Looping empresarial

Presidente de associação de lobistas mistura negócios privados

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3 de dezembro de 2019, 17h30

O lobista Guilherme Cunha Costa, presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), pratica looping empresarial ao utilizar a entidade para negócios próprios, segundo reportagem publicada nesta terça-feira (3/12) pelo jornal digital Poder360.

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O lobista Guilherme Cunha, o deputado Eduardo Bolsonaro e o dono da Paper Excellence, o indonésio Jackson Widjaja
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A associação, criada em 2007, terá eleição agora em dezembro. E o sucessor é um indicado pelo atual líder da entidade.

A sala do edifício em Brasília onde funciona a sede da Abrig serviu no passado como endereço para uma empresa de Cunha Costa.

Documento obtido pelo Poder360 mostra que, pelo menos até setembro deste ano, constava do site da WFretes o mesmo endereço da Abrig. Ata de reunião da empresa datada de junho de 2019 atesta que Guilherme é acionista da firma.

Este é um dos exemplos de como o representante dos lobistas na capital federal sobrepõe os interesses da entidade a seus negócios privados.

Em maio de 2018, por exemplo, a Abrig participou da organização de um evento na área de logística com a presença do então presidente dos Correios. Em setembro deste ano, Cunha Costa teve reunião com o diretor de negócios da empresa, Alex do Nascimento, e outros chefes da estatal como sócio da empresa dele, WFretes, e presidente da Abrig.

O presidente da WFretes é Márcio Artiaga. Na ata obtida pelo Poder360, ele consta também como acionista. Artiaga foi diretor da Abrig durante a gestão Guilherme Cunha.

Ainda de acordo com a reportagem, Artiaga é peça importante do “looping empresarial” praticado por Cunha. Seu nome também consta na administração de uma outra outra empresa, que teve como sede a sala da Abrig.

Como diretor de RIG (Relações Institucionais e Governamentais) da Paper Excellence, Cunha Costa intermediou encontro em julho de 2019 entre o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) e o CEO da empresa, Jackson Widjaja, na Indonésia. O episódio também foi revelado pelo Poder360.

A Paper Excellence está envolvida em um litígio com o grupo J&F, de Joesley Batista. A companhia estrangeira comprou parte da Eldorado, empresa de celulose do grupo brasileiro, mas houve desacerto entre as partes.

Quando ficou público que Guilherme atuou para a Paper Excellence e havia intermediado a reunião de Widjaja e Eduardo Bolsonaro, teve desconforto entre filiados da Abrig.

O movimento de Guilherme da Cunha causou um racha dentro da associação. Renault Castro, então um dos vice-presidentes da entidade, renunciou. Ele declarou que não havia tomado conhecimento da nota da Abrig sobre o caso Paper Excellence-Eduardo, que havia sido publicada com seu nome.

Também deixaram a diretoria Stella-Christina Silveira Cruz e Angela Rehem de Azevedo. Ana Amélia Lemos, ex-senadora pelo PP do Rio Grande do Sul, foi outra que saiu.

O processo eleitoral da associação dos lobistas será nesta semana. Filiados poderão votar por e-mail nesta quarta e na quinta-feira. Os votos presenciais serão colhidos na sede da entidade, nesta quinta (5/11).

Há apenas uma chapa concorrendo. Ela é apoiada por Guilherme Cunha. Como não há concorrentes, a festa de posse da nova diretoria já está marcada.

Quem encabeça a chapa única é Luiz Henrique Maia Bezerra. Ele e Guilherme foram citados na operação "castelo de areia", que apurava pagamento de propina por parte da empreiteira Camargo Corrêa. Num despacho do processo constam só os primeiros nomes.

À época, em abril de 2009, a coluna Painel, da Folha de S.Pauloinformou que se tratava do atual presidente da Abrig e seu sucessor, que deve ser eleito nesta semana para o cargo.

Suspeitava-se que os dois teriam participado de irregularidades, dividindo valores destinados a partidos políticos. Ambos negam envolvimento com o caso. Nada foi investigado.

A "castelo de areia" foi iniciada de maneira ilegal — apenas com uma denúncia anônima — e foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal.

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