Declarações polêmicas

Eleição para governador da Flórida começa quente e ofusca pleito de outros estados

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30 de agosto de 2018, 11h30

A campanha eleitoral para o governo da Flórida começou mal… e quente. Logo depois de vencer as eleições primárias do Partido Republicano, na terça-feira (28/8), o candidato Ron DeSantis fez uma declaração explosiva. Em entrevista à Fox News, disse: “A última coisa que devemos fazer é ‘macaquear’, tentando abraçar uma agenda socialista”. Ele se referia a uma possível eleição de seu oponente, o candidato democrata Andrew Gillum, que é negro.

Para esclarecer melhor, DeSantis usou a expressão “to monkey this up”, que não significa exatamente “macaquear”, mas também não tem uma tradução exata em português. A ideia que ela dá, buscando-se um equivalente no Brasil, é a de que não devemos colocar um macaco em loja de louças. Em outras palavras, não devemos virar o status quo de cabeça para baixo.

Obviamente, o clima ferveu. Afinal, é uma ofensa intencional, mundialmente reconhecida, chamar uma pessoa negra de macaco, como se tem visto no futebol. Gillum respondeu dizendo que os eleitores da Flórida não querem um governador misógino (que odeia mulheres), racista e intolerante.

Na quarta-feira (29/8), DeSantis voltou cedo à Fox News, emissora que apoia os republicanos-conservadores, para se explicar. Disse que não se referia à pessoa do candidato democrata, mas ao seu posicionamento político e à sua plataforma de campanha. E que ele pode reverter anos de domínio republicano na Flórida.

Para a campanha do Partido Democrata, ele explicou, mas não justificou. O que ele fez, segundo os democratas, é chamado, em política, de dog whistle — literalmente, apito de cachorro. Esse apito só é ouvido pelos cães e, por isso, a expressão se refere a mensagens cifradas, que são enviadas especificamente para um grupo de pessoas. E elas, e ninguém mais, as entendem perfeitamente.

Nesse caso, a mensagem cifrada teria sido enviada a uma das bases eleitorais do presidente Donald Trump, formada por grupos pertencentes à supremacia branca e organizações neonazistas, entre outros.

Imediatamente, a eleição para governador da Flórida suplantou, no noticiário, a dos demais estados (entre eles os que tiveram primárias também na terça-feira).

Mas, além do início agressivo da campanha eleitoral, há um outro aspecto que pode tornar a eleição da Flórida especial: um confronto adiantado do que poderá ser as eleições presidenciais de 2020, em que uma possível disputa será entre o candidato à reeleição Donald Trump, do Partido Republicano, e o senador democrata Bernie Sanders.

DeSantis venceu as primárias republicanas na Flórida, porque teve o apoio declarado, pelo Twitter, do presidente Trump. Até receber esse apoio, estava mal colocado nas pesquisas de intenção de voto, mesmo em segundo lugar. Mas ele é um aliado fervoroso de Trump, a ponto de, em um anúncio de campanha, aparecer ensinando a filha a construir um muro — em referência à luta de Trump para construir um muro em toda a fronteira com o México.

O candidato democrata, por sua vez, estava pior ainda nas pesquisas eleitorais — entre quarto e quinto lugar. Ele não tinha dinheiro para anúncios na TV e concorria com candidatos ricos, como o ex-prefeito de Miami Beach Philip Lavine, que investiu US$ 29 milhões em sua campanha, e o bilionário Jeff Greene, que gastou US$ 38 milhões.

Porém, Gillum, um político da ala progressista do Partido Democrata — isto é, com tendências socialistas — recebeu, repentinamente, doações dos bilionários George Soros e Tom Steyer — além do apoio declarado de Sanders, que fez muito sucesso na campanha eleitoral de 2016 à Presidência, com suas propostas consideradas “socialistas” nos EUA.

Ele mobilizou, principalmente, o eleitorado jovem (notadamente os estudantes) com suas ideias de seguro-saúde universal (isto é, gratuita para todos os que não podem pagar companhias privadas) e educação gratuita em todos os níveis, para quem não pode arcar com os custos de faculdades particulares — à semelhança do Canadá.

Mas Sanders perdeu as primárias democratas para a candidata Hillary Clinton. Frustrados, os estudantes se refugiaram nas salas de aula e não foram votar, em maioria — o que ajudou o candidato republicano Donald Trump.

Uma fatalidade, porém, voltou a energizar os estudantes politicamente. Em fevereiro, 17 estudantes e professores de um colégio em Parkland, Flórida, foram assassinados por um atirador — e outros 17 foram feridos. Desde então, os estudantes da escola iniciaram uma campanha política a favor da regulamentação da posse e porte de armas no país.

A campanha repercutiu entre os estudantes de todo o país e se tornou um movimento. Os jovens estudantes se tornaram mais politizados. E a luta deles desfavorece o candidato republicano, que é abertamente contra qualquer regulamentação da posse e porte de arma, tal como seu ídolo, o presidente Trump.

Se o candidato democrata ganhar a eleição para governador na Flórida, o senador Bernie Sanders será o favorito dos liberais nas eleições primárias do partido em 2020. E em novembro deste ano, a eleição presidencial poderá ser Sanders versus Trump — dois polos opostos na política dos EUA.

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