Luto na imprensa

Morre em São Paulo o jornalista Audálio Dantas, referência do jornalismo brasileiro

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30 de maio de 2018, 18h52

Morreu em São Paulo nesta quarta-feira (30/5) o jornalista Audálio Dantas. Ele tinha 88 anos e lutava contra um câncer desde 2015. Estava internado desde abril deste ano. Deixa mulher e filhas.

A importância de Audálio para o jornalismo brasileiro é grande. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo nos anos 1970 e foi diretamente responsável por transformar a entidade em uma das resistências civis à ditadura militar.

Em 1975, Audálio, já no Sindicato, foi um dos primeiros a denunciar que o jornalista Vladimir Herzog havia morrido no DOI-Codi em decorrência de torturas – e não havia cometido suicídio, como dizia o governo militar. Deixou a entidade em 1978, quando foi eleito deputado federal e foi lutar pela anistia dos crimes políticos dos opositores ao regime – chegou a ser eleito um dos dez deputados mais influentes do país.

Como profissional, Audálio também contribuiu para a história da imprensa brasileira. Repórter do jornal Folha da Manhã, que depois se transformou em Folha de S.Paulo, começou a introduzir na pauta da imprensa nacional reportagens sobre pessoas comuns, e não apenas sobre autoridades e grandes acontecimentos.

Durante uma apuração sobre a favela do Canindé, em São Paulo, Audálio conheceu Carolina de Jesus, uma moradora do bairro que mantinha diários para descrever seu cotidiano. Audálio publicou uma série de reportagens sobre esses diários e transformou Carolina de Jesus em personagem mundialmente conhecida. Ela publicou diversos livros no Brasil e no exterior, o mais famoso deles Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.

"Audálio Dantas é parte indissociável da luta pela liberdade de expressão em nosso país", afirma o jornalista Bartolomeu Rodrigues, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e ex-chefe da sucursal de Brasília do Estadão. "Numa época em que os órgãos de representação dos jornalistas, os sindicatos, eram fechados, e a Federação ocupada por fantoches de uma ditadura militar, Audálio surgiu como o nome para nos unir. Melhor, para nos associar, através do segmento sindical, à defesa da ética, da independência profissional, bem como à velha utopia da democratização dos meios de comunicação. Lições que precisam ser reaprendidas nos dias atuais."

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