Protesto contra brasileiros

Manifestação de alunos é ato isolado de xenofobia em Portugal, diz Carlos Blanco

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5 de maio de 2019, 11h24

Em Portugal não existe qualquer atitude xenófoba com um mínimo de relevância contra os cidadãos brasileiros, que constituem a comunidade de estrangeiros mais bem integrada na sociedade nacional. A avaliação é do professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Carlos Blanco de Morais.

Agência Brasil
Para Carlos Blanco, em Portugal não existe qualquer atitude xenófoba com um mínimo de relevância contra os cidadãos brasileiros.
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A declaração é em razão de acontecimentos da última segunda-feira (29/4), quando um grupo de estudantes portugueses organizou um protesto contra a presença de universitários brasileiros.

Os integrantes de um movimento acadêmico colocaram uma caixa com pedras no hall do prédio da Faculdade de Direito, sinalizada com placas onde se lia "Loja de souvenirs. Grátis se for para atirar a um zuca que passou à frente no mestrado". "Zuca" vem do termo "brazuca", comumente utilizado em Portugal como referência aos brasileiros.

A instalação com as pedras teria sido motivada por uma disputa de vagas de mestrado. Os alunos, especificamente um grupo intitulado "Tertulia Libertas", não estariam contentes em ver brasileiros ocuparem as vagas enquanto alguns portugueses não são aprovados.

Ao classificar o grupo como “grupúsculo”, em entrevista à Conjur, Carlos Blanco afirma que o acontecimento não é minimamente representativo da faculdade, dos professores e dos estudantes.

“É constituído por pessoas irresponsáveis, uma fração marginal de uma organização informal designada por 'Tertúlia', com décadas de permanência na faculdade, que se especializou, com o pretexto de sátira, a atacar pessoas, a começar pelos professores e assistentes e a acabar nos colegas. Proferem ataques não assinados e obscenos especialmente contra docentes. Eles são alunos boêmios, repetentes e de orientação anarquista”, avalia.

Depois de uma reunião entre a direção, o Núcleo de Estudantes Luso-Brasileiro (Nelb) e os alunos que se identificaram como autores da instalação com as pedras, foi aberto um inquérito para apurar as responsabilidades, que poderá resultar na instauração de um procedimento disciplinar.

Representatividade
Segundo Blanco, na Universidade de Lisboa existem milhares de alunos brasileiros, muitos deles na Faculdade de Direito, representando nesta mais de 20%.

“Existe, paralelamente, um instituto da faculdade dedicado à cooperação com o Brasil, que é o Instituto de Direito Brasileiro. Temos igualmente projetos de pesquisa, doutoramentos em cotutela, obras coletivas comuns. Lamento que uma cooperação tecida durante anos com um entrosamento tão grande entre professores e estudantes dos dois países possa ter sido momentaneamente confundida pela ação isolada de poucos irresponsáveis”, diz.

Segundo o professor, a imprensa portuguesa e a brasileira deram uma projeção “desproporcionada a um ato isolado, ficando uma imagem distorcida de que haveria manifestações xenófobas antibrasileiras em Portugal”. 

“Algumas reportagens falando em brincadeira 'sangrenta' chegaram mesmo ao ridículo e à falta absoluta de isenção, ao ponto de um colega brasileiro que participou no VII Fórum em Lisboa me dar ironicamente nota do questionamento de um amigo que lhe teria perguntado se teriam sido apedrejados durante o congresso deste ano, o que é de facto risível”, aponta.

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