Vaza Jato

Defensor denuncia grampo na PF e fala em 'tortura psicológica' sofrida por hackers

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13 de novembro de 2019, 10h47

O defensor público federal Igor Roque, em conversa com a ConJur, denunciou a existência de um grampo clandestino implantado no chuveiro de uma das celas na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Segundo Roque, quem relatou o acontecido foi Walter Delgatti Neto, o Vermelho, personagem que ficou nacionalmente conhecido por ter hackeado conversas entre o ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro e os membros da força-tarefa da "lava jato".

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Acusados de hackear telefones de Moro e de membros do MP sofrem tortura psicológica na prisão, diz defensor

Roque representa Danilo Marques, o motorista de aplicativo preso na cidade de Araraquara (SP) na primeira fase da operação ‘spoofing’ há quase três meses. A diligência da PF prendeu pessoas suspeitas pelo vazamento de conversas que mostram as relações promíscuas entre Moro e os membros do MPF.

O defensor revela que ficou sabendo do grampo clandestino no último dia 31, ao presenciar uma reunião entre Delgatti e o seu advogado. Segundo Roque, o hacker relatou que encontrou um dispositivo de escuta no chuveiro e que o Thiago Eliezer — um preso que estava com ele e foi detido na segunda fase da operação — tinha falado sobre o caso com seu advogado,  e que a Corregedoria da PF tinha falado com eles para ter mais detalhes sobre a descoberta.

“Conversamos com o delegado responsável pelo inquérito, Luiz Flávio Zampronha, que disse que não estava sabendo de nada relativo a nenhum grampo”, diz. Segundo Roque, os defensores dos envolvidos no caso ficaram esperando algum desdobramento, mas até agora nada foi apurado pela PF.

“A partir daí resolvemos tomar a frente. Conversamos com a imprensa e relatamos o caso. Estamos formulando um pedido de investigação e pelo que estamos sabendo já foi instaurado um procedimento interno lá”, explica. Ele também revela que se encontrou nesta terça-feira com Delgatti e que ele repetiu a história com riqueza de detalhes. Uma particularidade é que os presos tiveram o banho de sol negado nos dias em que estiveram expostos a escuta.

Tortura psicológica
Segundo o defensor Igor Roque, a prisão dos envolvidos no vazamento das conversas entre Moro e membros do MPF apresenta indícios de tortura psicológica. “Quando eles vão ser ouvidos, agentes da PF perguntam se eles querem ficar presos para o resto da vida. Essa detenção tem sido marcada pela tortura psicológica”, explica.

Conforme Roque, a prisão dos envolvidos tem sido mantida para arrancar informações que simplesmente não existem. “A gente quase pergunta para o agente da PF sobre que nome ele quer que os acusados falem. Porque o que tinha para ser falado já foi falado”, comenta.

O defensor explica também que pretende conversar com o delegado responsável pelo inquérito antes de fazer o pedido de investigação para a PF, até "por uma questão de respeito a outro profissional envolvido no processo".

“A desconfiança é que, de fato colocaram essa escuta lá e promoveram o encontro do Delgatti e o Thiago para pegarem alguma informação”, diz.

O defensor afirma também que nunca passou por algo parecido em sua carreira. “Eu acho que estamos vivendo nos últimos anos uma situação bastante atípica do ponto de vista processual penal. De respeito as garantias. Sobretudo depois da onda da ‘lava jato’ então eu nunca tinha vivenciado uma situação dessas”, comenta.

Ele diz que ninguém da Polícia Federal apresentou um mandado que justifique os grampos. “Isso, num português coloquial, é uma vergonha, se você pensar em procedimento de investigação de uma instituição do porte da Polícia Federal”, diz.

Não é a primeira vez
Esse não é um caso inédito de grampo ilegal no âmbito da "lava jato". O doleiro Alberto Youssef, delator da operação, afirmou em depoimento na Corregedoria da Polícia Federal que foram encontradas escutas na carceragem da corporação em Curitiba, quando foi preso, em março de 2014. Segundo ele, os grampos não foram autorizados pelo então juiz Sergio Moro.

Nos depoimentos, ele disse ter ouvido falar de um dos presos, cujo nome não se recorda, de que "os presos olharam e puxaram o equipamento para fora, momento em que o depoente fez sinal para que nada falassem e recolocaram o equipamento no lugar".

Os procedimentos da PF são bastante questionados pelo defensor federal Igor Roque. “Eles estão em poder de tudo e os quatro presos (Walter Delgatti Neto, Luiz Henrique Molição, Thiago Eliezer Martins e Danilo Marques) — porque a Suellen Priscila de Oliveira foi solta — permanecem presos. E isso é uma coisa que é dita sem nenhum tipo de constrangimento. A PF podia chegar para gente e dizer… ‘olha, queremos que vocês digam que foi fulano. Isso iria facilitar a vida de todo mundo, menos dos réus. Dizem que eles receberam dinheiro de alguém e já esmiuçaram a vida deles sem encontrar nada. É uma luta de David contra Golias, não está fácil, não”, lamenta.

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