De volta pra casa

Lula critica presidente, ataca Moro, "lava jato", e Bolsonaro comenta pela 1ª vez

Autor

9 de novembro de 2019, 16h19

O ex-presidente Lula voltou neste sábado (9/11) ao reduto de origem do PT, a região do ABC paulista, onde em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos fez nesta tarde um duro discurso contra a “lava jato” e o ex-juiz Sergio Moro. Também se referiu ao presidente Jair Bolsonaro como "miliciano". Mais cedo, o atual mandatário comentou publicamente pela primeira vez a soltura do petista e o chamou de "canalha" e cheio de culpa.

Foto: Ricardo Stuckert
Lula após o discurso em São Bernardo
Ricardo Stuckert

Lula se referiu à gestão Bolsonaro como um governo de milicianos. "Não adianta ficar com medo. Não adianta ficar preocupado com as ameaças que eles fazem na televisão, que vai ter miliciano, que vai ter AI-5 outra vez. A gente tem que ter a seguinte decisão: esse país é de 210 milhões de habitantes, e a gente não pode permitir que os milicianos acabem com este país que nós construímos."

Lula foi solto nesta sexta-feira (8/11), beneficiado por um novo entendimento do Supremo Tribunal Federal, um dia antes, sobre a execução antecipada da pena.

O encontro com líderes petistas, de outros partidos de esquerda, de sindicatos e de movimentos sociais ocorreu em São Bernardo do Campo. Foi lá, em abril de 2018, que o ex-presidente fez seu último discurso antes de se entregar a policiais federais e ser levado à prisão em Curitiba, onde passou 580 dias.

Neste sábado, Lula discursou em cima de um caminhão de som e estava acompanhado, entre outros, do ex-prefeito e ex-presidenciável Fernando Haddad, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de Guilherme Boulos (MTST), de João Paulo Rodrigues (MST) e do deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ).

"O Moro não era um juiz, e sim um canalha que estava me julgando", disse o presidente, ao se referir ao hoje ministro da Justiça que o condenou no processo do tríplex de Guarujá que o levou à prisão. Em seguida, disse que o procurador Deltan Dallagnol montou quadrilha no comando da força-tarefa da "lava jato", em Curitiba. "Uma mentira atrás da outra."

Em seguida, atacou o presidente eleito. "O Bolsonaro chegou a confessar que ele devia as eleições ao Moro. Na verdade, ele deve ao Moro, ele deve aos juízes que os julgaram e à campanha de fake news que fizeram contra o companheiro Fernando Haddad e à esquerda deste país."

Lula disse aceitar o resultado da eleição, mas que Bolsonaro foi eleito democraticamente para governar o país, e não para as milícias do Rio de Janeiro. "É preciso de uma perícia séria", numa referência ao sistema da portaria do condomínio onde ele tem casa, na Barra da Tijuca, em investigação no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ), em março de 2018.

O petista também foi condenado, até aqui apenas em primeira instância, no caso do sítio de Atibaia (SP). Segundo a decisão, também após denúncia do Ministério Público Federal em Curitiba, ele recebeu vantagens indevidas das empreiteiras Odebrecht e OAS em troca de favorecimento às empresas em contratos da Petrobras.

Nas próximas semanas, a Segunda Turma do STF deverá julgar um Habeas Corpus no qual a defesa de Lula sustenta que Moro, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, atuou sem a imparcialidade necessária no processo do tríplex de Guarujá. Com base nisso, quer que o colegiado anule o processo inteiro.

Bolsonaro e Moro
Também neste sábado, mas pela manhã, ao se manifestar pela primeira vez sobre a soltura de Lula, Bolsonaro pediu aos seus seguidores que não deem "munição ao canalha", em uma referência ao líder petista.

Sem citar o nome do ex-presidente, postou um vídeo em homenagem ao ministro da Justiça, Sergio Moro"Iniciamos a [sic] poucos meses a nova fase de recuperação do Brasil e não é um processo rápido, mas avançamos com fatos. Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa", escreveu o presidente em redes sociais.

No vídeo que acompanha a publicação, Bolsonaro recupera um discurso em que afirma que pessoas de bem são maioria no Brasil e atribui a Moro parte da responsabilidade por sua chegada à Presidência da República. Condenado e preso em 2018, Lula foi impedido de disputar as eleições. "Em parte, o que acontece na política no Brasil, devemos a Sergio Moro", disse.

"Amantes da liberdade e do bem, somos a maioria. Não podemos cometer erros. Sem um norte e um comando, mesmo a melhor tropa, se torna num bando que atira para todos os lados, inclusive nos amigos. Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa", escreveu em seguida, em novo post.

Minutos depois, também em uma rede social, Moro escreveu: "Lutar pela Justiça e pela segurança pública não é tarefa fácil. Previsíveis vitórias e revezes [sic]. Preferimos a primeira e lamentamos a segunda, mas nunca desistiremos. A decisão do STF deve ser respeitada, mas pode ser alterada, como o próprio Min. Toffoli, reconheceu, pelo Congresso".

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!