Depoimento a parlamentares

Miller não foi preso para poupar Janot, diz Ângelo Vilella em CPMI da JBS

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18 de outubro de 2017, 11h19

“Se prendessem Miller, ele entregaria Pelella, que entregaria Janot”. A fala é do procurador da República afastado Ângelo Goulart Vilella, em referência ao ex-procurador Marcelo Miller, o ex-chefe de gabinete da Procuradoria Geral da República e seu chefe Rodrigo Janot, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS nesta terça-feira (17/10). O procurador ficou preso 76 dias por suspeitas de ter recebido suborno para repassar informações sigilosas sobre a operação greenfield aos donos do frigorífico.

Sempre negando que tivesse sido “infiltrado” na greenfield, comparou sua situação, preso por força de um mandado de prisão preventiva, com a do colega Marcelo Miller, que aparece em quatro horas de gravação em diálogos comprometedores. Segundo ele, Miller foi alvo apenas de um pedido de prisão temporária, negado pelo ministro Edson Fachin, do STF, sem que o MPF recorresse da decisão, como costuma fazer. Foi nesse momento que Vilella detalhou sua opinião sobre o motivo de Miller não ter sido preso.

Em depoimento que durou mais de oito horas, o procurador reafirmou que ele e o advogado Willer Tomaz de Souza teriam sido presos numa ação tramada pelo ex-procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para tentar inviabilizar a indicação de Raquel Dodge para a PGR — “nem que para isso fosse necessário derrubar o presidente Michel Temer”.

Na parte secreta da reunião desta terça, Vilella disse ter ouvido do então chefe de gabinete de Janot, Eduardo Pelella, poucos dias antes de vir à tona a gravação da conversa de Temer com o empresário Joesley Batista, que este não se preocupasse com a situação de Raquel, àquelas alturas candidata a lista tríplice na eleição da PGR: “Nós vamos derrubar o presidente”, teria afirmado Pelella.

O procurador ficou preso 76 dias por suspeitas de ter recebido suborno para repassar informações sigilosas sobre a operação greenfield aos donos da JBS. Ele disse que, além de adversário de Raquel Dodge, Janot tinha notória antipatia pela sucessora e agiu “com o fígado” para, com sua prisão, dar uma demonstração que cortaria na própria carne para atingir seus objetivos.

O ex-PGR agiu, segundo Vilella, movido pela política. “Não vou entrar no mérito da denúncia, mas ele atuou para impedir que o presidente deixasse de indicar a doutora Raquel. Ele tinha pressa e precisava derrubar o presidente”, afirmou.

Indagado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se não teria traído a confiança de seu colega, o procurador Anselmo Lopes, que coordenava a Greenfield, quando gravou uma conversa com este, colocando o diálogo no viva-voz do gravador do celular para que Willer e o advogado Francisco de Assis Silva, da JBS, ouvissem, Vilella chorou. Traição, segundo afirmou, foi prendê-lo.

O procurador se enrolou ao tentar explicar porque agiu sozinho, sem comunicar a qualquer colega, a iniciativa de reunir-se com Willer e o advogado da JBS. Disse que como integrante da força tarefa da greenfield se sentia com liberdade para isso, mas se fosse hoje, talvez não tivesse ido.

O depoimento de Vilella agradou governistas e oposicionistas que se concentram em levantar os erros do MPF para propor uma revisão na Lei 12.850, que criou a delação premiada. Mas foi visto com reservas pelos parlamentares que correm por fora, como o deputado Delegado Francischini (SD-PR), que acha que Vilella dedicou-se a se defender.

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