Tensão Diplomática

José Sócrates diz que Sergio Moro é "indigno, medíocre e lamentável"

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25 de abril de 2019, 19h28

O imbróglio entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, ainda não terminou. Os dois são protagonistas de um mal-estar causado por declarações infelizes de Moro durante um congresso jurídico em Portugal.

Antonio Cruz/ABr
Sócrates afirma ainda que os portugueses conhecem o significado do silêncio daqueles que assistem a tudo isto como se nada fosse com eles.

"Impossível ler a declaração do ministro da Justiça brasileiro sem um esgar de repugnância. Ela põe em causa os princípios básicos do direito e da decência democrática. Não, nunca cometi nenhum crime nem fui condenado por nenhum crime. Não posso aceitar ser condenado sem julgamento, muito menos por autoridades brasileiras", disse Sócrates.

Na nota, o primeiro-ministro de Portugal afirma que na Europa, o povo "conhece bem o ovo da serpente". "Conhecemos o significado das palavras de agressão, de insulto e de violência política. Conhecemos o significado dos discursos governamentais que celebram golpes militares, defendem a tortura e recomendam o banimento dos adversários políticos", afirmou.

Sócrates afirma ainda que os portugueses conhecem o significado do silêncio daqueles que assistem a tudo isto como se não fosse com eles. "Há no entanto, em todo este episódio, um mérito: as palavras produzidas confirmam o que já se sabia do personagem – como juiz, indigno; como político, medíocre; como pessoa, lamentável", defende.

O mal-estar
Tudo começou quando Moro criticou o sistema jurídico português durante o VII Fórum Jurídico de Lisboa. Em sua exposição, o ministro afirmou ter identificado uma "dificuldade institucional" em Portugal para fazer avançar o processo contra o antigo primeiro-ministro José Sócrates, tal como acontece no Brasil.

Depois disso, Sócrates afirmou, por meio de nota à imprensa, que Moro é um "ativista político disfarçado de juiz", e que, por isso, o Brasil vive "desonesta instrumentalização do seu sistema judicial ao serviço de um determinado e concreto interesse político".

Uma emissora de televisão portuguesa, então, perguntou o que Moro tinha a dizer sobre as críticas de Sócrates. Ele rebateu, apenas, "não debato com criminosos". Por esse pronunciamento, ele também foi duramente criticado pelo jornalista Manuel Carvalho, do portal Público.

No Brasil, as falas de Moro também não pegaram bem. Para o advogado Carlos Alberto de Almeida Castro (Kakay), o ministro da Justiça diminuiu o Brasil com sua visita.

Kakay advoga para Raul Schmidt, investigado pela operação "lava jato" que tem dupla cidadania (brasileira e portuguesa), mas que Moro insistiu por três anos para que fosse deportado ao Brasil. Ao ouvir as declarações do ministro da Justiça, enviou o seguinte comentário à ConJur:

Lamentável a presença do juiz/ministro/ativista político em terras portuguesas. Acostumado a não ter limites quando era juiz com jurisdição nacional em Curitiba, com o apoio da grande mídia e das redes sociais, ele resolveu criticar o Judiciário português ao se referir ao ex-primeiro-ministro José Sócrates fazendo o mesmo pré-julgamento que estava acostumado a fazer quando era juiz/político em Curitiba.

Recentemente ele tentou interferir, sem êxito, em um processo de extradição em Portugal mas o Estado português e o Judiciário português são independentes e soberanos. Devemos desculpas a Portugal pelo vexame do juiz/ministro/ativista. E é interessante que tudo isto ocorra em 25 de abril [início da Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura salazarista]. Mas ele certamente desconhece o significado da data.Talvez devêssemos pedir para alguém traduzir para o juiz/ Ministro/ativista algumas biografias de grandes portugueses para ele aprender a respeitar Portugal.

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