Liberdade de expressão

Filme The Post: A Guerra Secreta tem o Direito como seu real protagonista

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30 de janeiro de 2018, 8h14

A liberdade de expressão e as táticas jurídicas usadas pelo governo dos Estados Unidos para impedir a publicação de notícias contra seus interesses são os reais protagonistas do filme The Post: A Guerra Secreta. O jornalismo entra como coadjuvante da obra que estreou no Brasil no último dia 25.

As tramas do governo Richard Nixon (1969-1974) para suprimir informações indesejáveis são o centro do filme. O hoje mundialmente famoso Washington Post, à época, não passava de um jornal local.

O início do filme é sobre outro jornal, o poderoso The New York Times, que foi censurado por decisão da Justiça Federal dos EUA após começar a publicar documentos secretos do governo norte-americano sobre a Guerra do Vietnã (1955-1975) encomendados pelo secretário de Defesa nas administrações de John Kennedy e Lyndon Johnson, Robert McNamara.

Os papéis mostram que todos os presidentes norte-americanos desde Dwight Eisenhower (1953-1961) sabiam da complexidade de uma eventual incursão militar no Vietnã e, com o passar do tempo, da inevitável derrota da maior potência militar do mundo. Após as primeiras divulgações, entra em cena o advogado-geral da Casa Branca, pedindo judicialmente, e conseguindo, o fim das publicações pelo veículo de documentos que “poderiam expor segredos militares estratégicos dos EUA”.

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Ben Bradlee, interpretado por Tom Hanks (à direita), com sua equipe de jornalistas analisando os documentos do governo.
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Em um trecho do filme, um militar afirma que nenhuma outra nação confiaria nos EUA após esses vazamentos, que supostamente colocaram em risco os jovens americanos jogados em uma floresta na Ásia para se tornarem alvos das emboscadas dos vietcongues. É a partir daí que o jornal The Washington Post começa a ganhar relevância.

Com o embargo do concorrente, os documentos são enviados à redação do jornal e passam a ser analisados para publicação. Nesse ponto é que o debate sobre liberdade de imprensa realmente toma corpo, pois o veículo torna-se o novo alvo de Richard Nixon — que é representado durante todo o filme de costas, sempre ao telefone.

Ben Bradlee (Tom Hanks), chefe de redação do veículo à época, resume o dilema: “se deixarmos de publicar essa informação [os documentos sigilosos], o governo Nixon já ganhou a disputa, porque nos ditou o que publicar ou não”. A liberdade de imprensa é prevista na 1ª emenda à Constituição dos EUA, que garante aos cidadãos daquele país liberdade religiosa, de expressão, de imprensa, de reunião e de questionar os poderes instituídos na Justiça.

Força da mulher
Ao mesmo tempo em que o jornal estuda a publicação dos documentos, o veículo sofre com insolvência iminente e precisa de aportes, que são buscados na bolsa de valores, por meio de abertura de capital — dor de cabeça para Kay Graham (Meryl Streep), a então dona do Washington Post, que assume o comando após a morte do marido.

Ela aparece, na maioria das vezes cercada por homens de negócios, banqueiros, advogados e investidores. Uma das cenas mais marcantes é quando Kay vai detalhar a abertura de capital a possível compradores e é recebida, na parte exterior de uma sala, por várias mulheres (todas secretárias). Quando porta se abre, ela se depara com uma multidão masculina.

Além de aparecer como empresária e forte, Kay Graham é retratada como mãe de um casal — o filho foi, inclusive, combatente do Vietnã. Em outra passagem marcante, Kay se encontra com McNamara, seu então amigo de longa data, para discutir o teor do estudo e sua possível publicação. Em dado momento, a dona do jornal se revolta com ele e chora ao saber que muitos jovens, assim como seu filho, foram enviados para uma guerra já tida como perdida.

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