Opinião

Caso Lulinha: o fugaz juízo das opiniões precipitadas

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20 de dezembro de 2019, 9h28

A maior diferença entre um julgamento no tribunal e na imprensa é que no tribunal o julgamento é baseado na lógica das provas e no uso do discurso racional do direito, enquanto que na imprensa um pequeno dado isolado, uma foto ou uma informação deslocada do contexto acabam assumindo importância maior do que o próprio fato e suas circunstâncias. Na imprensa, o julgamento corre o risco de ser mais impressionista do que realista.

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O empresário Fábio Luiz Lula da Silva

No caso de Fábio Luiz Lula da Silva não é diferente. Dados manipulados pela investigação ao calor das conveniências acabam despertando maior interesse do que os próprios fatos objeto da investigação. Basta colocar no título da matéria uma enorme cifra de dinheiro para criar uma suspeita que nenhuma análise lógica é capaz de anular. 

Foi o que aconteceu no último final de semana com duas matérias, uma da Folha e outra da revista Veja, que focaram nos elementos impressonistas do caso, dificultando a absorção dos elementos de racionalidade.

Vamos, então, a eles:

As matérias reproduzem as suspeitas da FT de Curitiba no sentido de que Fábio Luiz teria ocultado dados relacionados ao imóvel onde mora. De acordo com os investigadores, tal expediente serviria para ocultar vantagens recebidas da OI, por meio de duas empresas, a GOL, de propriedade de Jonas Suassuna , e a GAMECORP. 

Há, porém, um elemento de irracionalidade nesta tese que passou despercebido nas matérias. Fabio Luiz não só tem participação acionária como é diretor-presidente da Gamecorp. Seu nome está no contrato social registrado na Junta Comercial, em um documento de acesso público. Não há mistério, nem segredo. Por que figuraria ostensivamente na empresa se quisesse ocultar sua relação com a Oi?

Que sentido faria pedir para um amigo qualquer “favor” que fosse com o objetivo de esconder o recebimento de valores, se nunca escondeu sua própria relação societária e comercial com a Oi?

As cifras mencionadas, por sua vez, são outro fator impressionista. Fala-se em dezenas de milhões, como se tivessem sido aportados de uma só vez. O que não se diz é que estes valores são a somatória de tudo que a Gamecorp recebeu ao longo de 12 anos de serviços prestados pela empresa, que chegou a ter quase 200 funcionários e vários outros clientes importantes, como Microsoft, Sony, Hyundai, AMD, Sadia, Ambev (Guaraná e Skol) , Warner Games e Cinemark.

As vidas de Fábio e de suas empresas  já foram devassadas por anos a fio e nada de irregular foi apurado. Tanto é assim que o inquérito que apurava estes fatos foi arquivado a pedido do próprio Ministério Público Federal de São Paulo. Não deixa de causar estranheza que estes fatos tenham sido ressuscitados agora pela Força Tarefa da Lava Jato, poucas semanas após seu pai deixar a prisão.

O que mais admira na verdade é que não se aponta um único ato ou um mero gesto de Fábio para defender interesses privados no governo. Nada, absolutamente nada. As insinuações chegam a ser tão irreais que passam por cima de uma das colaborações premiadas mais festejadas e bem sucedidas firmadas em Curitiba, a do executivo Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, na época , controladora da Oi, que sempre negou qualquer irregularidade na relação com as empresas Gamecorp e Gol.

Se a Lava Jato quiser chamar esta colaboração de mentirosa terá que anular três anos de operação . Será um bom teste para a credibilidade e imparcialidade das investigações.

*ambos são advogados de Fábio Luiz Lula da Silva

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