Ciclo de notícias

PF tenta ligar suspeitos presos a mensagens de Moro vazadas pelo Intercept

Autor

25 de julho de 2019, 17h58

No início de junho, o ministro da Justiça, Sergio Moro, disse que teve seu celular hackeado durante seis horas. Quando foi à Câmara explicar aos deputados sua relação com os procuradores da “lava jato” vazadas pelo site The Intercept Brasil, foi questionado sobre um inquérito para investigar a suposta invasão de seu celular. Os deputados queriam saber se Moro usaria o inquérito para tentar atingir os jornalistas do Intercept. “Acompanho esse inquérito como vítima”, disse Moro então.

A partir da quarta-feira (24/7), a Polícia Federal começou a divulgar que os presos em sua operação anti-hackers não só invadiram o celular de Moro e de outras autoridades como enviaram dados a Glenn Greenwald, fundador do Intercept. A informação foi divulgada pelos principais jornais do país: “Hacker diz à polícia que deu a site acesso a conversas de Moro”, conforme o Estado de S. Paulo.

O tom seguiu o do ministro Moro, que no Twitter relacionou as prisões à divulgação de suas mensagens pelo Intercept. A relação não foi feita pelo relatório da PF sobre inquérito nem pelo pedido de prisão do Ministério Público Federal. Muito menos no despacho de deflagração da operação, do juiz Valisney de Souza, da Justiça Federal de Brasília – os documentos oficiais do inquérito, aliás, não falam em vazamento, mas no uso de um sistema de VoIP que permite fazer ligações a partir de um celular com o número de outro.

Já na quarta, o site Jornal da Cidade Onlineconhecido por inventar o que pretende noticiar, disse que um dos presos pela PF havia confessado ter entregado dados de forma anônima a Greenwald. A notícia se reportava ao site O Antagonista. Mas O Antagonista não disse isso. Nota assinada pelo jornalista Cláudio Dantas informava que um dos presos pela PF havia confessado ter invadido os celulares de “centenas de autoridades”, entre elas Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Mas o Estadão comprou a versão que parecia ser do Jornal da Cidade Online e a publicou na noite da quarta e na edição impressa desta quinta-feira (25/7). Um pouco mais tarde, a Folha de S.Paulo esclareceu e noticiou: “Para a Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, preso na última terça-feira (23) sob suspeita de atuar como hacker, foi a fonte do material que tem sido publicado desde junho pelo site The Intercept Brasil com conversas de autoridades da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba”. Embora o título da notícia não mencione que a fonte da informação tenha sido a PF. Só o UOL foi mais claro, ao mudar a manchete da Folha para “PF diz que…”

Tudo isso era para ser sigiloso, mas não dá para reclamar. O vazamento mostra como nascem e de onde saem informações que acabam transformadas em notícias.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!