15 segundos de fama

Conheça o perfil do advogado detrator dos ministros do Supremo

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5 de dezembro de 2018, 20h17

Assim como o Judiciário passou a interferir na vida dos brasileiros, o que foi decidido na Constituição de 1988, a população passou também a ditar rumos judiciais. A diferença é que juízes são dotados, em geral, de critérios técnicos, enquanto o cidadão comum move-se pela emoção.

Nesta semana, mais uma vez, um juiz foi alvejado por um leigo — muito embora bacharel, o que não diz muito. O ministro Ricardo Lewandowski, acomodado em um assento de avião, viu-se filmado por um emocionado rapaz, ávido por “justiça”. Justiça, nesse caso, como sinônimo de coação: juízes que não condenam estão do lado mau.

O justiceiro em questão, Cristiano Caiado de Acioli, celular em punho, para sua vaidade pessoal, quis mostrar sua valentia e coragem, encurralando o ministro, com ofensas, para mostrar ao mundo que era capaz de agredir o jurista com seus argumentos emocionais. Com a intenção, óbvia, de execrar o ministro do STF nas redes sociais. Sereno e seguro do seu direito, Lewandowski transferiu a responsabilidade para a polícia.

Interessada em radiografar o perfil do heroico bacharel, a ConJur fez contato com Acioli. Com a palavra, o agressor: "A fama para mim não é nenhum bônus, é um ônus. Não vejo vantagem nenhuma. Vejo uma responsabilidade maior de ter uma conduta que seja exemplar, porque agora outras pessoas estarão me vendo como um padrão de comportamento, como uma pessoa que é referência. O que faz com que você tenha que dar um retorno e se esforçar para que você inspire bons sentimentos e bons pensamentos naqueles que estão a sua volta. Vejo mais como uma preocupação do que como um bônus".

A ligação foi interrompida para que Acioli pudesse gravar o jornalista. Sem sucesso, ele pediu perguntas por escrito. “Eu havia esquecido de um compromisso. Podemos conversar em outro momento. Se não tiver problema o senhor pode me adiantar as perguntas também.”

As questões apresentadas centraram-se em dois pontos. Em 2013, aparentemente, Acioli e um colega levaram uma surra de um policial. Ele não quis explicar o motivo. Mas nem ele nem seu colega quiseram dar continuidade ao caso. Desistiram. No outro caso, Acioli entrou com ação trabalhista contra a OAB do Distrito Federal. Bem sucedido no pedido de indenização de perto de R$ 400 mil, Acioli conseguiu penhorar um imóvel da OAB. Ele colaborava com o tribunal de ética e disciplina. Uma tarefa sua, explica, era "caçar" advogados que divulgam seus serviços por meio de out doors. Por ver na atividade vínculo empregatício, foi à justiça.

Veja o diálogo:

ConJur — Doutor Cristiano, tudo bem?
Cristiano Caiado de Acioli —
Pode me chamar Cris. Os meus amigos me chamam de Cris Caiado.

ConJur — Cris, no termo circunstanciado 2013.01.1.172922-4, fala-se de um atrito. Foi com um policial?

Na ação trabalhista, que o prezado ganhou, a justiça determina: "Considerando que a executada indica bem à penhora na petição de fls.269/271, expeça-se mandado de penhora do imóvel de matrícula nº 50.780. Publique-se.

Garantida a execução, prossiga-se na forma do art. 884 da CLT."

Quem pode informar se o prédio é o da sede da OAB?

Cristiano Caiado de Acioli — O senhor tem alguma pergunta sobre ontem????

Parabéns pelos seus artigos.

ConJur — Sobre ontem todo mundo já escreveu.
Cristiano Caiado de Acioli —
https://www.conjur.com.br/2018-mai-08/comunidade-juridica-homenageia-ministro-ricardo-lewandowski

Muito bonita a sua homenagem ao seu amigo.

ConJur — O prezado já fez alguma gravação anterior como essa? Existe algum limite para a liberdade de expressão?
Cristiano Caiado de Acioli —
Certamente existe limite para o poder de um ministro do STF.

ConJur — Mas peguemos o caso da lesão corporal que você praticou, junto com Tiago Brunacci. É legítimo, cinco anos depois, voltar ao assunto, na medida em que o prezado tornou-se celebridade?
Cristiano Caiado de Acioli —
Eu nunca pratiquei lesão corporal contra ninguém. Cuidado ao acusar alguém de um crime.

ConJur — Desculpe. É que há dois registros contraditórios. Veja:

Termo Circunstanciado – A: CRISTIANO CAIADO DE ACIOLI. Adv (s).: Nao Consta Advogado. R: PCDF POLICIA CIVIL DO DF. Adv (s).: Nao Consta Advogado. VITIMA: TIAGO DE ALMEIDA BRUNACCI. Adv (s).: (.). Intimem-se as vítimas Cristiano Caiado de Acioli e Tiago de Almeida Brunacci para que informem se possuem interesse no prosseguimento do processo quanto…

Em outro registro, o prezado aparece como “Autor do Fato”: CRISTIANO CAIADO DE ACIOLI.

Confuso, certo?

Cristiano Caiado de Acioli — "O dono do Conjur é o jornalista Márcio Chaer, proprietário também de uma assessoria de imprensa, a Original 123. O site foi acusado de publicar informações distorcidas, agindo como assessoria dos clientes da Original 123.

Retifico, essa informação procede?

ConJur — Sim, sim. É tudo verdade.
Cristiano Caiado de Acioli — O senhor sem dúvida alguma é muito brilhante.

ConJur — Mas continua a dúvida (veja, estou perguntando sem rodeios): em 2013 você foi vítima ou ator?
Cristiano Caiado de Acioli —
Considerando que a Justiça não entendeu haver crime, não poderia lhe responder isso.

ConJur — É que logo pensei que o prezado teria ido gravar um policial. Mas o oponente era policial, certo?
Cristiano Caiado de Acioli —
Sr. Márcio, grande jornalista, amigo de ministros e reis, por favor, me pergunte de ontem. O senhor já entrevistou o meu irmão…

ConJur — Vamos lá: o que o prezado sentiu depois de tentar gravar o ministro e ter sido detido?
Cristiano Caiado de Acioli —
Em qual sentido?

Márcio, a propósito, a minha mãe, Helenita Acioli, é muito amiga de um amigo seu, o ministro Gilmar. Olha que coincidência.

ConJur — O prezado sentiu-se bem por confrontar pessoa com cuja conduta você discorda e repudia?

(sem resposta)

ConJur — Cristiano, agradeço pela sua atenção. Escreverei sobre o processo e sobre o inquérito, ok?

ConJur — Cris, sobre ontem, o prezado pode dizer que se orgulha da sua iniciativa?

(sem resposta)

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