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Advogadas mães exploram um novo nicho nos EUA: o das mães

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12 de maio de 2019, 7h32

Ser mãe é uma nova qualificação profissional nos EUA. Advogadas autônomas, sócias ou empregadas de escritórios de advocacia que se especializam em Direito de Família estão destacando essa “vantagem” em biografias e em material de marketing. Isso é resultado de uma tendência que está se firmando no país: mães que buscam representação em casos de divórcio, custódia, relações domésticas e tudo que pode estar relacionado com ela e com os filhos preferem contratar uma advogada que também seja mãe.

Olena Kachmar
Nos EUA, mães que buscam representação em casos de família preferem contratar uma advogada que também seja mãe
Olena Kachmar

Afinal, ninguém entende melhor uma mãe do que outra mãe. Ninguém vai dar mais atenção e lutar mais pelos direitos das mães e seus filhos do que uma advogada que também é mãe. Essas são, basicamente, as explicações que novas clientes dão à advogada Nanda Davis, que também é mãe, na primeira reunião. “Eu pesquisei na internet e escolhi você por também ser mãe”, ela diz ter ouvido inúmeras vezes, conforme escreveu em um artigo para o site Above the Law.

Se a futura cliente visitar o site da Davis Law Practice (de Nanda Davis), vai ver quatro botões. O primeiro leva a um texto em que ela explica o tipo de representação que oferece aos clientes (porque ela também atende homens, pelo menos por enquanto). O segundo vai a seu principal nicho de marketing. Sob o título “Mãe e Advogada”, ela escreve:

“Na condição de mãe, eu entendo que, quando você vai ao tribunal como mãe, o resultado irá afetar não só a você, mas também seus filhos. Com seus filhos envolvidos, os riscos não podem ser mais altos. Apenas outra mãe pode entender como é terrível não saber o que pode acontecer com seus filhos e eu prometo colocar você e seus filhos acima de tudo”.

Nanda Davis faz parte de um grupo de advogadas mães que criou a “MothersEsquire”, que pretende acabar com a “penalidade de ser mãe”. Além disso, a organização assumiu as missões de promover a equiparação salarial das mulheres e defender a promoção e as taxas de retenção. Mas o mais essencial está expresso nos “objetivos” da organização:

  • fornecer apoio, recursos, treinamento, informações e oportunidades de networking a advogadas com família;
  • fornecer treinamento e informações a escritórios de advocacia e outros empregadores jurídicos sobre políticas e práticas que irão ajudá-los a reter talentos valiosos de advogadas durante período de cuidados críticos (da família).

Nanda Davis conta que a primeira gravidez a deixou preocupada profissionalmente. Ela pensou que os clientes iriam supor que ela estaria menos comprometida com o trabalho, por causa de sua dedicação ao filho. Mas aconteceu o contrário. Ela passou a atrair mais clientes e se tornou melhor advogada na sala de julgamento. Hoje, as clientes dela preferem remarcar reuniões a mudar de advogado, quando ela tem um problema em casa. Elas sabem como isso funciona.

Para as mães, enfrentar um julgamento é uma situação crítica, porque vêm à tona situações do casamento, das finanças, da maternidade e das escolhas que fez na vida. As mães também cometem erros, sofrem frustrações, têm conflitos e receio de não terem feito o certo. A última coisa que elas querem é um advogado que irá julgá-las duramente por escolhas que fizeram como mães. Por isso, querem se relacionar com alguém que as entenda. É impossível entender, por exemplo, as consequências de noites seguidas sem dormir por causa dos filhos.

As advogadas mães também são mais qualificadas para preparar suas clientes para testemunhar no tribunal sobre as dificuldades únicas que enfrentam com as crianças. As clientes se abrem mais e se sentem melhor ouvidas. Além disso, as advogadas mães também têm se dedicado a “educar” os juízes — embora há mais juízas hoje em dia, ainda há muitos juízes que nunca tiveram de cuidar dos filhos.

As advogadas mães do grupo que constituiu a MotherEsquire também representam mães, com alguma vantagem, em outras áreas do Direito. Elas atuam, por exemplo, na área criminal e podem explicar melhor como o estresse da maternidade pode afetar a intenção ou questões sobre cuidados com crianças podem vir à tona em julgamentos.

Elas atuam também em casos relacionados a fundos patrimoniais, inventários, testamentos e fideicomissos, sempre que os interesses únicos das crianças estão em jogo. Enfim, há muitas áreas em que a conexão de uma mãe com a advogada mãe se torna o fator decisivo na escolha de um advogado, elas dizem.

Nanda Davis afirma que os escritórios de advocacia devem destacar nas biografias de seus sites ou em qualquer material de marketing as advogadas que são mães. Elas ajudam a atrair mais clientes e reter os atuais. Assim, em vez de tratá-las como um encargo, devem tratá-las como mais um recurso útil do escritório.

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