Opinião

Luto nas Arcadas: as memórias de um franciscano da gema

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  • é sócio do Tucci Advogados Associados ex-presidente da Aasp professor titular sênior da Faculdade de Direito da USP membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e do Instituto Brasileiro de Direito Processual e conselheiro do MDA.

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23 de agosto de 2018, 12h44

Onde é que mora a amizade
onde é que mora a alegria
no Largo de São Francisco
na Velha Academia!

Nem sempre!

Bandeiras à meia-haste, as Arcadas de São Francisco, enlutadas, pranteiam a morte de um de seus mais destacados antigos alunos: Otavio Frias Filho, da turma de 1980.

Meu dileto calouro, que já na Faculdade de Direito despontava ser dotado de inigualável talento, no início da década em que o Brasil pressentia a erosão do regime militar e o prenúncio do fim da censura, construímos, ele e eu, forte vínculo de mútuo respeito, que perdurou, cada qual trilhando o seu diferente caminho, até ser ele ceifado pela perversidade do destino.

Não foi passageiro o nosso convívio como acadêmicos da São Francisco. Sonhávamos com um Brasil melhor e menos injusto! Vivemos dias memoráveis sob as Arcadas, desde a troca de impressões acerca das regras de Direito e da didática dos mestres que pontificavam àquela época, até as peripécias do “dia do pendura”, na semana do 11 de Agosto. Fazíamos política acadêmica, às vezes em lado opostos, sendo que com Otavio Frias Filho aprendi, entre outras virtudes, a ter paciência, simplesmente porque ele também tinha o dom do diálogo, diálogo construído com argumentação inteligente e persuasiva…

Jovem de envergadura moral inabalável e de sólida cultura clássica, teve trajetória profissional invejável: modernizou o jornalismo, escritor cativante, na política, na ficção e na literatura infantojuvenil. Otavio Frias Filho fomentou o teatro brasileiro, não apenas como autor de peças importantes, mas também como protagonista.

Foi, contudo, como diretor de Redação da prestigiosa Folha de S.Paulo, mantendo a coerência evidenciada nos bancos acadêmicos, que lutou decididamente por uma linha de jornalismo aberta e republicana.

Reverencio nesse momento de profunda tristeza a memória de um franciscano da gema, que se orgulhava da velha academia e que agora deixa enorme saudade, na certeza de que a saudade é a maior prova de que o passado valeu a pena!

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