídia técnica.

A matéria trata sobre o secretário e seus métodos discricionários, jamais tenta abranger a Comunidade Judaica, que, como sempre, merece todo o nosso respeito. A matéria claramente condenou os métodos nazistas de propaganda de Goebbles, tanto é assim que criticou a própria postura discriminatória da Secom. A comparação entre os dois personagens se dá exclusivamente pelo aspecto de método de atuação. A reportagem é de cunho exclusivamente político, mesmo quando fala da mobilização de Wajngarten na comunidade. ISTOÉ critica Wajngarten, não a comunidade judaica.

ISTOÉ, com sua tradição democrática, sempre defendeu a liberdade religiosa, abominando todo e qualquer regime autoritário, como foi o nazismo e o comunismo. A posição de ISTOÉ é de absoluto repúdio a preconceitos de qualquer natureza: religioso, gênero, etnia, político.

A matéria tem um sentido puramente republicano, de informar que a Secom age de forma parcial e anti-democrática. Reiteramos que jamais apoiamos ou apoiaremos atitudes e reportagens anti-semitas. ISTOÉ jamais defendeu ou defenderá os regimes nazista e fascista, criminosos que foram contra os judeus e contra a humanidade.

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