Proibir delação premiada de preso restringe direito de defesa, diz Marcelo Bretas
14 de julho de 2017, 12h06
A proposta de proibir que preso firme acordo de delação premiada, apoiada pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é inconstitucional, pois restringe o direito de defesa do acusado, afirmou o juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o responsável pela operação “lava jato” no Rio disse que a colaboração premiada é um instrumento de defesa. Portanto, se o suspeito decidir confessar seus crimes e entregar seus parceiros na prática deles, essa é uma opção legítima, e que deve ser respeitada, independentemente de ele estar detido ou não.
“Se você proíbe um réu preso de fazer [delação], você está restringindo a ampla defesa, e você não pode proibir isso. Para proteger outras pessoas, está negando o direito de defesa a uma pessoa que quer colaborar”, apontou.
O juiz federal também avaliou que embora a Lei das Organizações Criminosas permita que o termo de cooperação seja firmado com a polícia, ele só é realmente eficaz se o Ministério Público apoiar a negociação. Caso contrário, o órgão – que tem a prerrogativa de promover a ação penal – pode, por conta própria, abrir investigações e oferecer denúncias contra o delator.
Bretas também defendeu limitar o foro por prerrogativa de função – tema da Proposta de Emenda à Constituição 10/2013 e de uma questão de ordem na Ação Penal 937, em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo o juiz, essa mudança aumentaria a qualidade das investigações, pois tribunais não têm a estrutura e a especialização que a primeira instância tem, nem devem ficar sobrecarregados com tais casos. Além disso, o responsável pela “lava jato” no Rio rebate o argumento de que a redução do foro especial possa dar margem a abusos de magistrados de primeiro grau.
“O foro privilegiado é uma forma de proteção a autoridades e eu acho que em regra os juízes de primeira instância não são tão irresponsáveis assim. E sempre haverá acesso aos tribunais e ao próprio Supremo. E toda a estrutura do Judiciário que está acima do juiz de primeiro grau vai continuar funcionando, com a importância. Então eu tenho a impressão de que politicamente, isso não é jurídico, é um privilégio que tende a não se sustentar”.
Marcelo Bretas ainda declarou que os investigados lutam para fugir da “lava jato” e da 7ª Vara Federal Criminal. “Porque quando você está muito especializado e em cima [da investigação] isso não costuma ser bom para as defesas”, disse ao Valor.
ainda estimou que a sua primeira sentença do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) – ele já foi condenado a 14 anos e dois meses de prisão pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba – deve sair em agosto.
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