Testemunha da História

Morre o poeta Paulo Bomfim, autor do hino do Tribunal de Justiça de São Paulo

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8 de julho de 2019, 11h02

Morreu neste domingo (7/7), aos 92 anos, o poeta Paulo Bomfim, decano da Academia Paulista de Letras (cadeira 35) e integrante do Tribunal de Justiça de São Paulo. O velório segue até o meio-dia desta segunda-feira (8/7) no Palácio da Justiça, de onde sairá para o sepultamento no Cemitério da Consolação. 

“É uma perda inestimável para a cultura e a memória de São Paulo e do Brasil”, afirmou o presidente do TJ-SP, desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças. “Paulo Bomfim deixa uma legião de amigos e admiradores no tribunal paulista, uma família que formou ao longo de décadas de serviços prestados ao Judiciário.”

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Retrato do poeta Paulo Bomfim, pintado em 1945 por Anita Malfatti
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Vida e obra 
Paulo Lébeis Bomfim nasceu em São Paulo, em 30 de setembro de 1926, filho de descendente de bandeirantes e fundadores de cidades. Sua mãe, Maria de Lourdes Lébeis Bomfim, era artista, e seu pai, Simeão dos Santos Bomfim — homem que sabia falar grego e latim —, formou-se médico em 1918, na primeira turma da Faculdade de Medicina de São Paulo. Pela influência dos pais, Paulo cresceu rodeado de cultura, desde criança convivendo com artistas amigos da família, como Guilherme de Almeida e Heitor Villa-Lobos.

Em 1932, o então menino presenciou a Revolução Constitucionalista, movimento que marcou sua vida e obra. Homens de sua família lutaram nas trincheiras, e mulheres participaram como enfermeiras e auxiliares. Sua tia Nicota cuidou das famílias dos exilados e hoje repousa no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera. À medida que os participantes envelheciam e morriam, o poeta foi tornando-se a memória viva da jornada constitucionalista. “A trincheira de 32 foi a pia batismal da democracia”, escreveu.

Foi aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas optou por não terminar o curso para se dedicar ao jornalismo. Iniciou suas atividades jornalísticas em 1945, no Correio Paulistano, e depois seguiu para o Diário de São Paulo, a convite de Assis Chateaubriand, onde escreveu durante uma década a coluna "Luz e Sombra”. Além de jornais, atuou no rádio e na televisão.

A saga de Paulo Bomfim também se confunde com a história do Tribunal de Justiça de São Paulo. Começou no Poder Judiciário com o juiz de menores Aldo de Assis Dias, onde trabalhou organizando técnicas do juizado. É de sua autoria os hinos do TJ-SP, da Escola Paulista da Magistratura (EPM) e da Associação Paulista de Magistrados (Apamagis).

Foi homenageado ainda em vida pelo tribunal com uma sala que leva seu nome: Espaço Cultural Paulo Bomfim, localizado no 2º andar do Palácio da Justiça, e que abriga acervo pessoal, composto de obras de sua autoria, honrarias recebidas e cópia de seu retrato pintado por Anita Malfatti, em 1945, além de vestes e apetrechos da Revolução Constitucionalista de 1932.

Seu livro de estreia foi Antônio Triste, publicado em 1947, com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustrações de Tarsila do Amaral. Na apresentação, Guilherme de Almeida saudou o jovem estreante como "o novo poeta mais profundamente significativo da nova cidade de São Paulo". A obra foi premiada, em 1948, pela Academia Brasileira de Letras com o Prêmio Olavo Bilac. Na comissão julgadora estavam Manuel Bandeira, Olegário Mariano e Luiz Edmundo. “O prêmio que recebi de Manuel Bandeira nos anos 1940 foi o meu batismo”, disse o poeta em certa ocasião.

Suas obras foram traduzidas para alemão, francês, inglês, italiano e castelhano. Paulo Bomfim ocupa desde 1963 a cadeira 35 da Academia Paulista de Letras, da qual se tornou o decano. Ao longo de sua trajetória, publicou 37 obras.

Entre as diversas honrarias, prêmios e reconhecimentos que recebeu ao longo da vida, em 1981 foi eleito “Intelectual do Ano” pela União Brasileira de Escritores, conquistando o Troféu Juca Pato. Em 1991, recebeu o título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, outorgado pela Revista Brasília, e o prêmio “Obrigado São Paulo”, da TV Manchete. Também ganhou o “Prêmio da União Brasileira de Escritores”, por seus 50 anos de poesia. Em 2004 recebeu o troféu “Destaque Cultural”, entregue pelo governo de São Paulo. Em 2012 foi agraciado com o “Colar do Mérito Judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo”, a mais alta honraria da corte paulista. Recebeu ainda o “Destaque Cultural 2014”, entregue pelo governador do estado, e diversas condecorações alusivas à jornada de 1932.

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