Manobras políticas

Trump tenta "matar" investigações de conluio com a Rússia

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10 de novembro de 2018, 13h46

Logo depois de forçar o pedido de demissão do procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, o presidente Donald Trump escolheu para ocupar o cargo interinamente o chefe de gabinete da Procuradoria-Geral, Matthew Whitaker, em vez do vice-procurador-geral, Rod Rosenstein, que seria o substituto natural do procurador-geral.

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Trump manobra com cargos do Departamento de Justiça para tentar matar investigações sobre suas ligações com a Rússia
Avi Ohayon / GPO

As explicações são simples. Sessions foi forçado a sair porque ele se declarou impedido de comandar as investigações de possível conluio da campanha eleitoral de Trump, em 2016, para ajudá-lo a vencer as eleições. O comando foi assumido por Rosenstein, que deu todo o apoio ao procurador especial Robert Mueller, que já denunciou vários colaboradores de Trump e ameaça intimar o presidente a depor.

Whitaker, ao contrário, já criticou as investigações e o trabalho de Mueller algumas vezes. Para ele, as investigações deveriam ser encerradas. Ele chegou a sugerir o corte dos recursos financeiros para o grupo de Mueller, para deixar as investigações morrerem de inanição.

E logo depois de assumir o cargo de procurador-geral interino, procuradores do Departamento de Justiça dos EUA disseram ao Washington Post que Whitaker já afirmou que vai assumir o comando das investigações, apesar de supostos conflitos de interesse, e vai barrar qualquer tentativa de intimar o presidente.

Interessante nesse imbróglio foi a manobra de Trump para colocar o chefe de gabinete, em vez do vice-procurador, no comando do Departamento de Justiça. Se Trump tivesse simplesmente demitido Jeff Sessions, o que ele ameaçou fazer várias vezes porque ele deixava a investigação correr em vez de defendê-lo e protegê-lo, o vice-procurador-geral seria seu substituto natural e isso não iria mudar nada. Mas se Sessions pedisse demissão, ele poderia nomear para o cargo quem ele quisesse.

Por aconselhamento de seus assessores diretos e de alguns políticos republicanos, Trump resolveu deixar passar as eleições de 2018 para se livrar de Sessions. Acreditava-se que a saída forçada do procurador-geral teria um reflexo negativo nas urnas. Assim, ele fez isso no dia seguinte ao das eleições (7/11).

Não houve reflexo nas urnas, mas houve nas ruas. Na quinta-feira (8/11) milhares de cidadãos saíram às ruas, em inúmeras cidades, grandes, médias e pequenas, para protestar contra a tentativa de Trump de “matar” as investigações e pedir proteção para o procurador especial, Robert Mueller.

Um dos destaques dessas manifestações públicas foram as inúmeras placas com uma hashtag sob medida para a situação: #ProtectMueller (proteja Mueller – e consequentemente, as investigações). O procurador Robert Mueller, que até então vinha trabalhando diligentemente no processo, sem alardes, sem entrevistas e sem vazamento de informações, de repente se tornou uma celebridade – para os manifestantes, um herói nacional.

A vontade de Whitaker de assumir o comando das investigações e salvar a pele de Donald Trump não se concretiza facilmente. Ele precisa ser indicado pelo presidente para o cargo e a indicação tem de ser aprovada pelo Senado, escreveu o analista político Renato Mariotti no Twitter.

Mas o presidente está considerando a indicação de alguém de fora, um aliado político que assuma o controle das investigações e consiga, de alguma maneira, esvaziá-las. E, no final das contas, encerrá-las com a produção de um relatório final mal fundamentado – isto é, que não sirva de base, por exemplo, para o impeachment do presidente.

Se a indicação de um novo nome por Trump for confirmada pelo Senado, o novo procurador-geral poderá demitir Rosenstein, que supervisiona as investigações de grupo de Mueller atualmente, e assumir a supervisão.

Ele poderá então ordenar a Mueller que explique cada medida que tomou nas investigações e desaprová-las, alegando que elas foram inapropriadas ou injustificáveis sob as práticas estabelecidas pelo Departamento de Justiça, que não deveriam ser adotadas.

E poderá até mesmo remover Mueller das investigações por má conduta, negligência com o dever, incapacidade, conflito de interesse ou qualquer outra justa causa, embora isso seja difícil de provar. Mas, o que fizer terá de ser comunicado ao Congresso.

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