Adeus à toga

Desembargador Teixeira Leite Filho faz última sessão no TJ-SP antes de aposentar

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22 de fevereiro de 2018, 16h37

O desembargador Carlos Teixeira Leite Filho fez, nesta quinta-feira (22/2), sua última sessão de julgamento no Tribunal de Justiça de São Paulo. Carlão, como é chamado por amigos e colegas, ao completar 60 anos, decidiu se aposentar, depois de 36 anos de carreira dedicados à magistratura.

Repleta de colegas desembargadores, familiares e advogados, a cerimônia durou cerca de 45 minutos e foi feita antes do início da sessão da 4ª Câmara de Direito Privado, onde permaneceu por 13 anos. Em 2011, Teixeira Leite foi inclusive indicado para ministro do Superior Tribunal de Justiça — quando recebeu votos de 18 ministros.

Klaus Silva/TJ-SP
Desembargador do TJ-SP Teixeira Leite fez sua última sessão
antes de sua aposentadoria. Crédito: Klaus Silva/TJ-SP

“Não é fácil dizer algumas palavras em situações como essa. Encerro, aqui, uma etapa da minha vida profissional. prefiro não falar de despedida. O coração jamais de despede. Aceita, compreende, e daí tolera alguma distância física. Nada além disso. E assim será”, declarou o desembargador Carlos Teixeira Leite.

O decano da câmara, Ênio Zuliani, foi quem conduziu as homenagens. Ele falou em nome de todos os componentes da câmara.

“Sua Excelência pediu a aposentadoria voluntária por razões pessoais e hoje é um dia especial para prestarmos uma singela homenagem a esse nobre colega. É difícil saber que amanhã será um dia diferente para nós do 21º andar no nosso prédio. Sua presença não estará lá. Só posso elogiar com sinceridade, o seu espírito de cooperação, o seu empenho, a sua dedicação, o seu caráter, a sua força nos momentos difíceis, nos desafios que nós passamos aqui no dia a dia. Estão presentes aqui todos que o admiram”, disse Zuliani.

Klaus Silva/TJ-SP
A Sala 509 ficou cheia para a cerimônia
de despedida de Teixeira Leite. Crédito: Klaus Silva/TJ-SP

O ex-presidente do tribunal, Paulo Dimas Mascaretti, foi à cerimônia e lembrou da atuação de Teixeira Leite na Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis).

“Carlos foi um dos colegas que conheci em primeiro lugar quanto cheguei à Capital, em 1987. Participamos juntos em inúmeras atividades institucionais. Sempre foi um colega especial. Montamos a primeira chapa de juízes de primeira instância para disputar uma eleição da Apamagis, para que o Judiciário se modernizasse, fosse mais aberto” lembrou Mascaretti.

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Paulo Dimas lembrou a amizade de longa data que tem com o desembargador Teixeira Leite. Crédito: Klaus Silva/TJ-SP

“Só tenho a dizer que minha estima e admiração só aumentou por você, um colega exemplar, correto, sincero, que diz o que pensa, corajoso, com inúmeras qualidades”, concluiu.

O desembargador Paulo Alcides, da 6ª Câmara de Direito Privado, também apontou qualidades do colega. “Dizem que um juiz precisa ter três características: ser capaz, generoso e ousado. E o desembargador reúne de sobra essas qualidades. Capacidade ele demonstrou em todos os seus votos, ousadia, quando foi candidato à Apamagis levantando uma bandeira nova, e generoso com todas as pessoas, está sempre à disposição. Uma pessoa que sempre esteve atenta a tudo o que se passa na magistratura. Honrou a toga. Seja feliz, desembargador”, desejou Paulo Alcides.

O último a falar foi o desembargador Décio de Moura Notarangeli, da Seção de Direito Público do tribunal, colega do mesmo concurso de Carlão. “Há 36 anos nós ingressamos na magistratura com desejo, disposição, vontade de fazer Justiça. É um grande juiz, um grande amigo”, disse.

Mundo digital
Em seu discurso, Teixeira Leite fez algumas observações sobre sua trajetória e fez confissão: não se adaptou a ler os processos pela tela do computador.

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O desembargador e sua equipe de assistentes e escreventes. Crédito: Klaus Silva/TJ-SP

“Devo somar a esse contexto um leve desgaste que vem da rotina de procurar atender um excessivo volume de questões a decidir. Também, o que dizer desse processo digital… Pode ser maravilhoso, mas não me acostumei a ler em duas telas, abrir links e mais links, consertar páginas invertidas etc. E as senhas? Do portal do Sema, do Portal do Magistrado, do e-mail, do SAJ, assinatura digital… E tudo isso quando a memória começa a falhar”, disse Teixeira Leite.

Ele contou, também, que já estava se vendo como um “antigo” na corte, referindo-se a momentos passados com certo saudosismo. “Costumava criticar alguns colegas mais antigos que contavam estórias de suas carreiras, sempre iniciando com a frase 'no meu tempo…'. Não nego, chegava a pensar: porque essa cara não se aposenta e também dá lugar para a carreira andar… Pois é. Recentemente, mais de uma vez, me vi fazendo exatamente a mesma coisa. Ou seja, um recado que me pareceu suficientemente claro”, declarou Leite.

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Carlão irá liderar uma equipe do escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados, com sede na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Também não descarta a possibilidade de ser árbitro em câmaras de arbitragem e consultor.

Trajetória
Formado pela Universidade de São Paulo em 1980, Carlos Teixeira Leite Filho entrou para a magistratura dois anos depois, aos 24 anos. Como desembargador, ocupou cadeira na 4ª Câmara de Direito de Privado por 13 anos, desde março de 2005. Também passou pela 1ª Câmara de Direito Empresarial, onde julgou por cinco anos.

Até chegar ao tribunal, foi juiz da 3ª Vara Cível no Fórum Regional de Pinheiros, na capital. Teve grande atuação institucional no tribunal – foi um dos coordenadores do grupo de Controle Regional das Cinco Regiões do CNJ, atuou na equipe da Corregedoria Geral da Justiça e na Apamagis. Fez 60 anos em outubro do ano passado e, na lista de antiguidade do tribunal, era o 105º mais antigo de 360 desembargadores.

Clique aqui para ler o discurso de despedida de Carlos Teixeira Leite Filho.

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