'Muito mimimi'

Procuradores da 'lava jato' desdenham das mortes na família de Lula

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27 de agosto de 2019, 10h45

Integrantes do Ministério Público Federal que integram a “Lava Jato” fizeram pouco do luto do ex-presidente Lula diante da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, de seu irmão Vavá e do seu neto Arthur. É o que revelam mensagens de chats privados no Telegram enviados ao site The Intercept Brasil e analisados em parceria com o UOL.

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula e neto Arthur durante aniversário
Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Os diálogos checados pelos dois veículos mostram também que procuradores divergiram sobre o pedido do ex-presidente de deixar a prisão para acompanhar o enterro de seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro de 2018.

Na época, alguns membros da “lava jato” chegaram a temer que os simpatizantes de Lula impedissem o retorno do ex-presidente à superintendência da PF, em Curitiba.

Carne salgada
No dia 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico e foi internada no Hospital Sìrio-Libanês. Na data,
Deltan Dallagnol escreveu no chat que Marisa havia chegado debilitada ao hospital.

"Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal", afirma Deltan. O procurador Paulo Paludo reagiu à informação dizendo: "Estão eliminando as testemunhas".

A morte encefálica da ex-primeira-dama foi confirmada no dia 3 de fevereiro de 2017. Na véspera, a procuradora Laura Tessler sugeriu que Lula faria uso político da morte da ex-mulher. Ela também ironizou a possibilidade da saúde da esposa de Lula ter piorado após condução coercitiva do ex-presidente.

"Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula", escreveu Laura.

O procurador Antônio Carlos Welter comentou que "a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica".

Fogo amigo
O enterro da ex-primeira-dama causou até crítica de procuradores da “lava jato” a outros colegas. Thaméa Danelon se mostrou incomodada com a presença da procuradora Eugênia Augusta Gonzaga no velório da ex-primeira-dama.

"Olhem quem estava no velório da ré Marisa Leticia", escreve às 14h07 no grupo "Parceiros/MPF – 10 Medidas", ao citar fotografia de Eugênia na cerimônia.

Thaméa foi questionada sobre qual seria o problema da presença de Eugênia no velório e comparou o PT a uma facção criminosa."É como um colega ir ai enterro da esposa do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado", compara.

Morte de Vavá
Já preso na sede da PF em Curitiba, Lula perdeu o seu irmão Vavá em decorrência de um câncer no dia 1º de março. Parte dos procuradores defendeu que ex-presidente tinha direito a ir ao enterro do irmão enquanto outra ala alegava que ele não era um preso comum.

O procurador Orlando Martello escreveu uma mensagem em que diz achar "uma temeridade" Lula sair da prisão temporariamente. "A militância vai abraçá-lo e não o deixarão voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!! (sic)"

Já o procurador Diogo Castor ponderou que "todos presos em regime fechado tem esse direito".  O MP se manifestou contra o pedido da defesa de Lula de ir ao enterro do irmão.

Mesmo entendimento de parecer da PF. No chat, Antônio Carlos Welter diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. "Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como".

Januário Paludo responde: "O safado só queria passear e o Welter com pena".

A procuradora Laura Tessler reforça o entendimento de Paludo. "O foco tá em Brumadinho…logo passa…muito mimimi", escreveu.

O presidente do STF, Dias Toffoli acabou determinando que Lula tinha direito de enterrar o irmão. A decisão, no entanto, foi publicada no momento em que Vavá estava sendo enterrado e o ex-presidente desistiu de se despedir do irmão.

Morte de Arthur
No dia 1º de março circulou a notícia da morte do neto de Lula de sete anos, Arthur. Na ocasião, a procuradora Jerusa Viecili comentou sobre um possível novo pedido de saída do ex-presidente para o velório.

"Tem q fazer igual o Toffoli deu", argumentou Deltan sobre a possibilidade.

Lula teve autorização para ir ao enterro do neto e foi transportado por uma aeronave cedida pelo governo do Paraná. Na data, Deltan compartilhou com colegas uma notícia que revelava um contato telefônico entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado.

"Estratégia para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs", comentou o procurador Roberson Pozzobon.

No enterro, Lula disse que o neto tinha sofrido bullyng na escola por ser seu neto e prometeu provar que não havia cometido irregularidades. "Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta… vão vendo", comentou Monique Cheker.

A força tarefa da “Lava Jato” não se manifestou sobre o material apurado pelos dois veículos. A procuradoras da Thaméa Danelon e Monique Cheker declararam que não iriam se manifestar sobre as mensagens citadas na reportagem.

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