Superprodução de bacharéis

Quantidade de "advogados excedentes" nos EUA é grande, aponta estudo

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3 de junho de 2017, 9h07

Mais da metade dos advogados não exerce a profissão em nove estados dos Estados Unidos. A média nacional de advogados inscritos na American Bar Association (ABA – a ordem dos advogados dos EUA) que não atuam na advocacia é de 38,6%. São 1.257.511 advogados, dos quais 771.910 exercem a profissão e 485.601 não encontraram emprego ou buscaram outras carreiras.

De acordo com a organização The Last Gen x American, que fez o levantamento dos advogados inscritos na ABA, comparando-os com os dados do Bureau of Labor Statistics (para apurar a quantidade de advogados ativos) e do U.S. Census Bureau (que traz a população dos estados e permite avaliar o número de advogados atuantes por 10 mil habitantes), o excesso é uma consequência da superprodução de bacharéis.

Para a organização, existem algumas razões básicas para tantos advogados não exercerem a profissão. A mais óbvia é a de que não encontraram emprego na área depois de se formarem — e buscaram outros empregos para poder pagar a dívida do curso. Existe até uma brincadeira que diz: trate bem os garçons em Nova York; ele pode ser um advogado (são 90.830 advogados não atuantes no estado).

Outra razão é a de que muitos advogados, por vontade própria, se tornam juízes (promotores e procuradores são contados como advogados), políticos, empresários e outras carreiras nas quais têm facilidade de ingresso por sua formação em Direito.

"Como sempre aconteceu, a vida leva muitos advogados a aceitar cargos fora de sua área de interesse ou porque rejeitam empregos em funções que exigem menos qualificações do que as que têm. Aceitam empregos em que a formação jurídica é um “plus”, mas não uma exigência. Bancos, companhias de seguro, corretoras imobiliárias, órgãos governamentais e uma variedade de organizações costumam contratar advogados para exercer funções não advocatícias", diz a The Last Gen X American.

Também existem bacharéis que simplesmente optam por não fazer carreira na advocacia, mas que gostam de manter seu registro na ordem por razões pessoais, como a de ter um título.

O levantamento soma aos 50 estados americanos Porto Rico, que é um território não incorporado dos EUA, e o Distrito de Colúmbia (D.C.), que corresponde ao distrito federal dos EUA. E Porto Rico, por sinal, é o território mais ocupado por advogados que não exercem a profissão – representam 68,9% da população de advogados do território.

Os demais estados com mais da metade dos advogados fora da profissão são Alasca (56,7%), Tennessee (53,6%), Alabama (51,5%), Missouri (50,8%), Louisiana (50,5%), Maryland (50,3%), Massachusetts (50,1%) e Minnesota (50,0%). A presença dos três últimos estados nessa lista dos “nove mais” negativos é um tanto surpreendente, porque são estados que estão entre os mais desenvolvidos.

No entanto, há estados em que faltam advogados, quando se examina o número de advogados por 10 mil habitantes. Esse é o caso dos estados de Delaware (déficit de 22,9%), Dakota do Norte (déficit de 8,8%) e Rhode Island (déficit de 0,7%). O levantamento não obteve dados de Idaho e West Virginia (N/A – not applicable, not available ou não aplicável/disponível).

Clique aqui para ver os dados.

O D.C. tem 681.170 habitantes e 52.71 advogados — um índice de 773,8 advogados por 10 mil habitantes. Em comparação, a Califórnia, o estado mais populoso dos EUA com 39.250.017 habitantes (e que seria a 5ª maior economia do mundo, se fosse um país), tem 167.690 advogados — um índice de 42,7 advogados por 10 mil habitantes.O levantamento também traz um quadro com a população de cada estado, a população de advogados residentes no estado e o número de advogados por 10 mil habitantes. O Distrito de Colúmbia, o distrito federal dos EUA, é disparado o “território” com mais advogados por número de habitantes (por que será?).

No outro extremo, o índice de advogados por 10 mil habitantes é significativamente menor em alguns estados, como Carolina do Sul (20,6), Dakota do Norte (22,0), Idaho (22,1) e Dakota do Sul (22,6). A índice médio nacional é de 40,3 advogados por 10 mil habitantes.

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Uma crítica que alguns advogados fazem — mas que a maioria da advocacia rejeita — é a de que muitos advogados estão desempregados porque não querem ir para estados menos desenvolvidos, como as Dakotas e Idaho.

A quantidade de “advogados excedentes” nos EUA caiu nos últimos anos — e tende a cair ainda mais no futuro — porque o número de matrículas nas faculdades de Direito vem caindo consistentemente, ano após ano, devido à insatisfação dos bacharéis, que se refletem nos estudantes que terminam os cursos colegiais.

A última informação que eles têm é de que o empregou rareou no país. Assim, os estudantes que optavam pelo curso de Direito só porque essa é uma profissão prestigiosa, estão buscando prestígio em algum outro lugar.

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