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Estado de Direito é intolerante com punitivismo, diz novo diretor das Arcadas

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12 de março de 2018, 23h23

Nesta segunda-feira (12/3) o professor Floriano de Azevedo Marques Neto assumiu a diretoria da bicentenária São Francisco, a mais antiga e influente escola de Direito do país. Em seu discurso de posse, o professor reafirmou o que havia dito em recente debate na USP, ao criticar a onda punitivsta que se popularizou no Brasil. Disse que o Estado de Direito não tolera corrupção, mas também não permite o uso de estratégias ilegais e abusivas para puni-la.

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Floriano de Azevedo Marques (no centro) recebe cumprimentos durante solenidade de posse.
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O novo diretor lembrou que assume o cargo durante uma grave crise política agravada pela falta de quadros para liderar em momentos de necessidade.

“A faculdade não pode gerar apenas brilhantes advogados, juízes, promotores e defensores. Deve produzir conhecimento. Diante da crise que o país passa, ela tem a obrigação de oferecer quadros e saídas para as soluções”, declarou.

Floriano Marques fez questão de se colocar no lado progressista do debate, defendendo tanto cotas raciais quanto sociais para acesso ao ensino superior. "As cotas não ameaçam o nível do alunato. A experiência que temos mostra o contrário. A diversidade é uma riqueza", afirma Floriano.

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Ministros do STF Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli prestigiam posse de Floriano Azevedo Marques na diretoria da Faculdade de Direito da USP, ao lado do presidente do TJ-SP, desembargador Pereira Calças.
ConJur

O novo diretor repetiu no discurso o que disse em artigo publicado nesta segunda no jornal Folha de S.Paulo: ele está à frente da primeira faculdade do Brasil, diante do desafio de modernizar tanto hábitos quanto métodos de ensino. “Não é possível ensinar conteúdo do século XX com métodos do século XIX”, disse.

Nisso mostrou-se em sintonia com os ministros do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes, ambos colegas professores das Arcadas. Ambos disseram à ConJur que o maior desafio para o novo diretor da Faculdade de Direito da USP será ensinar a nova geração sob a avalanche de novas tecnologias e formas de comunicação. Alexandre, além de colega de magistério, formou-se na mesma turma que Azevedo Marques, a de 1990, na qual também esteve o ministro Dias Toffoli, presente à solenidade de posse.

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Floriano (à direita) assume firme posição
a favor de cotais sociais e raciais. 
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O ministro Lewandowski falou em utilizar as novas tecnologias para que seja possível o ensino do Direito em meio às revoluções tecnológicas. Já Alexandre defendeu o uso a tecnologia para tornar o estudo mais atrativo.

Floriano se mostrou sensível à questão da tecnologia. Afirmou que o prédio é tombado, mas que isso não obriga os estudantes a conviverem com mobília quebrada, falta de estrutura e atraso. “Principalmente a biblioteca, que é um bem público, deve ter seu acervo totalmente digitalizado e acessível”, disse.

Elogiou o antecessor, José Rogério Cruz e Tucci, classificando como “herança bendita” o estado das coisas no qual encontrou a faculdade.Antes da cerimônia começar, após ouvir Lewandowski e Moraes, a ConJur questionou o ministro Eros Grau, outro professor da casa, sobre o maior desafio para Floriano: “Mostrar aos alunos que lexis não tem nada a ver com justiça. Justiça, só lá em cima”.

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