Urnas eletrônicas

Só ignorância explica boatos sobre fraudes, diz juíza eleitoral

Autor

14 de outubro de 2018, 17h40

Mais uma vez, boatos divulgados desde antes das eleições questionam a confiabilidade das urnas eletrônicas. Para a juíza eleitoral Cynthia Torres Cristófaro, só a ignorância explica a reprodução desses boatos. Segundo ela, o eleitor já chega para votar querendo comprovar essas mentiras e apontam os próprios erros como fraudes.

Em texto publicado no Facebook, a juíza conta que dentre as supostas denúncias tiveram eleitores de São Paulo tentando votar em candidato a senador do Paraná, eleitores querendo votar para presidente no voto para senador e outros que ainda trataram mal os mesários.

Segundo a juíza, o que acontece é que as pessoas chegam em frente à urna "esperando ver que está mesmo [fraudada]; quando erra na hora de votar… pronto, sai gritando que a urna mudou, anulou, cancelou seu voto".

Relembrando que desde a redemocratização, o processo eleitoral no país tem sido legítimo e honestamente conduzido pela Justiça Eleitoral, a juíza aponta a necessidade de colaborar com a democracia.

“Você gosta de democracia? Então pare de espalhar boatos falsos. Pare de atacar a democracia, ela já tem fragilidades suficientes sem que a legitimidade do processo eleitoral seja injustamente questionada”, declara.

Leia a íntegra do texto abaixo:

URNA ELETRÔNICA, IGNORÂNCIA E RESPONSABILIDADE

Amigo, amiga, pare de reproduzir bobagens. Não seja manipulado! Quando você faz circular a ideia de que urnas eletrônicas são fraudadas, quando propõe uma impossível alteração da legislação eleitoral na véspera da eleição, está passando recibo de ignorância. Reflita um pouco, por favor.

Trabalho há mais de 25 anos com eleições. Fui funcionária concursada do TRE/SP e estava lá nas eleições de 1989 e 1992 e no plebiscito de 1993, fui juíza presidente de junta apuradora nas eleições de 1994 e passei a presidir as eleições seguintes como juíza eleitoral. Se você me conhece, acho que não preciso dizer nada sobre minha absoluta intolerância para com o que não é ético e estritamente honesto.

Desde a redemocratização com as eleições diretas de 1989, temos no Brasil um processo eleitoral legítimo, limpo, correto e honesto conduzido pela Justiça Eleitoral, de composição múltipla (juízes federais, juízes estaduais e advogados), caracterizada por evolução constante, agilidade e modernidade, reconhecida internacionalmente como exemplo, chamada constantemente a colaborar com a democracia de outros países.

Já emprestamos nossas urnas eletrônicas para República Dominicana, Costa Rica, Argentina, Equador, Haiti, Guiné-Bissau, México, Paraguai. Mantemos acordos de intercâmbio de conhecimento em razão de nossa reconhecida expertise na realização de eleições e somos referência mundial no desenvolvimento e utilização de urnas eletrônicas, que implantamos a partir de 1996. Recebemos nas últimas eleições municipais delegações de mais de 30 países, que vieram aqui não para nos fiscalizar, mas para aprender com a gente. Não somos irresponsáveis. Somos exemplo.

Nossas urnas eletrônicas não foram e não serão fraudadas. Sabe o que acontece? As pessoas não gostam de errar. O sujeito está ouvindo essa balela de que a urna está fraudada à exaustão, aí chega na frente da urna esperando ver que está mesmo; quando erra na hora de votar… pronto, sai gritando que a urna mudou, anulou, cancelou seu voto.

Quer ver? Nesse primeiro turno, tive: eleitor tentando votar em São Paulo em candidato a senador do Paraná (reclamando que aparecia a fotografia de outro sujeito); eleitor querendo votar para presidente no voto para senador (reclamando que seu voto estava sendo anulado); eleitor digitando o número errado do candidato (vários); eleitor que ficou segurando a tecla “confirma” enquanto tentava digitar os votos (para garantir que seu voto seria recebido); eleitor com unhas gigantes apertando mais de uma tecla de cada vez… São só exemplos. Todas essas pessoas resolveram ficar plantadas na frente da urna eletrônica bradando “fraude”, impedindo que os demais votassem, distratando mesários (que são apenas eleitores convocados compulsoriamente para trabalhar na eleição), criando transtornos, passando vergonha.

Amigo, amiga, até 1932, as mulheres não votavam; até 1988, analfabetos não votavam. Em 1933, 1964 e de 1966 a 1985 não tivemos eleições diretas. Começamos a votar (e ainda assim só parte de nós) em 1985, só nas Capitais. Somente a partir de 1988 passamos a ter eleições democráticas regulares no país para todos os níveis do executivo e do legislativo.

Você gosta de democracia? Então pare de espalhar boatos falsos. Pare de atacar a democracia, ela já tem fragilidades suficientes sem que a legitimidade do processo eleitoral seja injustamente questionada.

Dica: todos os juízes e promotores eleitorais do país estarão fazendo auditoria das urnas eletrônicas em sessões públicas antes do segundo turno; vá saber na sua zona eleitoral que dia vai ser; vá lá ver como tem gente trabalhando para você poder votar. Aproveita e se inscreve como voluntário para mesário, estamos precisando.

Cynthia Torres Cristófaro – Juíza eleitoral da 374a Zona Eleitoral de 2017 a 2019, Juíza de Direito em São Paulo desde 1994, saiu muito de camiseta amarela em 1984, adora democracia e acredita num Brasil onde cada um faça sua parte pelo bem de todos.

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!