Semana de quatro dias úteis aumenta a produtividade, diz banca dos EUA
10 de novembro de 2019, 10h10
Na banca Benenati Law, de Orlando, na Flórida, a semana só tem quatro dias úteis desde o início deste ano. A sexta-feira foi integrada ao fim de semana. O resultado foi positivo: aumentou a produtividade do escritório e o ânimo dos advogados e empregados, anunciou, na quinta-feira (7/11), o sócio administrativo Walter Benenati.
Ninguém está trabalhando menos. Só mudaram os horários. Em vez de trabalhar das 9h às 17h (8 horas por dia, 40 horas por semana), como é padrão nos Estados Unidos para a semana de cinco dias úteis, quem optou pela semana de trabalho abreviada passou a trabalhar das 8h às 18h (10 horas por dia, 40 horas por semana) — sempre com meia hora de lanche.
A Benenati Law, que se dedica a mover ações de indenização por danos (mais em casos de acidentes), tem apenas cinco advogados. Um deles dá plantão a cada sexta-feira, para se encarregar do que aparecer e encaminhar as coisas.
Dos 19 funcionários, 14 adotaram a semana reduzida por vontade própria. Um gestor de casos e quatro funcionários optaram por manter a semana de cinco dias úteis, porque preferem trabalhar das 9h às 17h. Assim, eles também estarão no escritório nas sextas-feiras, no horário de expediente tradicional.
Os advogados e funcionários que adotaram a semana de quatro dias úteis têm a sexta-feira para ir ao dentista, ao médico, ao banco, à oficina, a um órgão público e para resolver todos os tipos de problemas pessoais — sem ter de sair durante o expediente normal.
Esse é um dos fatores que geraram aumento da produtividade — e, portanto, uma vantagem para o escritório. Outro fator é o de que tudo tem de ficar pronto na quinta-feira, o que leva todo mundo a se concentrar mais no trabalho nos quatro dias disponíveis. E todos voltam ao trabalho renovados na segunda, depois de um fim de semana prolongado.
Do lado pessoal, os advogados e empregados perceberam a sexta-feira livre como um aumento na qualidade de vida. Não só para resolver problemas pessoais. Walter Benenati, por exemplo, diz que fica muito feliz com a oportunidade de buscar o filho na escola, pelo menos um dia na semana. E de fazer as coisas junto com a mulher. Isso se chama “quality time” com a família.
Para os advogados, a semana abreviada pode ser particularmente interessante, por causa do nível de pressão e de estresse em que operam. Pode ser uma medida que contribui para atender uma necessidade da classe: a de manter a saúde mental.
Nos EUA isso é fundamental, porque os advogados são os profissionais que mais cometem suicídio. Ou lutam para se livrar do alcoolismo.
Walter Benenati contou ao The American Lawyer a bem-sucedida experiência da banca, depois que foi publicada, dias antes, a notícia de que a Microsoft adotou a semana de quatro dias no Japão, com muito sucesso. A empresa anunciou um aumento na produtividade de 40% — embora tenha sido apenas um projeto experimental.
No embalo, as notícias deram conta de que a semana de quatro dias úteis se tornou uma bandeira do Partido Trabalhista no Reino Unido. E no Fórum Econômico Mundial, no começo do ano, o psicólogo organizacional Adam Grant, da Escola de Negócios da Universidade da Pensilvânia, defendeu a semana de quatro dias úteis.
Porém, semana de quatro dias úteis é para quem pode. Para grandes bancas, por exemplo, seria muito mais complicado montar um esquema para a semana de apenas quatro dias úteis funcionar satisfatoriamente. Ou elas não podem se dar ao luxo de trabalhar apenas com plantão na sexta-feira. Assim como há empresas, em geral, que precisam operar todos os dias da semana, incluindo sábados e domingos.
Alternativa para as grandes
Desde que foram inventados o e-mail e o telefone celular, os advogados, especialmente de grandes bancas, não têm sossego em suas férias. Ou mesmo quando tiram uns dias de folga. Isso tem uma razão: um advogado pode ser o único responsável por um caso ou por um cliente. E, quando há um problema premente, ele tem de entrar em ação — mesmo que esteja em um resort à beira-mar.
Para a consultora jurídica e cofundadora da Bliss Lawyers Debbie Henry, a solução é adotar um sistema de trabalho semelhante ao dos médicos: um médico vai para casa, o outro assume os cuidados de um paciente que está entre a vida e a morte. Ou seja, em grandes escritórios, os advogados deveriam trabalhar em equipe — no caso, equipe de dois — em cada caso.
Por esse sistema, os dois advogados se inteiram de tudo sobre o caso, participam juntos de reuniões relacionadas a eles, trabalham juntos nos documentos, ficam sabendo de tudo o que foi conversado com o cliente e dos procedimentos no tribunal. Tudo é melhor trabalhado e sai mais rapidamente.
Quando um advogado precisar tirar uma semana de folga, para relaxar, ele não vai fazer falta no escritório. O companheiro de equipe se encarrega de tudo. E ele pode desligar o celular e não ler e-mails — sem sentimento de culpa.
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