Mordaça Advocatícia

Novo Código de Ética do Carf desrespeita prerrogativas dos advogados

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9 de maio de 2019, 14h36

O imbróglio em torno do novo código de ética do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) parece não ter fim. A nova norma, republicada, afirma que advogados não podem conversar com conselheiros em particular ou em sessões, limitando prerrogativas previstas em lei. 

Agência Senado
Receber advogado no corredor pode render processo disciplinar a conselheiro.
Agência Senado

O artigo 34 diz que "a concessão de audiências às partes deve ser especialmente norteada pelos princípios da transparência, independência e isonomia, evitando-se o conflito de interesses". "Não é cabível a concessão de audiência para processos cujo julgamento da peça recursal tenha sido iniciado e não concluído e são vedadas discussões particulares entre conselheiros e interessados a respeito de processos fora do ambiente das audiências", diz trecho do dispositivo. 

Na prática, se o advogado entregar memoriais em julgamento e depois quiser conversar com algum conselheiro, o diálogo pode ser considerado audiência. E, por isso, tem que ser marcado antecipadamente. Depois do início do julgamento, os advogados não podem mais falar sobre o caso ou esclarecer algum ponto.

No Carf, conselheiros dos contribuintes são advogados licenciados. Com a nova norma, se o conselheiro receber o advogado no corredor, pode sofrer um processo disciplinar. O processo pode ser vencido na Justiça, mas o conselheiro corre o risco de não ser reconduzido a um novo mandato por isso.

Ilegalidade
A limitação às audiências desrespeita o estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. O Estatuto da Advocacia estabelece que  é prerrogativa de advogados o atendimento pelos magistrados, independentemente de agendamento prévio.

Conselheiros dos contribuintes e da Fazenda ouvidos pela ConJur afirmam que a proibição, aventada para coibir a corrupção, não vai atingir seu propósito. "Nem em presídio federal  de segurança máxima a audiência com o advogado é gravada e feita na presença de agentes públicos", dizem. 

Procurado, o Ministério da Economia ainda não se manifestou sobre o assunto. 

Reformulado
Em 30/4, após críticas, o Carf reformulou o novo código de ética que restringia o posicionamento público dos conselheiros. 

Em comunicado, o Carf afirma que o conselheiro é livre para expressar seu entendimento técnico sobre matéria tributária no meio acadêmico, em palestras, seminários, livros e artigos, "mas com o cuidado de que isso não represente uma antecipação de seu posicionamento pessoal quanto à questão não pacificada, pendente de julgamento no colegiado que integra (a norma visa, além da imparcialidade, a proteção do próprio conselheiro).

Clique aqui para ler o Código de Ética do Carf. 

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