"Vaza jato"

Moro exigia do MPF que acordo de delação premiada previsse pena de prisão

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18 de julho de 2019, 12h40

Quando juiz dos casos da operação "lava jato", o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, ignorou a lei e disse ao Ministério Público Federal como queria que fossem os acordos de delação premiada. A interferência foi revelada nesta quinta-feira (18/7) em mais uma leva de conversas vazadas entre procuradores. 

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Moro disse aos procuradores da "lava jato" desejar que os acordos de colaboração com executivos da Camargo Côrrea previssem pelo menos um ano de prisãoPablo Valadares/Câmara dos Deputados

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo e do site The Intercept Brasil mostra que Moro disse aos procuradores da "lava jato" desejar que os acordos de colaboração premiada com executivos da Camargo Côrrea previssem pelo menos um ano de prisão. O magistrado acabou sendo atendido. 

A Lei das Organizações Criminosas, de 2013, determina que os juízem não podem participar dos acordos de delação, para que mantenham sua imparcialidade ao julgar. Cabe aos magistrados apenas verificar a legalidade dos acordos após já terem sido fechados. 

Deltan obediente 
Moro foi atendido, mas desta vez seus desejos geraram discórdia entre os procuradores da "lava jato". As conversas vazadas mostram que Deltan Dallagnol continuou completamente alinhado ao juiz, mas Carlos Fernando dos Santos Lima ensaiou um motim. 

Santos Lima conduzia as negociações com os executivos da Camargo Côrrea. Deltan então lhe mandou uma mensagem no dia 23 de fevereiro de 2015: "A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos". 

As respostas de Santos Lima para Deltan mostram um grande incômodo com a subserviência a Moro. "O procedimento de delação virou um caos (…) O que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente”, disse. 

E depois continuou: “Não sei fazer negociação como se fosse um turco. (…) Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores”.

Como fiel escudeiro, Deltan tentou chamar o colega à razão para que acolhessem as ordens de Moro. "Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? (…) Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos (…). Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse". 

Em resposta à Folha e ao Intercept Brasil, Moro diz não ter interferido em nenhum acordo de delação e que não reconhece a autenticidade do material utilizados pelos jornalistas. 

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