Credibilidades em jogo

Globo nega ser parceira da "lava jato", como diz o jornalista Glenn Greenwald

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13 de junho de 2019, 22h04

O jornalista Glenn Greenwald, um dos responsáveis por divulgar que o governo dos Estados Unidos espiona empresas e governos do mundo inteiro, agora voltou suas baterias para a TV Globo. Seu site, o The Intercept Brasil, divulgou mensagens que mostram cumplicidade entre o então juiz Sergio Moro e os procuradores da apelidada “operação lava jato” para forçar condenações artificialmente. Segundo Greenwald, a Globo tenta desacreditar seu trabalho e atua como aliada dos investigadores e do juiz.

Reprodução/Globo
Glenn Greenwald acusa Globo de se aliar à "lava jato" para atrapalhar Lula e o PT nas eleições de 2018. Emissora diz que ele mente.
Divulgação

A Globo, sintonizada com 30% dos brasileiros todos os dias, segundo o Ibope (o segundo lugar, SBT, atinge menos de 6%, em média), diz que o jornalista mente.

Em duas oportunidades, Greenwald criticou a postura da TV de questionar a credibilidade de suas fontes e chamar o caso de "suposto vazamento" ou tratar o conteúdo como "supostas mensagens", assumindo o discurso da força-tarefa.

O jornalista diz que todos os veículos de comunicação o procuraram para divulgar o material, "menos a Globo, porque querem esconder o material", conforme disse em entrevista à rádio Jovem Pan nesta quinta-feira (13/6). Para ele, a Globo se aliou a membros da "lava jato" para que o PT não ganhasse as eleições de 2018 — argumento reforçado pelo fato de o ex-juiz Sergio Moro ter sido recompensado com o cargo de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

Greenwald conta ter ido à Globo tentar uma parceria para a divulgação do material. Foi com a TV que ele divulgou as reportagens sobre a espionagem dos EUA, com base em documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da Agência de Segurança Nacional dos EUA. A parceria rendeu à dupla todos os prêmios de jornalismo da época.

Mas, com as mensagens da "lava jato", Greenwald disse ter ouvido que João Roberto Marinho, dono da TV, tinha proibido qualquer funcionário da TV de trabalhar com ele.

Kamel nega e diz que Greenwald está mentindo. Em nota, ele afirma que o jornalista procurou a redação do Fantástico para “nova proposta de trabalho”, mas desistiu logo depois. Kamel conta que ele pedia apoio da Globo para divulgar um material, sem revelar do que se tratava. Como a TV não quis se comprometer nesses termos, recuou. "A Globo não dá cheque em branco a ninguém, especialmente a Glenn Greenwald", disse, em nota.

À Agência Pública, Greenwald disse que "a Globo e a ‘lava jato’ são parceiras", e por isso a TV tem procurado evitar tratar os vazamentos do Intercept com a importância que eles têm. 

Para Greenwald, a Globo tem "postura de governo": "Quando você denuncia ações de corruptos ou trata de problemas sobre o governo, ele sempre tenta distrair falando somente sobre quem revelou essa corrupção, quem divulgou esses crimes para criminalizar pessoas, jornalistas ou fontes que revelaram o material. É o que a Globo está usando".

Greenwald afirma que a Globo age assim porque os documentos a que teve acesso “mostram como Moro e Deltan estão trabalhando juntos com a Globo”.

Em resposta a essa entrevista, a Globo disse que Greenwald a ataca por não ter conseguido o tal "cheque em branco". E o chama indiretamente de ingrato: na época dos documentos de Snowden, diz a nota da TV, Greenwald pediu para que os nomes de funcionários de carreira da NSA não fossem revelados, sob pena de ele ser acusado de colocar a segurança nacional dos EUA em risco. A Globo, continua a nota, assumiu a responsabilidade por divulgar os nomes, o que “o livrou de qualquer risco”.

"A Globo cobriu a 'lava jato' com correção e objetividade, relatando seus desdobramentos em outras instâncias, abrindo sempre espaço para a defesa dos acusados", insiste a TV, na nota. E ataca o jornalista: "O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele".

Os protagonistas da disputa parecem ter encontrado adversários à própria altura, mas a contenda não tem data para acabar. As próximas semanas, ou meses, dirão quem acertou mais — ou errou menos — em suas estratégias.

*Texto editado pra correção de informação. Glenn Greenwald não falou com Ali Kamel sobre a divulgação do material, ao contrário do que dizia esta notícia.

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