Delação de Funaro

Aasp é a terceira entidade a defender criminalista Mariz de Oliveira

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29 de setembro de 2017, 14h05

A Associação dos Advogados de São Paulo é mais uma entidade a defender o criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Ele foi acusado pelo doleiro Lúcio Funaro, seu ex-cliente, de repassar informações de sua delação ao presidente Michel Temer, cliente e amigo pessoal.

Nelson Jr./SCO/STF
Mariz foi acusado por Funaro de ter alertado o Palácio do Planalto sobre o acordo de delação firmado pelo doleiro.
Nelson Jr./SCO/STF

"A Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp) manifesta, publicamente, solidariedade e apoio ao referido advogado, que há décadas exerce a advocacia com retidão e estrita observância à ética, defendendo incansavelmente as prerrogativas da classe e tendo, inclusive, presidido esta Casa e a OAB/SP", afirma a entidade.

Antes de defender Temer contra acusações relacionadas à operação "lava jato", Mariz representou Funaro, mas o advogado foi substituído após o doleiro decidir fazer delação premiada. Por causa dessa colaboração, que cita Temer, o criminalista deixou a defesa do presidente em relação a esse caso (assumida pelo criminalista Eduardo Pizarro Carnelós).

Segundo Mariz, a acusação de Funaro causa "grande indignação" porque seu antigo cliente mentiu em suas afirmações sobre ele. O criminalista contou que o próprio Funaro lhe avisou sobre as negociações para fazer uma delação premiada ao enviar-lhe uma troca de mensagens com outros advogados sobre o tema.

No e-mail, contou Mariz, Funaro escreveu "para seu conhecimento". "No entanto, não comuniquei este fato ao Sr. Presidente, que, repita-se, não estava respondendo a nenhum procedimento e não era meu cliente. A realidade dos fatos teria sido revelada se eu houvesse sido consultado", disse o advogado.

Pouco tempo depois, continuou, Funaro teria telefonado "aos berros" afirmando que ele, Mariz, teria informado ao Palácio do Planalto sobre a suposta delação. Entretanto, conta o advogado, o próprio Funaro ligou minutos depois dizendo ter se enganado, pois havia descoberto que não teria sido Mariz o responsável pelo "vazamento".

"Agora, para minha estupefação, quando de sua efetiva delação, deu uma versão que havia sido desmentida por ele mesmo", afirmou Mariz. O advogado lembra que, durante quase 50 anos de advocacia, jamais infringiu qualquer preceito ético, inclusive o sigilo profissional.

Mariz foi presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil por dois mandatos e, entre colegas, é apontado como exemplo de criminalista. As acusações contra ele, dizem conselheiros, mostram a necessidade de regulamentar as colaborações premiadas, que acabam ganhando status de verdade antes mesmo de serem confrontadas com provas.

Antes da Aasp, a OAB-SP e o Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp) se manifestaram a favor de Mariz. A Ordem repudiou as acusações de Funaro e a maneira como os fatos narrados pelo delator foram divulgados pela imprensa.

Já o Iasp destacou que o caso "é uma estratégia clara de ataque" à advocacia. "As instituições têm sido sequestradas por algumas pessoas para atingir a objetivos que não interessam ao país […] O Dr. Mariz teve sua história e idoneidade colocados em xeque por uma pessoa que é um bandido."

Leia a nota da Aasp:

Nota de apoio ao Dr. Antonio Cláudio Mariz de Oliveira

Parte da imprensa veiculou, nesta semana, notícias de que a delação de Lúcio Funaro conteria acusações envolvendo a atuação profissional do advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira.

A Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) manifesta, publicamente:

— solidariedade e apoio ao referido advogado, que há décadas exerce a advocacia com retidão e estrita observância à ética, defendendo incansavelmente as prerrogativas da classe e tendo, inclusive, presidido esta Casa e a OAB/SP;

— preocupação com sucessivas divulgações seletivas e parciais de acusações duvidosas, desprovidas de provas ou de investigações mais profundas, que apenas provocam especulações desnecessárias, aumentando a instabilidade pela qual passa o país; e

— esperança de que todos — advogados, magistrados, acusadores, acusados e profissionais da imprensa — tenham consciência da importância de suas atividades, devendo contribuir para a apuração dos fatos com absoluta lisura, ética, razoabilidade, discrição e respeito ao sagrado preceito da presunção de inocência".

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