Luto na magistratura

Criminalista José Gerardo Grossi morre aos 85 anos, em Brasília

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9 de maio de 2018, 12h09

O criminalista José Gerardo Grossi morreu na manhã desta quarta-feira (9/5), em Brasília, aos 85 anos. Ele foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral, conselheiro da seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e professor na Universidade de Brasília, tendo sido um dos primeiros advogados a atuar na capital federal.

José Gerardo Grossi era um dos criminalistas mais importantes e influentes do Distrito Federal.

O corpo será velado em dois locais: nesta quarta-feira, das 18h às 21h, na sede da OAB-DF; e nesta quinta-feira (10/5), a partir das 9h, no cemitério Campo da Boa Esperança, em Brasília. O enterro está marcado para as 11h. 

Grossi tratava um câncer no pulmão. Diagnosticado com um tumor há dois anos, tinha se recuperado. Há cerca de dois meses, no entanto, a doença voltou. 

Natural de Abre Campo, interior de Minas Gerais, nasceu em 22 de agosto de 1932. Tornou-se advogado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Um dos criminalistas mais importantes e influentes do Distrito Federal, onde viveu desde os primeiros anos da carreira, era conhecido pelo humor refinado e o amplo conhecimento dos estudos jurídicos.

Grossi advogou para políticos de todas as matizes e campos ideológicos, sendo respeitado entre integrantes da esquerda e da direita. Em abril, esteve no Supremo Tribunal Federal ao lado de Sepúlveda Pertence e José Roberto Batochio na defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julgamento de Habeas Corpus, quando tratou da importância do instrumento. Ele também assessorou Lula em questões eleitorais, como nas operações zelotes e “lava jato”.

Entre os clientes, Grossi defendeu o ex-governador e ex-senador pela Bahia Antonio Carlos Magalhães e os ex-governadores do DF José Arruda e Joaquim Roriz. Em 2014, abriu as portas de seu escritório para que o ex-ministro José Dirceu, atualmente preso em Curitiba, trabalhasse.

Pesar
Em nota, o Colégio Permanente de Juristas da Justiça Eleitoral manifestou pesar pela morte do ex-ministro do TSE. “A comunidade jurídica brasileira perde um extraordinário advogado, um brilhante jurista e um ser humano que só somou amizade e admiradores por onde passou”, afirma o texto, assinado pelo presidente da entidade, Telson Luís Cavalcante Ferreira.

O criminalista Marcelo Leal também lamentou a morte. "Perdemos hoje um grande mestre, cuja generosidade me ensinou a repartir. Ele nunca quis só para ele, por isso dividia com todos que com ele conviviam os conhecimentos de décadas de advocacia", disse.

O Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral (Ibrade) lembrou a atuação de Grossi, principalmente na época da ditadura, e afirmou que ele preencheu, em todos os sentidos, o significado maior da advocacia. "A sua ausência será apenas física, pois suas ideias, reputação e jovialidade são eternas", afirmou a entidade em nota de pesar.

Leia mais homenagens:

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República

José Gerardo Grossi foi um grande amigo e um ser humano excepcional. Inteligente, culto e generoso, exerceu seu ofício com brilho e destemor, tornando-se referência para mais de uma geração no mundo do Direito.

Doutor Grossi elevou a advocacia ao seu patamar mais nobre: a defesa permanente dos direitos e garantias do cidadão. A defesa do estado de direito, da democracia plena.

Ao longo da vida e da carreira, enfrentou muitas pressões e nunca mudou de lado, lutando em muitas trincheiras por um país mais justo, em todos os sentidos.

É com muito pesar que recebo a notícia de seu falecimento, depois de lutar com todas as forças e nos dar o exemplo de sua imensa alegria de viver. De onde estou, envio meu abraço solidário a toda a família.

Vai com Deus, Doutro Grossi. Foi um privilégio ter sido seu amigo. 

Sepúlveda Pertence, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal:

A morte hoje de José Gerardo Grossi aumenta a solidão de minha senectude. Nossas vidas correram em paralelo na maior parte do tempo.

Contemporâneos de Faculdade e, depois, já em Brasília, no Ministério Público e na UnB: no Supremo servimos ambos como secretários jurídicos (eu, de Evandro Lins e Silva; ele de Hermes Lima), fomos cassados, no mesmo dia, da UnB e do MP; integramos, os dois, os escritórios de Victor Nunes Leal, também cassado pela ditadura.

Advogado, desde as cassações, Grossi se tornou um dos expoentes da profissão, dedicadíssimo às causas que assumia, de estilo primoroso e tribuno admirável. A saudade, a lembrança e  a eterna admiração serão definitivas por toda minha vida.

Beto Vasconcelos, advogado:

O Brasil perdeu hoje um de seus maiores juristas e democratas. Além de correto e competente advogado, José Gerardo Grossi era, acima de tudo, um humanista. Fará muita falta ao país. Sentimentos de solidariedade à família nesse momento.

Pierpaolo Bottini, advogado:

Além de jurista, professor, e grande advogado, Grossi era um bom amigo. Acolhia advogados em sua casa, onde as discussões de estratégia de casos complicados eram permeadas de histórias gostosas de ouvir. Eram sempre reuniões agradáveis, boas de lembrar. A passagem de Grossi é uma perda para os amigos, para a advocacia e para o Direito.

*Texto alterado às 13h29, às 15h e às 15h36 do dia 9/5/2018 para acréscimo de informações.

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